Um dia de paixão - conto

Parte - 03

15:00 de uma tarde de surpresas

Alex

Alto, ombros largos, barba cerrada, cabelos escuros – um pouco acobreados nas pontas –, e tem olhos azuis. Fico me perguntado, de onde sai esse deus grego? Sim, porque é um homem lindo, carrancudo e com cara de quem chupou limão azedo, mas é lindo. Nunca pensei que seria gay. Dessa vez meu radar falhou, e falhou bonito. Otávio Alcântara tem um papo legal e um sorriso desarmador. Ele me conta um pouco de sua história enquanto conversamos sentados nas banquetas do bar. Sua família o rejeitou por se assumir homossexual e seu casamento errôneo foi pior que um tiro no pé.

Dou graças a Deus por ter uma família que soube me aceitar. Não são todos que tem essa sorte.

Otávio me conta sobre seu hobby que é lutar jiu-jitsu. Ele quase foi para as olimpíadas de Sidney, mas por conta de uma lesão no joelho teve que parar de competir e acabou se dedicando em outras áreas. Hoje está formado em administração e pretende seguir na área da contabilidade, ou pelo menos, pretendia. O coitado foi demitido de uma forma injusta. Se eu fosse assediado do jeito que ele foi, com certeza agiria da mesma forma. As mangas de sua camisa social branca estão dobradas até os cotovelos, e noto uma tatuagem em seu braço esquerdo. É o desenho de um dragão envolvendo uma espada. Não achei prudente perguntar sobre o significado dessa tatuagem, mesmo ele sabendo de quase toda minha vida, tatuagem é uma coisa muita íntima para sair por ai perguntando, eu acho. Otávio se serve do seu petisco e parece que sua fome não foi saciada, também pudera, com esse tamanho todo deve comer um boi inteiro. Ele bebe mais um gole de sua cerveja Corona – deve ser a terceira ou a quarta cerveja, me perdi na contagem das garrafas –, coloca a mão para segurar o arroto e acho engraçado como seu pescoço fica avermelhado quando faz isso. O carrancudo de olhos azuis é um autentico machão, com um sorriso de dentes perfeitos, mas é um machão e nunca na minha vida suspeitaria que ele fosse gay. Seus olhos tem o mesmo brilho do seu sorriso, é espontâneo. Toma o último gole de sua cerveja e saboreia o derradeiro pedaço de calabresa com uma solitária batata frita da sua segunda porção do tira gosto. Ele vai pedir algo para comer, agora um prato de verdade e não um tira gosto. Eu dou uma sugestão de uma farofa de farinha de milho e carne seca, Otávio assente e faz o pedido. Olho no relógio e já são três da tarde, na verdade, já passa um pouco das três. Não percebi que passei tanto tempo conversando com Otávio. Levanto-me das baquetas – Otávio se assusta um pouco, achando que eu fosse embora de uma vez –, e sigo para o lado de dentro do balcão. Tenho que ajudar no atendimento do bar. Estranho é meu pai não ter me chamado para ajudar, nem pra fazer algum mandado fora do bar ou outra coisa. Começo a limpar o balcão e a servir alguns clientes enquanto Otávio espera sua refeição. Outra coisa que não pude deixar de notar foi o quanto o carrancudo bebeu, e não ficou bêbado. – Ele tem fígado de aço, só pode ser isso – Ele sorri quando o encaro as vezes, devolvo o sorriso. Otávio lança-me olhares que me deixam, um tanto, desconcertado. Nunca fiquei assim diante de homem nenhum, mas com ele é diferente e não me perguntem o porque, só sei que é diferente. Sirvo duas cervejas a dois clientes que se sentam na ponta esquerda do balcão. Depois recolho os copos de outros clientes que já deixaram o bar e por ai vai. Sigo essa rotina todos os dias, mas hoje tem um convidado especial, não sei se é tão especial... enfim, é melhor mudar os pensamentos. Olho o relógio na parede do bar e já passam das três e vinte da tarde. Sigo com meus afazeres e o pedido do Otávio chega no momento que estou servindo uma dose de uísque escocês a um senhor de meia idade que parece ter vindo de alguma empresa da região, está com uma cara nada amigável. – será que teve um dia ruim igual ao Otávio? – Acho que o dia de hoje não está legal pra quem trabalha nas empresas da região. Paro em frente a Otávio e o observo comer, tão lindo, tão ogro, tão perfeito.