Parte - 02

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11:30 da manhã do mesmo dia frio

Otávio

Passo a manhã toda nesse bar, conversando com o dono, que não para seus afazeres enquanto troca uma ideia comigo. Ele me conta sobre a história do seu casamento e como ficou viúvo; sobre a história do seu bar. Conta sobre quando seu filho se assumiu gay e parece ter orgulho do garoto quando conversa sobre isso. Enquanto muitos, como eu, sofrem com a rejeição dos pais e da família, o senhor Alexandre acolhe e apoia o filho. No meu caso, ainda é pior por causa do meu trágico casamento, mas isso são águas passadas. O senhor Alexandre me diz que deu seu nome ao filho e não se arrepende disso, muitos lhe falaram que não devia ter feito esse tipo de coisa, pois seu nome teria relação com um gay. Ele respondeu com um soco no meio das fuças de quem falou – esse coroa é dos meus!

— Nunca permiti que meu Alex fosse motivo de piada por ninguém. — Segura duas caixas com cerveja Corona e as põe em cima de um freezer enquanto conversa comigo. — Minha mulher tinha um problema e não podia engravidar e o Alex foi o que Deus me deu, então não o rejeitaria nunca. Confesso que no começo, a aceitação foi complicada. Nenhum pai quer que seu único filho homem transe e beije outro macho, mas com o tempo, superei e o aceitei como é. — Puxa uma caixa vazia de cima do freezer e abre a outra.

— Seu filho tem uma voz incrível. Ele já pensou em ser cantor?

— Como sabe que o Alex canta? Já esteve aqui outras vezes? — Se vira para me olhar de frente.

— Sim, já estive aqui e nunca esqueci esse dia. Seu filho cantava uma música do Queen em ritmo de soul. Porra! Aquilo foi demais! — Tomo mais um gole da minha terceira dose de Label 5.

— Os garotos começarão a ensaiar.

Ele aponta em direção ao minipalco que tem no canto do bar. Endireito-me na banqueta e fico de frente para o minipalco. A banda é composta por um baixista, um baterista, um saxofonista, um pianista e o vocalista que é o loirinho, ou melhor, o Alex. Eles começam a fazer a passagem de som e afinam os instrumentos. Piano, certo. Saxofone, certo. Baixo, um dos instrumentos que já toquei e adoro, está afinado, e a bateria certinha e no compasso.

Alex ainda não está com eles, pois ficou no depósito organizando o estoque; foi o que pai dele disse. Sinto um cheiro tão bom vindo da cozinha do bar que meu estômago já dá sinais de vida, ou melhor, sinais de estar morrendo de fome. A essa altura, o senhor Alexandre e eu nos tornamos bons amigos, e gostei de trocar uma ideia com o coroa. Um homem inteligente, educado e que ama tudo que o tem – as únicas coisas que tem –, o filho e o bar.

Uma das garçonetes começa a limpar as mesas e arrumar as cadeiras do lugar. O bar lembra muito os Pub's londrinos e os happy hours nova-iorquinos. Adorei esse lugar.

Olho no cardápio e peço uma porção de fritas com calabresa, um tira gosto bem brasileiro.

Meu pedido não demora.

Já estou aqui desde às nove e pouco da manhã, acabei ganhando cadeira cativa e a amizade do dono do lugar.

— Humm! Delicia! — digo ao receber minha porção de tira gosto.

— Bom apetite! — diz a garçonete.

Começo a comer e peço uma cerveja Corona ao barman que chegou a pouco para o seu turno. Ele me entrega a bebida e sai para atender outros clientes que começam a chegar. A hora do almoço se aproxima e muitas pessoas – maioria de trabalhadores das empresas da região –, chegam para o almoço. O bar começa a ficar cheio e observo todos os movimentos, de quem entra e sai pela porta da frente.

Um dia de paixão - contoOnde histórias criam vida. Descubra agora