Parte - 01

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08:00 de um dia frio e chato.

Alex

Inverno só é bom quando se pode ficar entre as cobertas de um grosso,enorme e aconchegante edredom. Ainda bem que tenho, além de um edredom, um pijama de moletom cinza – o meu pijama de estimação.

Preciso me levantar e ajudar meu pai a cuidar do bar, é o nosso ganha pão e o que paga minha faculdade. Olho para o despertador e são oito horas de uma manhã congelante, do dia onze de junho. Véspera dia dos namorados. Feliz é aquele que tem um cobertor de orelha para dormir de conchinha – não suporto dormir de conchinha, mas bem que hoje seria legal ter uma, de preferência com braços fortes e bem tonificados.

Levanto-me a contragosto, sem vontade ou bom humor para enfrentar o dia de hoje.Olho para cama e pode parecer estranho, mas ela me olha e ainda me chama "vem Alex, vem Alex" – isso não é de Deus –, resisto triunfante e corro para o banheiro. Antes, passo pela cozinha e dou bom dia ao meu pai. Nossa relação é a mais tranquila e respeitosa do mundo.

Depois que minha mãe morreu, meu pai e eu decidimos enfrentar tudo e a todos, juntos, até o preconceito por eu ser gay; aguentei muita coisa durante a adolescência, mas sempre tive o apoio do meu velho.No começo, quando me assumi, choquei boa parte da família, minha mãe chorou e meu pai adquiriu uma paralisia que só passou depois de duas horas. Não foi fácil, mas com o tempo nos acostumamos.

Olho-meno espelho – estou com uma cara de zumbi –, escovo os dentes,lavo o rosto e vou tomar café da manhã. Meu pai preparou uma mesa digna de um rei com tudo o que eu gosto. Inspiro o cheirinho de café misturado ao cheiro do pão fresquinho, delicia! Já acordei com fome, então quando se une a fome com a vontade de comer...

Como dois pães com queijo branco, suco de laranja, torrada com geleia e uma xícara de café.

— Dormiu amarrado? — meu pai pergunta.

— O senhor sabe que já acordo esfomeado, então... — Pego mais uma torrada e meu pai sorri.

— O estoque de cervejas vai ser reposto hoje. Entregarão o pedido por volta das duas da tarde. — Bebe mais um gole do seu café.

— As duas, pai? — Encosto na cadeira e deixo cair os ombros, chateado.

Quando há essas mudanças repentinas de planos no meu dia, eu fico muito puto. Estava programando outra coisa durante a tarde.

— Porque não entregam agora pela manhã?

— Alex,você sabe muito bem como são essas empresas de bebidas. E outra coisa — limpa a boca com um guardanapo —, essas bebidas são para a noite do dia dos namorados e só podiam entregar nesse horário. —Franze o cenho e conclui. — O que vai fazer durante a tarde?

Coço a cabeça e digo por fim.

— Ia sair com a Marisa.

— Ah,Alexandre! Você pode fazer isso outro dia.

— Ela pediu ajuda para comprar o presente de dia dos namorados — bufo enjoado.

Ele me chamou de Alexandre, fodeu!

Meu pai me olha sério, pega a xícara e toma mais um gole. Esse olhar já é um código de advertência, ou eu faço o que ele diz ou eu faço o que ele diz e ponto. Mesmo sendo muito amigo do meu velho, é ele que ainda manda nessa casa e no bar onde sou funcionário.

####

Saio de casa e sigo direto para a faculdade, hoje só vai ter uma aula de clínica médica e essa é uma das poucas matérias que não curto no curso de enfermagem. Depois tentarei ir com a Marisa até o shopping para comprar esse bendito presente para o namorado dela – aquele cavalo batizado.

Um dia de paixão - contoOnde histórias criam vida. Descubra agora