Capítulo 2

1.1K 43 13
                                    

Mais uma vez estou aqui eu para continuar a minha vida. Como se não bastasse, ainda tenho que ir para a escola. Sabe, fico imaginando: por que existe escola? A nova vida já nos ensina as coisas da vida. Me explique: por que eu tenho que saber sobre teorema de Pitágoras? Ele vai me ajudar a acender uma fogueira quando eu estiver quase prestes a morrer? Não! Minha cabeça dói e vou para a cozinha tomar café da manhã. Tomei a minha vitamina sabor laranja. Por que eu tenho que tomar vitamina? Bem, geralmente eu não ando comendo muito. Não gosto de comer. E elas me mantem "vivas". Ando até a sala para arrumar minha mochila jogada no sofá e vejo que meu pai está lendo jornal.

-Bom dia Coraline. Dormiu bem? -perguntou meu pai.

-Acho que sim. Contanto que tenho que aturar o ronco do Mr. Bobinsk ou sei lá como se fala.

-Nem me fale. Aquele bêbado vive roncando de noite e isso está me matando! -reclamou minha mãe na cozinha. -Deve andar voltando tarde para casa.

-Mãe, já disse que ele não é um bêbado. É apenas estranho...eu acho.

-Já que você ACHA, Coraline, que tal ir relatar a causa das minhas olheiras para ele? Aposto que já deve estar acordado.

Como se eu fosse um robô obedecendo as ordens da minha mãe, fui até a casa dele. Peguei meu moletom verde escuro e fui subindo as escadas. Estava frio. Parece que tinha geado de noite. Cheguei até a porta e bati três vezes. Nada. Resolvi bater na porta mais uma vez e chamar ele. Nada. Vi que a porta estava com um tipo de papel que impedisse que ela se fechasse. Ele provavelmente poderia ter quebrado a maçaneta ou coisa parecida. Entrei dentro da casa dele.

-Mr. Bobinsk? Você está aí? Preciso falar com você.

Ninguém respondeu. E parece que os camundongos saltadores não estavam lá também. Ele deveria ter levado eles para passear ou algo parecido. A loucura dele era tão absurda que podia se pensar em tudo. Resolvi deixar de lado e voltar para casa para avisar que ele não estava e pegar minha mochila.

Entrei dentro de casa e peguei minha mochila para sentar em frente da casa e esperar o ônibus chegar.

-E ele? Estava lá?  -perguntou minha mãe fazendo panquecas.

-Não. Deve ter saído para comprar pão ou algo do tipo.

-Deve estar num bar nessa hora...

-Eu duvido muito. É de manhã ainda. Vou indo. Tchau mãe, tchau pai.

Os dois de despediram e saí de casa e fiquei sentada na varanda esperando o ônibus. Enquanto isso fiquei ouvindo música para entrar no meu mundo. Apenas eu no meu mundo. Estava quase saindo da realidade quando o ônibus chegou. Entrei dentro e havia apenas o Wybie no ônibus. Eu e ele éramos os primeiros a entrar no ônibus. Acenei para ele e sentei ao lado dele.

-Bom dia flor do dia -disse Wybie brincando.

-Bom dia lesma do dia.

-Ah cara você ainda lembra das lesmas que eu pegava em frente da sua casa?

-E como eu poderia esquecer? Você me pediu pra tirar fotos e ainda tenho elas na câmera.

-Mas eu era criança

-Tem coisa que não muda

Se passou alguns minutos e o ônibus lotou como um estalo. Não demorou muito para chegar na escola. E é sempre a mesma coisa. Cheguei na escola, peguei meus materiais no armário e fui para a aula de geografia. Se passou muito tempo aturando a professora falando sobre o continente africano e suas regiões. Se passou aulas. Cheguei na aula de inglês. Resolvi ir ao banheiro. Ele estava vazio. Resolvi molhar a cara. Estava com a cabeça doendo levemente e o sono atrapalhava. Quando me virei para o espelho, vi o Mr. Bobinsk me pedindo ajuda, batendo no outro lado do espelho e com uma expressão assustada. Eu não consegui entender porque ele estava chamando ajuda. Fiquei preocupada com ele e saí rapidamente do banheiro, até que me trombei com Wybie. Minha respiração estava ofegante depois que eu tinha visto aquilo no espelho. Estava quase chorando.

-O que aconteceu? Você está bem? Está passando mal?

Eu não consegui responder. A única coisa que eu consegui fazer foi abraçar ele. Não sei o porque mas foi por puro impulso. E ele começou a me aconchegar e uma pequena lágrima saiu do meu olho esquerdo. Percebi o que estava acontecendo e enxuguei minha lágrima rapidamente e me afastei dele.

-Desculpa por isso. -disse, enxugando minha lágrima com a mangá do moletom.

-Não tem problema. Mas você está bem agora?

-Mais ou menos. Preciso resolver algumas coisas em particular. -falei voltando para a sala, mas Wybie me segurou pelo pulso e me disse:

-Você pode contar comigo, certo?

Concordei com a cabeça e voltei para a sala.

Se passou o intervalo e o resto das aulas e voltei rapidamente para casa com uma bicicleta que peguei emprestada. Cheguei em casa. Meus pais não estavam. Só voltam de noite. Subi rapidamente as escadas e fui procurar novamente o Mr. Bobinsk. Não achei. Olhei para a porta aberta e o por do sol estava mirando no papel que segurava a porta e que estava agora caído no chão. Resolvi abrir o papel e comecei a ler. No instante que li, comecei a mudar de expressão. Uma expressão assustada. Era um pedido de socorro dos camundongos. Depois de ter lido a carta, vi que alguma coisa havia caído em meus pés. E como se o sol adivinhasse o que caiu, ele fez a minha sombra formar uma mão de agulha. Era a chave de Otherland que havia caído sobre meus pés.

Coraline e a Volta ao Mundo SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora