Coraline e a Volta ao Mundo Secreto

Capítulo 6

A irritação na minha pele por conta de uma cicatriz ganhada em arbustos venenosos á procurar de ervas medicinais começou a coçar me fazendo acordar do meu pequeno cochilo que resolvi tomar um tempo. A sensação de desnorteamento logo ao acordar tomou o meu corpo. Quando me dei conta percebi que estava sentada na grama fria, encostada em um tronco de uma árvore frondosa e que serviu de abrigo para mim e Cheshire, que estava deitado e febril em minhas pernas desleixadas, por sinal. 

-Chess, por que você teve que fazer aquilo? Digo, você mal chegou e já se machucou gravemente...

Apenas seus pulmões se moviam, igualmente para seus cabelos negros que balançavam com o vento leve que começara a aparecer lentamente. Preocupação é a palavra certa para descrever o que estou sentindo em êxtase no momento. Temos no caso: Wybie, que está desaparecido no momento depois daquele roedor colossal ter conseguido pegá-lo; depois temos aqui Cheshire gravemente ferido, dormindo profundamente, ou talvez até desmaiado, e dependendo de ervas medicinais para sobreviver a uma pós-mordida. E ainda havia me esquecido por um instante de Mr. B batendo freneticamente no espelho do colégio pedindo ajuda.

Todos esses acontecimentos estão ligados á este mundo, percebi. Penso se a filha da Bela Dama está conseguindo nos observar da mesma forma que sua mãe fazia quando tentou me manter presa neste local, acho que a resposta seria um sim absoluto por conta de todos estes acontecimentos em um mesmo dia. Se eu não tivesse entrado neste mundo, será que tudo seria normal? Nada disso ocorreria? Óbvio que ver um rato gigante rondando por aí seria fora do normal. Mas não digo nesse sentido, estou querendo saber é se alguma coisa de ruim aconteceria com ambos como aconteceu agora. E se acontecesse e não estivéssemos aqui, seria a minha culpa pelos acontecimentos supostos? Ou será que até aqui, em Otherland, sou a culpada? 

Começou a ventar um pouco mais forte, mas ainda sim permanecendo calmo. Assim que o vento resolveu sussurrar um pouco mais alto, Chess acordou como que o vento o tivesse acordado, falando coisas em seus ouvidos como um "Ei! Acorde, seu gatinho preguiçoso". Mas acho que essa seria a minha vontade, o desejo de dizer isso á ele. De acariciar seus cabelos negros como se fosse a única maneira de me acalmar naquela situação. Dito e feito. 

-Ei! Acorde, gatinho preguiçoso. -exclamei acariciando seus cabelos.

Ele foi acordando lentamente, com os olhos sentindo uma leve preguiça para abrirem-se. Acho que ele não me ouviu, senti um alívio no fundo. Não sei o porquê de eu ter dito aquilo, foi como um impulso. Me senti envergonhada no fundo dizendo coisas que nunca se passaram pela minha cabeça. Os olhos azuis ficaram á mostra olhando para mim como se estivessem imitando vigias, examinando cada detalhe presente. 

-Não me chame de preguiçoso só por eu ter tirado um cochilo depois de ser mordido no ombro. Eu tentei salvar a vida de Wybie e a sua também! -disse Chess, tentando se levantar rapidamente mas que soltou um grunhido de dor.

Profundamente senti um arrepio em minha coluna que me fez impedi-lo de tentar se levantar daquela forma, ajudando-o a erguer-se lentamente. Logo, peguei algumas folhas de carvalho que serviram como uma espécie de faixa e coloquei outra camada de confrei e eucalipto para ajudar na cicatrização e abaixar a febre, respectivamente.

-Me desculpe, eu só queria me distrair um pouco. Tenho que ajudar Mr. B e agora, Wybie. Não faço a menor ideia de onde ele pode estar e nem por onde começar. E ainda estou preocupada com seu ferimento. Mas eu entendo, não foi legal o jeito que te chamei.

-Preocupado é como vou ficar se você não cuidar dessa sua cicatriz avermelhada. O que foi isso? Um inseto de mordeu?

-Não, apenas me arranhei quando fui pegar algumas folhas. Mas o azar foi eu ter pego em um arbusto venenoso. Não é nada demais, uma cicatriz não vai fazer mal á ninguém.