Capítulo 5

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-Como você veio parar aqui? Aliás, por que você está aqui? Espera, você não é mais um animal. O que aconteceu com você?

-Se acalme, pequena tagarela. Muitas perguntas para poucas respostas. Irei responder uma a uma, pelo menos as que precisam ser respondidas.

-Prossiga.

-Cheguei até aqui do mesmo jeito que você, presumo. Estou aqui porque tenho o meu dever de te proteger, além de te seguir por todos os lados. Mas sobre a minha mudança de forma animal para um humano é algo que não consigo explicar.

-Deve ser feitiçaria, disse Wybie. Achamos cada coisa aqui que passa do apelido de "absurdo".

-Ah sim, é mesmo. Mr. Bobinsk foi pego por uma mulher ou um ser que, segundo meu raciocínio, é a filha da Bela Dama. Precisamos tirar ele de lá com algum plano.

-Espera, a Bela Dama tinha um amante ou algo do tipo?! Que absurdo... -disse Chess.

-Exatamente. Mas vamos focar no Mr. B. Ele está acorrentado neste exato momento em uma sala empoeirada, isso é, se a filha da Bela Dama não levou-o.

Nós fomos investigar mais profundamente a sala do piano. Vendo que não havia nada de interesse, fomos em rumo ao jardim. Estávamos preparados para alguma surpresa, como sempre. O clima do jardim não era nada agradável. O cheiro de bolor e apodrecimento pairava no ar como oxigênio sendo inalado por nossas narinas. A cada passo que alguém dava, se ouvia folhas secas se quebrando.

-Que horrível isso. Com certeza, este não é o jardim de antes. Ela deve ter mudado para pior este local.

-O clima está tenso. Isso me faz com que eu pense em alguém me observando da escuridão de cada moita que encontro. -comentou Wybie sobre seu desconforto.

-Se acalme. Lhe garanto que estão em boas mãos e em ótima companhia. Não foi a toa que afiei bem meus dentes. -Chess confessou de um jeito egocêntrico.

-Não me diga que você pretende morder alguém... Preciso te lembrar que você agora é humano e tem a ordem de se comportar como uma pessoa, e não um felino. Aposto que nenhuma gatinha sentiria algo por você. -brinquei um pouco para disfarçar o clima pesado.

-Isso é o que você pensa. Já conquistei várias felinas. Só não te mostrei porque não vejo a necessidade de algo desnecessário. Além disso, você tem muito o que aprender comigo para se conquistar uma pessoa. Está fazendo do jeito errado.

-O que? Eu? Espera, não entendi. Explique isso!

Wybie resolveu interromper a discussão infantil entre os dois:
-Odeio interromper e ser interrompido, mas acho que ouvi barulhos vindos da direção norte. Está vindo de uma moita, mas está longe e minha vista não coopera.

-Tudo bem. Vamos checar mesmo assim. Só quero que todos fiquem juntos e não se separem ou façam qualquer besteira.

Fomos andando juntos, como se fossemos chicletes um no outro. Começo a ouvir o barulho mais e mais vivo em meus ouvidos, ouvindo claramente o som dos galhos da pequenina árvore sendo quebrados. Algo está tentando fugir ou se aconchegar. Chegamos perto e paramos, mais ou menos, treze metros de distância da moita. Esperamos o nosso ser desconhecido se relevar para nós até sabermos que é seguro ou não. De repente, saiu apenas um mísero rato do arbusto.

-Sério que estávamos com medo de um camundongo inocente? -reclamou Wybie, não acreditando no desperdício de coragem e adrenalina que teve.

-Ora ora, o que temos aqui? Já vi que hoje é meu dia, ou melhor, noite de sorte. Obrigada, mãe natureza, por me oferecer esta oferta.

-Chess, pare com isso. Lembre-se de que é um humano agora e precisa respeitar a si mesmo.

Não durou muito tempo para o pequeno roedor se transformar em uma completa ratazana. Ou melhor, maior que uma ratazana. Nós ficamos paralisados de medo, mantendo os olhos fixados para aqueles olhos pretos do animal gigante. E ele só aumentava de tamanho.

-O que diabos está acontecendo?! -perguntou Wybie com a voz trêmula.

-Se acalme e não faça nenhum movimento brusco!

Mas era tarde demais. Wybie já estava correndo como nunca correu para escapar do túnel sem saída. Ele foi pego pelo gigante camundongo e estava sendo apertado por aquelas patas enormes. Gemendo de dor, pediu por socorro.

-Wibye! Não se preocupa, vou tirar você daí!

-Vamos brincar de esgrima, filhote de toupeira! -e Chess correu em direção do roedor, que atingira um alto tamanho.

Chess começou a mostrar suas garras que havia afiado como uma faca de corte fino e começou a arranhar o animal colossal como se fosse um brinquedo qualquer. Não demorou muito para que o rato não desse um alto ruído de dor. Na verdade, os cortes já estavam em fase de sangramento.

-Hahaha. Quem disse que perdi a prática de cortar?

O roedor olhou fixadamente para Chess e não demorou muito para que o animal desse um grande e surpreendente bote. Avançou com tal rapidez com um único objetivo: morder Cheshire. A meta foi comprida e mordeu profundamente Chess, que esbravejava de dor. Enquanto estava gemendo, o camundongo não exitou e foi embora, segurando Wybie em suas patas nojentas. Enquanto isso, o garoto não parava de gritar por ajuda, dizendo para encontrar ele.

-Wybie!! Aguente firme. Vou buscar você! Seja forte e não morra!! Por favor...

O rato colossal havia desaparecido pelo horizonte, saindo do jardim por completo. Perdi uma noção do tempo por poucos minutos, imaginando o que aconteceria com ele e me perguntava se ele ficaria bem. Estava em busca de um trevo para dar-lhe como amuleto da sorte. Mas lembrei que Cheshire havia sido ferido gravemente e estava gemendo de dor.

-Chess! Oh meu deus. Você está bem?

-Não exatamente, já que fui mordido!! Ah, como dói! -gritou de dor.

Cheshire ficara ferido no ombro esquerdo, onde foi penetrado pelos dentes do roedor que mordeu-o sem piedade. Não sabia o que fazer. Estava sangrando incessantemente. Mas lembrei das técnicas que meus pais haviam escrito e falado para mim sobre botânica, que certas plantas servem como um medicamento e um remédio para sua saúde e estado físico. Sem pensar duas vezes, fui à procura de ervas daninhas para amarrar uma folha de carvalho, que iria servir como pano intermediário.

-Você está melhor? Por favor, responda...

Mas ele havia caído no sono, corado e com a expressão de dor e desconforto em seu rosto. Havia perdido muito sangue. Poderia pegar alguma febre com o machucado não tratado da maneira correta. A única imagem que eu podia imaginar era eu, sentada debaixo de um carvalho com Cheshire deitado em meu colo. Não demorei para cair no sono e pensar em um plano para salvar meu amigo...


Coraline e a Volta ao Mundo SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora