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O sol ainda não tinha dado as caras quando acordei com um pulo seco. Um estampido forte cortou o silêncio da manhã, seguido por outros dois, rápidos e abafados. Tiros.
Sentei  na cama com o coração disparado, a respiração presa no peito e os olhos tentando se adaptar à pouca luz do quarto. O ventilador girava devagar, como se o tempo tivesse parado, mas lá fora… o mundo gritava. As crianças dormiam, Akira já estava com sua cabeça levantada e atenta.
Mais um disparo.
E o primeiro pensamento veio como um soco: “Meu pessoal". Sai catando meu celular e fui pra fora do quarto. Abri o ZAP e tinha várias mensagens apagadas do Henrique, mas ele tinha mandado ainda era duas da manhã.
Tentei ligar pra Hyurica. Chamou uma vez. Duas. Nada.
Hadassa: Atende… pelo amor de Deus, atende…
Finalmente, na terceira tentativa, ela atendeu ofegante.
Hyurica: Dassa… já tô subindo, tô bem! Foi correria aqui, geral correu, mas eu tô bem!
Hadassa: o que aconteceu?
Hyurica: Caveirão subiu.
Hadassa: Minha mãe? Wendel? Henrique tava no baile?
Hyurica: Mãe foi embora cedo. Wendel e Henrique correram, não sei se ficaram na trocação não. Consegui chegar em casa, vou mandar mensagem aqui pras meninas. - desligou. Fiquei ali com o coração na boca e o nervosismo a flor da pele. Hillary parece que sentiu e começou a mexer muito e parece que minha barriga disparou nessa madrugada, tá aparecendo muito mais. Preparei um café e tomei ele puro mesmo.
O grupo no whatsapp bombava e graças a Deus todas estavam bens. Mas ainda não tenho notícias dos homens.
....
Quando as coisas se acalmaram um pouco minha mãe e minha irmã vieram pra cá. Meu irmão ainda se encontra desaparecido, sem notícias.
Hyurica: Mãe, notícia ruim chega rápido, calma cara.
Leandra: não sei porque esse garoto inventa de continuar nessa vida, eu não sei. Que inferno cara, sempre tenho que passar por isso. - a campainha daqui de casa tocou e nós três fomos correndo pra atender. Era um garoto magrinho magrinho.
_ Ae tia, mandaram avisar aqui que os canas estão com o Henrique. - fechei os olhos. Senti a filha se mexer na barriga, como se também estivesse sentindo o peso da notícia. Era como se o chão tivesse cedido debaixo dos pés. Fiquei fraca, me segurei na minha mãe.
Leandra: Calma filha, calma! Você tem certeza, garoto? Como foi isso? Quem mandou avisar? Alguém morreu? Foi preso?
_ Pô tia, os manos que mandaram avisar aqui, tendeu. Tão entocados, ninguém morreu não. Mas pegaram ele no túnel dá praça atravessando.
Hadassa: Vou trocar de roupa e vou atrás disso. Tem algo na boca?
Leandra: Não, você fica em casa com a sua irmã e eu vou ver qual foi desse assunto. Tem como você me levar até alguém meu filho?
_ pô tia, sei não. Vou atrás de mais informações e venho aqui dar o papo a vocês. Jae?
Leandra: Tá bom, meu filho. Cuidado aí, vamos te aguardar. - ele montou em cima de uma bicicleta velha e saiu pedalando. Entrei e comecei a chorar.
Hadassa: Aí meu Deus, eu não tô preparada pra isso não, não tô mesmo.
Leandra: Calma, fica calma.
Hyurica: Vão pedir arrego, com certeza.
Hadassa: com certeza ele tá sofrendo na mão desses caras, aín cara. - coloquei a mão no rosto e chorei mais ainda. Hillary só dava chutão que doía.
Hadassa: Aí... - coloquei a mão na barriga.
Leandra: o que foi minha filha? Aí meu Deus...
Hyurica: Ih ela tá chutando, olha mãe.
Leandra: Ela tá sentindo o desespero da Hadassa. Fica calma, a criança sente tudo.
Hadassa: E se matarem o pai da minha filha? Aí eu não tô preparada, não tô. Deus cuida dele, eu te imploro.
Leandra: para caralho, para de falar merda. Vai acontecer nada com ele, não vai.

✨Hadassa✨Onde histórias criam vida. Descubra agora