Capítulo 7 - O Teto Amarelo

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      Engraçado como a vida muda e vamos forçadamente, nos adaptando a ela. A vida é tão insensível, troca as coisas de lugar sem nem ao menos dar a chance de nos desgarrar do que tínhamos, ficamos estáticos, impotentes diante de uma força que rege nosso destino moldando nosso futuro, obrigando a esquecer o passado ou viver para sucumbir a ele.

      Estamos voltando de uma viagem de férias, fui obrigado a ir porque toda a família ia, quer dizer menos Solene que foi a um acampamento com a família de uma de suas amigas, sorte dela porque a viagem foi um saco. Fomos visitar uma das irmãs do senhor Marcos, que por sinal me ignorou quase que completamente, ela nos primeiros dias esquecia-se de por o meu prato na mesa minha mãe que tinha que pegar. A tal da Marisa que era chamada por todos de "Mari", sinceramente o povo dessa família tem alguma coisa com apelidinhos no diminutivo. Essa gorda e branca mulher me olhava sempre como se eu fosse um estorvo e nem falou comigo direito, me senti um indesejado em uma casa estranha, e para completar ainda tive que dormir no mesmo quarto que Mellíssa foram noites extremamente estranhas o fato dela não falar muito às vezes incomoda bastante, não sei bem explicar o porquê mais parece que tem um encosto do lado um ser de outro planeta.

      Finalmente chegamos em casa, pela primeira vez fico feliz de ver esse lugar, não vejo a hora de deitar em minha cama e dormir decentemente, sem me preocupar com a múmia do meu lado, sim agora eu chamo Mellíssa de "múmia" pelo fato de ela não falar e parecer que está morta com aquele olhar frio e vazio.

      – Mel e Bel desarrumem a mala de vocês tomem banho e desçam para jantar ta! – diz minha mãe assim que põe o primeiro pé em casa. Sim agora ela insiste em me chamar de "Bel", não gosto nem um pouco, mas ao menos é melhor que filho.

      Nem eu nem Mellíssa respondemos apenas levamos nossas malas para os nossos respectivos quartos. Acho que começo a entender porque minhas atitudes aqui são aceitas com naturalidade apesar de eu ignorar a todos, é praticamente o que Mellíssa faz todos os dias, sou mais ou menos uma segunda versão dela nessa casa.

      Assim que entro no meu quarto que estava um pouco empoeirado pelo tempo que foi abandonado, ponho minha mala em cima da cama e começo a desarrumá-la. Não é algo que eu queria fazer, mas faço as coisas que me mandam para não ser chamado a atenção e pretendo manter esse padrão até sair daqui.

      Desço para pegar minha comida e voltar para o quarto após ter terminado de desfazer minhas malas e ter tomado o meu banho, assim que chego à cozinha quando vou pegar o meu prato escuto a voz grossa do Senhor Marcos ecoando pelo lugar.

      – Porque ele não "senta na mesa"? – Diz ele sério olhando para minha mãe. Estranho ele nuca falou de mim, ao menos não na minha frente.

      – Ele gosta de comer no quarto – responde minha mãe meio esbaforida.

      – Na casa da Mari ele comeu na mesa como todo mundo – insiste o Sr Marcos ainda fazendo seu vozeirão ecoar pela cozinha. Ah e essa agora? Porque raios motivos ele está falando disso?

      Como assim eu comi na casa da irmã dele? Não sei se ele percebeu mais meu prato estava sempre faltando na mesa e outra não tem porque eu comer aqui não faz diferença eu estar ou não, sinceramente odeio essa mania de comer todo mundo na mesa.

      – Ah amor ele gosta de comer no quarto dele – insiste minha mãe agora com um tom de voz meloso. Não sei se ela esta me ajudando ou simplesmente não quer que eu coma com eles.

      – Ta mais isso tem que acabar... Quarto não é lugar de comer, daqui a pouco lá em cima ta cheio de baratas, lugar de comer e na mesa não no quarto – diz o Sr Marcos agora alterando um pouco o tom de voz. Isso me assustou um pouco, ele nunca falou dessa forma na minha frente, senti como se estivesse gritando comigo.

      Assim que me acalmei peguei meu prato e me sentei, não era algo que quero fazer, mas não vale apena criar caso por alguns minutos sentados com eles, simplesmente é só comer e depois subir para terminar com essa palhaçada.

      Enquanto levava minha comida à boca sentia levemente o desconforto dos olhares de todos, o Sr Marcos me olhava às vezes parecia não estar gostando de algo, minha mãe dividia os olhares dela entre mim e ele, somente Mellíssa que continuava a comer como se nada tivesse acontecendo, francamente essa menina não vive mesmo nesse mundo.

      Após o fim da janta, tão desagradável quanto qualquer outra refeição que tive nessa mesa, minha mãe e o Sr Marcos ficaram conversando sobre as coisas da viagem que fizemos e questionando alguns aspectos da casa da irmã do Sr Marcos. Mellíssa permaneceu quieta quase a janta toda e eu segui o seu modelo, assim que terminei pus meu prato na pia e subi acabando com aquela tortura em família.

      Finalmente a parte que eu mais gosto, hora de dormir, se tem um lugar nessa casa que me faz sentir em um lar esse lugar é meu quarto, como gosto de ficar aqui! Jogo-me na cama e fico olhando para o teto, não sei por que mais isso me conforta, passo horas olhando para cima esperando o sono chegar. Não sei bem, mas essa cor branca do teto me desagrada, queria que fosse amarelo, é uma cor viva faria eu me sentir mais em casa, onde eu morava era perto de uma praia, o sol sempre iluminava meu quarto dando um tom amarelado, achava aquilo tão bonito, acho que tudo lá me faz falta, atualmente até da minha tia chata eu tenho saudade, como eu queria voltar.

      Sinto meus olhos fechando, já estou com bastante sono, estou quase pra dormir, porém um barulho me chama a atenção, minha porta estava meio entre aberta e sons estranhos estavam me incomodado ao mesmo tempo em que me deixava curioso com o que poderia ser. Saio do meu quarto sem fazer muito barulho, percebo que o som vem lá de baixo e aos poucos vou descendo para conferir o que acontece. Sou muito curioso e nunca vi problema nisso meu pai sempre apoiou minha curiosidade, dizia que mentes curiosas que fizeram grandes descobertas no mundo.

      Assim que chego à metade da escada percebo que o barulho vem da sala, agora de curioso passo a ficar assuntado, escuto vozes, será que tem alguém invadindo a casa? Assim que desço mais um degrau, escuto uma voz feminina que não deu bem para discernir, pois estava muito abafada.

      – Amor assim não, as crianças vão acordar!

      Agora da pra saber bem é a voz da minha mãe, o que será que está acontecendo? Desço mais um degrau e vejo-a com o Sr Marcos no sofá, estavam deitados no sofá entrelaçados, se moviam bastante e estavam tão concentrados que mal perceberam que eu estava descendo. Não podia acreditar... Eles estavam tendo algum tipo de relação intima, acho que estão fazendo... Não quero isso quero que ele saia de cima de minha mãe, eles não deviam fazer isso ela não devia fazer isso.

      Subo sem fazer nenhum barulho e volto para o meu quarto, fecho a porta vagarosamente para que não percebam que sai, em seguida torno a me deitar. Agora voltando a olhar para o teto branco, e a visão deles fazendo aquilo ficava me incomodado, eu sei que eles fazem por serem marido e mulher e terem duas filhas, mas nunca imaginei que iria ver, porque isso me incomoda tanto? Não queria ver isso, só meu pai deveria ter direito a fazer isso com minha mãe, sabe que tem outro homem fazendo essas coisas com ela me consome por dentro, isso é muito ruim não queria que ela fizesse isso com ele.

      Não há nada que eu possa fazer afinal eles não estão fazendo nada de errado, o errado aqui sou eu, apenas fico triste desolado, não sei por que... Não devia sentir nada por ela, mas isso me incomoda tanto, por sorte o sono parece que me reencontrou, vou tentar pensar que isso foi apenas um sonho ruim e ficar aqui olhando para esse teto que não é amarelo.

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⏰ Última atualização: Aug 10, 2015 ⏰

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