3º Capitulo.

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Passou uma semana desde que escrevi aquela carta. Ontem foi o ultimo dia que estive no hospital, e hoje finalmente vim para casa.

Cheguei a casa, arrumei as minhas coisas, e deitei-me na cama. Coloquei o diário por cima do meu peito, e fui passando as folhas, para a frente e para trás, para trás e para a frente. Fiquei horas a olhar para as nossas fotos, e a lembrar-me de tudo o que aconteceu nestas ultimas semanas. Uma memória atrás de outra, e tudo  durante um bom tempo.

Não sei quanto tempo na verdade.

O meu peito ardia cada vez mais ao lembrar-me de tudo. Não conseguia largar as fotos nas minhas mãos, e algumas paginas molhadas já com as minhas lágrimas no diário, assim como não conseguia parar o filme repetitivo das memórias na minha cabeça. Estava triste. E tinha raiva. Queria passar o resto do tempo a chorar, e queria partir coisas também. Queria gritar, por todas as ruas na enorme injustiça que a vida estava a ser, e queria esconder-me num sitio, sozinho, sem que ninguém soubesse de mim. Queria poder parar de sentir esta dor, que parece que nunca vai acabar.

Amanhã é o funeral da Mel, e eu não estou preparado  para lá estar. Mas sei que tenho de estar. Se fosse o contrário, ela também iria, eu sei disso. Não sei como vou conseguir aguentar-me, mas em algum lado eu vou ter de arranjar força.

Sinto-me perdido. Totalmente perdido. Não sei qual é a minha direcção daqui para a frente, não sei para onde seguir, o que fazer. Sinto que estou a dar em louco aos poucos, e que a dor vai controlar o meu corpo. Não sei o que dirias, o que irias fazer no meu lugar, só sei que precisava de ti. Nós prometemos um ao outro que iríamos ajudar-nos um ao outro no processo da perda, e porra Mel, o que é que eu posso fazer agora. Eu só queria que aparecesses na porta e dissesses que iria ficar tudo bem, que tudo isto não passa de um pesadelo, precisava. Mas isso não vai acontecer.

Ficar fechado no pequeno quarto estava a dar cabo de mim, e tive de ir apanhar um pouco de ar.  Avisei a minha mãe dizendo apenas que ia sair, e saí pela porta. Sei que ela está preocupada, e reparou que eu estive mal durante toda a tarde, mas eu tenho de controlar isto. Eu lembro-me de como ela ficou quando bem.. a Gemma morreu. Foi a pior altura da nossa vida, e eu nunca mais quero ver a minha mãe naquele estado, por isso é que não a quero preocupar. Imagino o quanto a mãe da Mel deve estar a sofrer com isto tudo. Mais do que qualquer um de nós.

Paro um pouco de andar, e deito-me na relva. O céu está completamente escuro, e é difícil encontrar uma estrela. Coloco as mão atrás da minha cabeça, e a memória que me vem a seguir é sobre quando fomos para a quinta dos meus avós.

Lembro-me de quanto contei à Mel a primeira vez que costumava estar sempre na quinta. Ela disse-me que nunca me tinha imaginado como cowboy, e eu ri-me imenso, quase até chorar. Começamos a falar sobre o que eu fazia lá, e quando chegámos lá ela parecia encantada por toda a paisagem. Acho que chegou a fazer um texto para literatura sobre isso.

Lembro-me de nadarmos no lago, de andarmos de ensiná-la a andar de cavalo, e de quando lhe fiz uma serenata no palco, mesmo em frente de toda a gente. E quanto eu poderia ver o quanto ela estava feliz.

Retirei um pequeno bloco do bolso e a caneta, e comecei a escrever uma segunda carta.


Não mostrei o quanto gostava de ti

" Querida Mel,

Acho que nunca mostrei o quanto gostava de ti. Bem... pelo menos o suficiente.

Sei que durante um tempo eu posso ter sido um parvo. Bem, durante muito tempo. Sei que no inicio podias ter duvidas em ficar comigo por toda aquela coisa da popularidade, e sinceramente, trocava tudo isso, para ter estado contigo mais tempo. Agora que olho para isso, foram formas de pensar tão estúpidas, onde estava eu com a cabeça?

Letters to Mel (Sequel to Harry)Onde histórias criam vida. Descubra agora