Capítulo 1 - Academia de Princesas

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QUANDO acordei pela manhã, tive mais um choque de realidade ao ver veludo por todos os lados na armação da cama. E apesar do conforto, eu não me sentia nada segura, por causa da minha personalidade. Seria difícil, eu sabia. O pior de tudo era o fato de ter que viver isolada.

Pelo menos nas Instalações, eu podia ir e vir para onde quisesse sem ter que me preocupar com nada nem ninguém. E sinceramente, que perigo um bando de garotas com vestidos e saltos poderia fazer contra alguém que passou a vida inteira lutando e fazendo soldados sangrarem? Nenhum.

O sol acabava de sair e eu já estava acordada. Por causa do treinamento que recebi, acordar cedo era uma prioridade na formação dos soldados, assim como dormir cedo. Aqui, eu só deveria acordar em duas horas. O que eu faria com todo esse tempo livre?

Segundo Ophelia, hoje seria o dia em que escolheriam o Príncipe. Será que eu poderia o ver pela televisão ou não poderia fazer isso também? Pelas histórias que me contaram, ele não precisava ficar um ano isolado. Assim que ele fosse escolhido, passaria a viver no castelo e então ele finalmente saberia quem era sua Princesa, caso ela sobrevivesse a esse ano. Ele aprenderia com o Rei, teria tudo do bom e do melhor e continuaria os estudos de estratégias políticas e militares. Ele seria treinado para algo que, para mim, era uma coisa fácil. Por anos, Bodhi, um dos meus treinadores das Instalações, discutiu comigo possíveis estratégias de batalha e coisas de política. Ele dizia Um dia a Realeza falha e vai ser nossa vez de tomar as decisões. Você tem que estar pronta, Soldado. Ele provavelmente estaria rindo de mim agora, já que, nem mesmo eu me imaginava vivendo em um castelo e vestindo roupões de seda branca, como a Realeza.

Eu subi todas as castas possíveis em um mísero dia e tudo o que precisava fazer agora era manter meu lugar. Fazer tudo o que me disserem para fazer e repetir isso pro resto da minha vida.

Ser clara. Ser direta. Ser tirana.

Foi tudo o que Ophelia disse. Se você não for cruel, eles não te amam. Só te acham fraca.

Mas não deveria ser assim. Eles não querem um coração, querem alguém que governe bem. Não importa como.

Ophelia tinha um lado escuro de ver as coisas. Nossa conversa do dia anterior estava clara como o dia e tudo o que ela me disse, sempre, foram coisas frias. Ela queria que eu fosse uma versão poderosa dela mesma. Mas antes não era assim.

Eu ouvi dizerem que a Rainha Emily era a mulher mais bondosa de todo o Reino. Ela era paciente, generosa e já salvou muitos de serem enforcados, decapitados ou açoitados na frente de todo o mundo. Execuções nunca foram o seu forte e ela sempre protegia as causas que não achava justas. Mas algo mudou. Não foi com a Rainha, nem com o Reino, mas sim com a Academia. Ophelia tinha mencionado algo na tarde anterior. Sobre falar isso para a última Escolhida. Ela não era a Rainha, disso eu sabia. Então só podia significar que houve alguém antes de mim. Ouve outra garota, uma que deveria estar no meu lugar neste exato momento. Mas ela não está e isso significa só uma coisa. Ela se foi. E não do tipo ela fugiu. É do tipo ela morreu.

~ • ~

Passam-se duas horas e finalmente batem na porta do quarto. O mordomo entra com um carrinho, trazendo o café da manhã e uma moça saltitante entra atrás dele. Ela se parece muito com Ophelia, em uma versão mais jovem, loira e mais muito mais alegre.

Ela usa um vestido verde com dourado e tem flores rodeando sua cabeça. Surpreendentemente, ela não usa saltos. Isso deve ser um milagre.

- Bom dia! - ela fala finalmente. - Sou Ever. A primeira assistente.

A Princesa - A Princesa Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora