Au Revoir

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- Humanos são assim: fofocam, desejam o que é do outro, torturam, matam. Depois escrevem livros falando sobre como a vida é bonita. Depois estão falando mal de alguém, articulando algo cruel. Traindo. Qual é a porra do nosso problema? Eis o nosso problema: devemos ser exterminados.

Girou a chave da caminhonete.

- Engraçado... sabe, há uma semana atrás eu estava feliz, pensando que ia casar com você. Eu pensei, mesmo, que daria certo. Até ver aquela merda toda. Porra, por que você fala todo dia que me ama?

Deu partida e seguiu pela estrada de terra.

- Você quer ouvir AC/DC ou prefere Amon Amarth?

Uma chuvinha fresquinha fez subir o cheiro de terra molhada, mas não foi suficiente...

- Você poderia falar alguma coisa, sabia?

...

Desceu a colina, atravessou algumas poças. A chuva já começava a engrossar. A conversa também.

- O que aquela vagabunda tem que eu não tenho? Peitos? Bunda? Ou foi só pelo prazer de me fazer de idiota?

Ele bufou. Não conseguia falar.

- Você é um merda mesmo. De verdade. Podia estar feliz comigo, mas não. Não. Precisava de uma aventurazinha, não é? Só que você fez isso com a mulher errada, meu chapa.

Enfim, estavam chegando.

Parou a caminhonete, aumentou o som, fazendo Brian Johnson cantar mais alto, mais animado, desceu. Deixou a porta aberta.

- Ainda não vai falar nada?

... um suspiro nervoso.

Ela iria continuar com o discursinho.

- Eu te amo. Eu te amo. Ah, vá pra porra! Você conseguiu foder comigo. Acho que nunca mais vou conseguir ouvir essa merda e acreditar. Mas... sabe o que é pior? Você fez tudo direitinho. Me fez de idiota desde... desde o início? Porra, por que não disse logo que era só um caso? Detesto ser enganada!

Foi caminhando até a cabaninha. Lá estava o que precisava. Gritou dali, para que ele pudesse ouvir:

- Aquele dia, na casa da sua mãe... também foi mentira? Você disse pra todo mundo que me amava, do nada... Era mentira?

Olhou para a caminhonete. Ele se movia lá dentro.

Curiosa, com o que queria em mãos, voltou,

- Era mentira?

Balançando a cabeça, em lágrimas, ele negava.

- Você é um bosta mesmo. - deu um tapa na cara dele, com toda força.

Respirou fundo, começou a cavar.

A raiva lhe dava forças descomunais. A lama voava, o buraco se formava. Ela arfava.

- Puta que pariu, eu deveria ter deixado pronta. Sempre deixo, dessa vez esqueci.

Ao ouvir esta última frase, o homem voltou a mover-se, bem devagar. Ela não poderia ver, nem desconfiar. E...

- O que pensa que está fazendo?

Lá estava ela, branca como um fantasma, molhada, ofegante. As mãos sujas e vermelhas, de tanto esforço. Socou-o inúmeras vezes, verificou a corda e apertou os testículos dele, até ver as lágrimas descerem com força novamente.

- Você não vai fugir. Você não é o primeiro filho da puta que enterro.

Não era só ameaça. Ela falava muito sério. Deveria ter fugido quando Karen ligou pela manhã. Podia ouvir a voz dela ecoando ainda "Foge, Roger, a Anie é louca! Pega tua caminhonete e some! Eu sei que ela já botou uns caras vivos no caixão!". Porra, pensava, por que eu demorei pra fugir?

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