2: ESCOLA SECUNDÁRIA SOPHWORD

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"Porque o universo nos mostra que a vida está além da conformidade"


No verão sua rotina foi, durante um mês, fazer contas e resolver cálculos. Antes das férias seus professores de Cálculo e Física insistiram tanto para que participasse das Olimpíadas Mundiais de Ciências Exatas, que acabou cedendo. Todas as sextas, sábados e domingos daquele mês, seu pai se dirigia ao prédio da prefeitura, onde, naquele ano, aconteciam as olimpíadas. Alunos geniais do mundo todo participavam.

Todos eles eram extremamente habilidosos com os cálculos físicos e matemáticos. Shanon ficara entre os dez melhores de uma seleção de duzentos de todo o mundo. Nos primeiros dias letivos, seu pai sempre fazia questão de levá-la, dar-lhe um beijo na testa e lhe desejar boa sorte. Mas nada do que Andrew fizesse ajudaria muito na ansiedade que sua filha sentia. Durante os trinta minutos que esteve no carro com o pai, lhe perguntou no mínimo dez vezes se seu cabelo estava bom e se sua roupa estava adequada. E o pai sempre respondia que sim. Mas naca cooperava com a situação.

Os corredores estavam lotados de estudantes sorridentes e barulhentos. A famosa alegria do primeiro dia de aula. Muitos deles, a partir do dia seguinte, já odiariam ter que estar na escola todos os dias desde então.

Atravessou o largo corredor com muita dificuldade, sua mochila enganchou várias vezes em outros alunos e durante três minutos seu pé foi pisado centenas de vezes. O cabelo enroscado, bunda apalpada e foi muito xingada. Uma missão dolorosa e desconfortável. Quando a porta da diretoria apareceu em sua frente, enxergou a Porta do Alívio. Ajeitou ao máximo os cabelos e sua camisa branca amarrotada. Os sapatos manchados e os milhares de perfumes misturados só pioravam o estado de sua apresentação. Respirou fundo e abriu a porta, torcendo para que na volta não tivesse que passar novamente pelo tradicional Corredor de Boas Vindas.

O diretor tinha ligado para seus pais na noite anterior, avisando-lhes sobre a cerimônia de premiação. Shanon fora a única representante da cidade nas olimpíadas, um motivo e tanto para Sr. Fox, quem adorava colocar a escola sob holofotes mundiais, inventar uma cerimônia para entregar o merecido troféu. Ao se levantar, ele a recebeu com um sorriso largo, seus olhos brilhavam como dois diamantes, admirando Shanon, seu orgulho maior.

- Minha ilustre aluna. - Estendeu a mão e apertou a da garota ansiosa à sua frente, em seguida indicou-lhe a cadeira com um gesto ameno. - O auditório já está sendo organizado para receber a solenidade de premiação. Antes do intervalo lhe entregaremos sua faixa e o troféu. - Ele olhou qualquer coisa no computador e depois se voltou para Shanon. - Já viu os horários no e-mail? - Ela assentiu. - A cerimônia acontecerá no terceiro tempo. Aguarde na sala de aula.

- Obrigada Sr. Fox. - Disse, com a voz que ainda expressava a agitação do corredor movimentado.

A cerimônia seria relatada pelo jornal principal da cidade: The Place. E a emissora local teria exclusividade para transmiti-la pela internet. E além do registro visual, o The Place e outro jornal teriam alguns minutos para realizar uma entrevista com a premiada aluna.

Austin estava mais feliz do que a própria ilustre aluna.

Na verdade, Shanon não sabia se queria toda essa visibilidade, embora soubesse que a notícia se perderia assim que o próximo furo de alguma celebridade estourasse pelo mundo. Ninguém se interessava muito em uma garota nerd, a única garota entre os dez melhores, que ganhara em décimo lugar um campeonato de nerds em ciências exatas. Ninguém. Exceto seu diretor; para Sr. Fox, Shanon era a sua "aluna ilustre" e digna de tapete vermelho, solenidades... o céu era o limite.

Atravessou o corredor agradecendo mentalmente ao universo por ter dispersado seus colegas. Dos poucos que restaram recebeu cumprimentos calorosos e piadinhas nerds, tímidas congratulações ou a completa indiferença.

OBSCURO: Entre amor e morteOnde histórias criam vida. Descubra agora