Capítulo 17 - Primeiras Fases

2.2K 214 173
                                    

Encosto minha cabeça na cabeceira da cama inspirando fundo, como se pudesse sentir o cheiro de Erik aqui, ao meu lado. Fisicamente isso é impossível, mas com o poder da mente — até mesmo o poder de nos iludir facilmente — de criar essa fantasia aromática é possível.

Isso é estar apaixonada?

Eu ainda procuro respostas para o que estou sentindo. E pelo visto não sou apenas eu que estou enfrentando o impacto daquele abraço.

Continuo com o celular na orelha, porém nenhum barulho é ouvido saindo ele. Erik já desligou há, pelo menos, dois minutos, pois sua mãe o chamou para arrumar as coisas dele para o primeiro dia de aula. Mas eu ainda estou aqui, absorvendo o efeito de tudo que aconteceu.

Se o que dizem sobre paixão é real, e se eu ainda não perdi meu dom primordial de interpretar sentimentos, eu digo que temos um resultado concreto para dar àquela aposta!

Nossa, nem me lembre disso, eu posso até ter certeza de algumas coisas, contudo, só vou dizer algo quando for interrogada. Aliás, Consciência, você me deve uma resposta.

Vou sentar que lá vem bomba, ela se senta realmente em seu divã, aproveitando da mordomia que há nos aposentos do meu lobo frontal. Diga o que você quer saber, guria.

Parece que alguém está lendo muito minhas conversas com a Letícia, hein?!

Uai, não é como se eu tivesse outra coisa para fazer aqui dentro, dá de ombros, despreocupada.

Você disse, mais cedo, quando eu estava planejando abraçar virtualmente o Erik que não podia ler meus pensamentos naquela hora, como isso pode acontecer?

Bom, como sua Consciência, eu não devia te contar, mas quem manda nesse trem aqui sou eu, então bora lá. Chama-se Bloqueio Emocional Consciente, quando você fica chocada com algo, sofre de uma forte emoção ou simplesmente tem algo tomando sua mente sem deixar você pensar em outra coisa — que no caso foi este último, seguido mais suavemente pelo dois primeiros, gera um bloqueio de funções. Das minhas funções. Então perco um pouco de poder. Um deles é o de saber o que você pensa.

HM, entendi. Eu acho.

O som de um lápis chocando-se com o chão chama minha atenção. Lembro que tenho que estudar e o livro de Ciências nem aberto foi nesse fim de semana, logo a matéria que mais preciso!

Volto aos cadernos, sabendo que aquilo é necessário, nem que seja por um curto período de tempo. O sol já não ilumina mais o céu e por isso ligo o abajur da mesa do computador.

Estudo por pelo menos duas horas a fio, deixando o quarto apenas para o banho e para pegar alguma fruta. Depois de todo aquele bloqueio pela preocupação com Erik, consigo estudar bastante e me concentrar, mesmo que repetisse a reta entre BH e Salvador, o que já está se tornando comum para mim.

"E mesmo sem te ver, acho até que estou indo bem, só apareço por assim dizer, quando convém aparecer ou quando quero...Quando quero... Desenho toda a calçada¹" Consciência cantarola baixinho fingindo prestar atenção numa estante de organelas. Não estou fingindo, vai estudar. Lá lá lá... "Eu já sei o que meus olhos vão querer, quando eu te encontrar...²"

Apenas aparento que não noto a indireta das músicas que ela entoa diretamente para mim e volto para meus estudos. Bocejo uma, duas... três vezes. Está ficando tarde. Esfrego meus olhos e suspiro. Para disfarçar o sono, sigo o exemplo da minha Consciência e pego meus fones de ouvido, conectando-os ao meu celular e seleciono a playlist mais animada.

Só resisto mais cinco músicas até me sucumbir ao sono, ali mesmo, sobre as páginas dos livros e cadernos e ouvindo Rihanna entoando Umbrella pelos fones, ou pelo menos era essa a música que tocava no meu sonho.

Entre o Real e o Virtual (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora