Capítulo 5 - Mãe é tudo igual

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 — Ricardo, você devia comer conosco — minha mãe insiste pela milésima vez. Estamos jantando, eu com ela à mesa e meu pai assistindo o jornal no sofá.

— Preciso estar atento às notícias, amor — ele informa, sem tirar os olhos da TV, consigo ver por causa da meia parede que divide a cozinha da sala. — O povo está na rua, esse ano será marcante, ainda mais para BH.

— Se você diz, quero apenas que jante conosco, em família — ela murmura, implicante. Bufo e pego meu prato, levantando-me. — Sabrina?

— O quê? — retruco inocentemente indo para o sofá e sentando-me ao lado do meu pai. Ignorando de fato a presença da minha mãe, coloco um dos pés no sofá e me volto para o homem de cabelos num grisalho que lhe caia bem. — A gente podia ir ver o Atlético jogar no Independência, hein, pai? Faz tempo que nós não vamos ver um jogo no estádio.

Ele desvia o olhar da TV, encara rapidamente algo atrás de mim – que eu suponho ser minha mãe nos olhando raivosa – e depois de volta para mim, sorrindo.

— Podíamos, tem a final da Libertadores, dia 24, mas...

— É perigoso, Ricardo — minha mãe interrompe, porém me surpreendo quando ela surge ao lado do meu pai, com seu prato e seu copo de suco. — Se vocês não ficam na mesa, eu também não.

— Sim, é perigoso, por ser uma final, mas podemos arrumar algum do campeonato brasileiro para ir. Podemos ir nós três. — Ele sorri docemente para minha mãe e ela tira uma tira fina de alface do canto da boca dele. Levemente, ela acena positivamente.

— Podemos — concorda.

Sorrio para os dois e volto a comer. Quis apoiar meu pai para testar minha mãe. Ela sempre está impondo alguma regra, é avessa a algumas atividades mais radicais ou mudanças mais drásticas. E eu também estou numa fase que eles dizem que gosto de contrariar tudo.

No entanto, eu noto minha mãe nos tratando como pacientes dela, avaliando nossas ações. Isso chega a ser chato, não estamos em seu consultório de psicologia pedindo alguma ajuda especial ou querendo ser entendidos pelo menos alguma vez na vida. Somos a família dela, ela tem que parar de usar esses "superpoderes" para entender o que pensamentos, ainda mais quando se trata de mim; sua filha "pré-adolescente cheia de dramas e ideias incabíveis".

Fora que, ainda que eu não seja fanática por futebol, como meu irmão e meu pai, eu entendo um pouco da emoção que eles sentem quando veem o time jogar. No caso, o Atlético mineiro.

Então dei um stop na minha mãe e ela acabou abaixando a guarda, vindo se sentar comigo e com o papai. Acabamos assistindo a novela das nove e então eu fui para o quarto, deixando-os vendo o filme que vinha logo após a novela.

Organizo meu material, ligo o computador, abrindo o YouTube e colocando na minha playlist preferida. Apenas assim para conseguir acabar o trabalho do Cianeto esta noite. Busco pelas folhas enquanto me atualizo no grupo.

As meninas conversam sobre algum livro nacional que lançou a pouco tempo e elas estão loucas para ler; Dani lança alguns versos de uma música, que eu acabo pesquisando e agregando à minha playlist, me perguntando como não tinha aquela música ainda. Enquanto isso o Felipe manda algumas fotos, do mar, dele, dele com o Erik. Abro a última e me surpreendo ao encontrar um garoto mais bronzeado de cabelos negros e curtos e sorriso de lado ao lado de um super alto, branquelo e mais fortinho. A pergunta que não quer calar é: como ser branquelo na Bahia?

Nem deve sair de casa, a pessoa.

Não há uma foto na imagem de perfil do Erik, porém no perfil do Felipe tem uma dele. Logo eu reconheço e ligo Lipe ao mais fortinho. Então aquele bronzeado praticamente natural é o Erik? Uau.

Entre o Real e o Virtual (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora