Capítulo 33 - Natal em Caeté

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Eu acreditei que poderia contar com meus tios no plano de impedir qualquer viagem que ultrapasse os limites de Belo Horizonte durante os feriados mais importantes do ano, no entanto, estava errada. Eles foram para a casa dos sogros da minha tia, que não viam há muito tempo. E por Deus! É para Teófilo Otoni, que é centenas de quilômetros mais distante que Caeté.

Aceitei minha derrota aí. Eu não podia chegar na minha mãe e dizer: "não vou para casa dos meus avós nem arrastada, não gosto de lá e tem alguém muito importante que vai me esperar aqui". Ela, no mínimo, diria que eu iria para Caeté na mesma hora como castigo por falar assim com ela. Às vezes eu tenho vontade de ser mais velha para poder ir contra algumas imposições. Depois de dezoito, trabalhando, você passa a ganhar alguns direitos de escolha, certo? Certo?

Mesmo com o pensamento nisso, algo me diz que eu estou bem errada nessa ideia. Ser adolescente é como flutuar entre dois pontos de apoio – ser adulto e ser criança –, você é novo demais para fazer certas coisas e ao mesmo tempo é velho demais para ser visto brincando com outras. Não seja visto brincando de morto ou vivo, porém também não pense em sair de casa à noite, beber todas e voltar cinco da manhã como se isso não fosse nada. É ser novo demais e velho demais, para diferentes coisas.

Suspiro e olho pela janela quando o filme que Eduardo assiste ao meu lado se torna desinteressante. Não gosto de filmes que ficam alternando entre o passado e o presente, ligando-se em um ponto; preferia histórias lineares, onde na real os meios têm pequenos detalhes que justificam os fins. No entanto, se pudesse ver minha história por cima, em terceira pessoa, eu estaria nesse momento procurando algum furo no meio da história que justificaria estar num carro rumo a Caeté justamente no período em Erik virá para Belo Horizonte.

O carro estanca devido a um pontual e previsível congestionamento na BR 381 – ela sempre para em temporada de férias por ser caminho para cidades litorâneas de outros estados –, eu abaixo um pouco da janela, ainda que o vento esteja soprando frio, e vejo os montes a perder de vista. Dali, pego minha polaroid e tiro uma foto das montanhas preenchidas de árvores altas e de folhas verdes, ao lado.

Quando a foto salta do aparelho, o pego, um tanto desanimada e volto a suspirar. Ficou um tanto desfocada; eu nem mesmo pude trazer minha câmera digital nessa viagem.

"23 de dezembro de 2013

Qual é o sentido do natal se não podemos ficar com quem queremos compartilhar bons momentos? É como um pinheiro natalino sem sua costumeira decoração, ele só se torna mais um entre os outros numa floresta.

Em um carro, de BH para Caeté."

Escrevo e assim que guardo a caneta e o post it o carro volta a andar. Com a foto entre os dedos me lembro de ontem, quando cri que poderia ter uma chance de me livrar dessa viagem, mas qualquer ideia que eu pudesse ter foi por água abaixo, como o título do filme que eu e o Eduardo estávamos assistindo antes do de agora.

Eu, Arthur e Luís saímos com meu equipamentos de fotografia rumo à casa de Rosa e Antônio. Queria passar um tempo com meus dois melhores amigos. Tudo bem que eles morem bem perto de mim, quase vizinhos, porém, com as férias, a gente não se vê diariamente como acontecia durante o ano letivo. Então,tirar fotos na casa de duas pessoas que eu tenho como avós, mesmo os vendo tão pouco, me pareceu uma ótima ideia para passarmos o tempo – mal sabia eu que seria a última vez que nos veríamos antes do natal.

Eu e Luís seguiamos em nossas respectivas bicicletas e Arthur equilibrava-se em seu skate – só soube que ele sabia andar em uma das vezes em que marcávamos para ele e Danielle se encontrarem, enquanto eu servia de desculpa para ela sair de casa, eles namoravam e eu ficava fotografando na praça, nessas vezes eu evitava tirar fotos deles para nos safar de futuras confusões.

Entre o Real e o Virtual (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora