Quando chegamos a sala de estar e sentamo-nos para nosso café e chocolate, apesar de Carmilla nada tomar, ela parecia muito ensimesmada novamente. Madame e Mademoiselle De Lafontaine juntaram-se a nós e formamos um pequeno grupo de cartas, até que papai veio sejuntar a nós para o que ele chamava de seu bule de chá.Quando o jogo terminou, sentou-se ao lado Carmilla no sofá e perguntou a ela, um pouco ansioso, se ela havia tido notícias de sua mãe desde a sua chegada.Ela respondeu:- Não.Ele então perguntou se ela sabia onde uma carta poderia chegar até ela no momento. - Não posso dizer - respondeu ambiguamente, - mas tenho de pensar em sairdaqui. Vocês já têm sido muito hospitaleiros e muito amáveis comigo. Tenho-lhes dado umainfinidade de problemas e gostaria de tomar uma carruagem amanhã e sair no encalço dela. Seionde encontrá-la no fim das contas, embora eu ainda não ouse dizer-lhes. - Mas você não deve sonhar com tal coisa - exclamou meu pai, para meu grande alívio. - Nós não podemos nos dar ao luxo de perdê-la dessa forma e não vou permitir quenos deixe, exceto sob os cuidados de sua mãe, que tão bondosamente consentiu que vocêficasse conosco até que ela pudesse voltar. Ficarei muito feliz se souber que você ouviu issodela. Esta noite, porém, as notícias do avanço da misteriosa doença que invadiu nossavizinhança tornaram-se ainda mais alarmantes e, minha bela hóspede, sinto a responsabilidade, desassistido sem a presença de sua mãe. Mas darei o melhor de mim e uma coisa é certa: vocênão deve pensar em nos deixar sem a distinta autorização dela para isso. Sofreremos muito emseparar-nos de você para consentir com isso facilmente.- Obrigada, senhor, mil vezes por sua hospitalidade - ela respondeu, sorrindo timidamente.
- Vocês têm sido muito gentis comigo, eu raramente fui tão feliz em toda a minha vida antes, como em seu belo castelo, sob seus cuidados e na companhia de sua querida filha.
Ele então perguntou se ela sabia onde uma carta poderia chegar até ela no momento.
- Não posso dizer - respondeu ambiguamente, - mas tenho de pensar em sair daqui. Vocês já têm sido muito hospitaleiros e muito amáveis comigo. Tenho-lhes dado uma infinidade de problemas e gostaria de tomar uma carruagem amanhã e sair no encalço dela. Sei onde encontrá-la no fim das contas, embora eu ainda não ouse dizer-lhes.- Mas você não deve sonhar com tal coisa - exclamou meu pai, para meu grande alívio. - Nós não podemos nos dar ao luxo de perdê-la dessa forma e não vou permitir que nos deixe, exceto sob os cuidados de sua mãe, que tão bondosamente consentiu que você ficasse conosco até que ela pudesse voltar. Ficarei muito feliz se souber que você ouviu isso dela. Esta noite, porém, as notícias do avanço da misteriosa doença que invadiu nossa vizinhança tornaram-se ainda mais alarmantes e, minha bela hóspede, sinto a responsabilidade, desassistido sem a presença de sua mãe. Mas darei o melhor de mim e uma coisa é certa: você não deve pensar em nos deixar sem a distinta autorização dela para isso. Sofreremos muito em separar-nos de você para consentir com isso facilmente.
- Obrigada, senhor, mil vezes por sua hospitalidade - ela respondeu, sorrindo timidamente. - Vocês têm sido muito gentis comigo, eu raramente fui tão feliz em toda a minha vida antes, como em seu belo castelo, sob seus cuidados e na companhia de sua querida filha.
Então ele galantemente, na sua maneira antiga, beijou a mão dela, sorridente e satisfeito com seu pequeno discurso.
Acompanhei Carmilla, como de costume, até seu quarto e conversei com ela enquanto ela se preparava para dormir.- Você acha - eu disse em seguida - que nunca vai confiar plenamente em mim?
Ela virou sorrindo, mas não deu qualquer resposta, apenas continuou a sorrir para mim.
- Você não vai responder? - disse eu. - Você não pode responder amigavelmente.
Eu não devia ter perguntado.- Fez muito bem em me perguntar isso, ou qualquer outra coisa. Você não sabe como é querida por mim ou não pode imaginar nenhum segredo grande demais para saber. Mas estou sob juramento, nenhuma freira faria um voto tão terrível e não ouso contar minha história ainda, até mesmo para você. Está muito perto o tempo quando deverá saber de tudo. Você acha que sou cruel, muito egoísta, mas o amor é sempre egoísta, quanto mais ardente, mais egoísta. O quanto sou ciumenta você não pode imaginar. Você deve vir comigo, me amar, à morte ou então me odiar e ainda vir comigo. E odiar-me na morte e depois. Não existe a palavra indiferença na minha apática natureza.
- Agora, Carmilla, vai falar com seu....seu extravagante disparate novamente? - eu disse apressadamente.
- Não eu, pequena tola como sou e cheia de caprichos e desejos. Para seu bem vou falar como um sábio. Já teve uma bola? Não? Como é que a fazia rolar? Como é? Como deve ter sido encantador. Eu quase esqueci, foi há anos.
Eu ri.
- Você não é tão velha. Não pode já ter esquecido sua primeira bola.
- Lembro-me de tudo com certo esforço. Eu vejo tudo, como mergulhadores devem ver o que está passando acima deles, através de uma névoa densa, ondulante, mas transparente. Ocorreu naquela noite o que tem confundido as imagens e feito desmaiar suas cores. Fui quase assassinada em minha cama, ferida aqui - ela tocou o peito - e nunca mais fui a mesma desde então.
- Esteve perto de morrer?
- Sim, muito, uma cruel amor, estranho amor, que teria tomado a minha vida. Amor tem seus sacrifícios. Nenhum sacrifício sem sangue. Vamos dormir agora, eu me sinto tão preguiçosa. Como poderia levantar-me agora e trancar minha porta?
Ela estava deitada com suas minúsculas mãos enterradas em seu rico cabelo ondulado sob sua face, sua cabecinha sob o travesseiro e seus olhos brilhantes me seguiam para onde eu me movesse, com uma espécie de sorriso tímido que não consegui decifrar.
Eu lhe desejei boa-noite e deslizei para fora do quarto com uma sensação desconfortável.
Eu sempre me perguntava se a nossa bela hóspede nunca dizia suas orações. Certamente nunca a vi de joelhos. De manhã, ela nunca descia até muito tempo depois que terminávamos nossas orações familiares. À noite, ela nunca deixava a sala de estar para assistir às nossas breves orações da noite no hall.
Se não tivesse sido casualmente que surgira, em um de nossas descuidadas conversas, que tinha sido batizada, eu teria duvidado dela ser uma cristã. Religião foi um assunto sobre o qual eu nunca ouvi dela uma só palavra. Se eu conhecesse melhor o mundo, esta particular negligência ou antipatia não teria me surpreendido tanto.
As precauções de pessoas nervosas são contagiantes e as pessoas de um temperamento semelhante com muita certeza, depois de um tempo, imitam-nas. Eu tinha adotado o hábito de Carmilla de trancar a porta do quarto, tendo em minha mente todas as suas caprichosas precauções sobre invasores da meia-noite e assassinos à espreita. Eu também tinha adotado sua cautela de fazer uma breve busca pelo seu quarto, para satisfazer a si própria de que nenhum assassino oculto ou ladrão estava ali escondido.
Tendo tomado essas sábias medidas, fui para minha cama e adormeci. Uma luz queimava em meu quarto. Este era um hábito antigo, desde muito tempo e que nada poderia tentar-me dispensar.
Assim protegida eu poderia descançar em paz. Mas sonhos vieram através de paredes de pedra, salas escuras ou na penumbra e pessoas faziam suas saídas e suas entradas como lhes aprouvesse, rindo do porteiro.
Eu tive um sonho nessa noite que foi o início de uma agonia muito estranha.
Não posso chamá-lo de um pesadelo, pois eu estava bem consciente de estar dormindo. Mas estava igualmente consciente de estar em meu quarto e deitada na cama precisamente como realmente estava. Eu vi, eu vi ou imaginei, o quarto e os seus móveis, tal como eu tinha visto antes de dormir, exceto que era muito escuro. Vi uma coisa que se deslocava em volta dos pés da cama, que inicialmente não podia distinguir com precisão. Mas logo vi que era um animal preto fuliginoso semelhante a um monstruoso gato. Pareceu-me ter cerca de quatro ou cinco pés de comprimento, plenamente medindo o comprimento do tapete diante da lareira, uma vez que passou por ele e ficou indo e vindo com a ágil e sinistra agitação de uma besta numa gaiola. Eu não podia gritar, embora, como pode supor, estivesse apavorada. Seu ritmo foi crescendo mais rápido. Rapidamente o quarto foi ficando cada vez mais escuro e mais escuro e, finalmente, tão escuro que eu já não podia ver nada, exceto seus olhos. Senti-o saltar levemente sobre a cama. Os dois grandes olhos se aproximaram de meu rosto e, de repente, senti uma dor pungente, como se duas grandes agulhas picassem, uma polegada ou duas distantes uma da outra, profundamente em meu seio. Eu acordei com um grito. O quarto estava iluminado pela vela que ardera lá durante toda a noite e eu vi uma figura feminina de pé aos pés da cama, um pouco na lateral direita. Trajava um vestido preto longo e solto e seus cabelos estavam caídos, cobrindo seus ombros. Um bloco de pedra não poderia estar mais imóvel. Não havia a menor agitação de sua respiração. Enquanto eu a encarava, a figura pareceu ter mudado de lugar e estava agora mais perto da porta, em seguida, junto dela, abriu-a e saiu.
Eu me senti então aliviada e capaz de respirar e mover-me. O meu primeiro pensamento foi que tinha sido Carmilla dando-me um susto e que eu tinha esquecido de trancar minha porta. Apressei-me até ela e a encontrei trancada, como de costume, por dentro. Eu estava com medo de abri-la. Fiquei horrorizada. Eu saltei para minha cama, cobri minha cabeça com as cobertas e fiquei ali mais morta do que viva até de manhã.
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Carmilla
Acakum livro de J. Sheridan LeFanu 1872. conta a história de duas jovens muito diferentes, mas que acabam se tornando amigas inseparáveis. Carmilla e Laura.