Capítulo 10

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Como eu já sabia, a tal festa foi um tédio total. Meus pais, tios e primos mais velho bebendo até a madrugada, minha irmã mais nova com as priminhas da sua idade brincando, correndo e gritando. Não teve bolo, não teve doces, não teve balões. Nada que uma festa de aniversário deveria ter, apenas bebidas, carne assada e cigarros.

Não que eu achasse isso ruim, é que as festas tradicionais costumavam ter coisas doces, para motivar as pessoas a ficarem, certo? Contudo, minha noite se encerrou as onze e meia, quando um jantar foi servido, e todos já haviam se empaturrado de galinhada, feijão tropeiro e carne. Evitei ao máximo que alguma tia se aproximasse fazendo a pergunta que qualquer sobrinho na minha idade, está de saco de cheio de ouvir. Por mais que eu diga que não estou namorando, e que não há ninguém em minha vida "amorosa", eles insistem em dizer que eu só estou com medo d e abrir o jogo. 

Isso me irrita, e me faz ter mais vontade ainda de mandar todos pra puta que pariu.

 Quando saímos de casa, o meu pai ainda não havia chegado. Não quis saber onde ele estava, muito menos que horas iria chegar, realmente não importava. Quanto mais distante, melhor. Minha noite na casa da amada aniversariante, não foi a das melhores. A cama estava repleta de crianças que não aguentaram passar das dez, então me virei no tapete vermelho que cheirava a iogurte e mofo. Um cheiro realmente estranho. Um edredom e um travesseiro que tapava um pouco o cheiro que me trazia um pouco de repulso. E quando achava que ia conseguir dormir, me assustava com alguma mãe preocupada com sua cria, ligando a luz em meu rosto para ver se o bicho papão não havia devorado alguma criança. 

Quando me dei conta já era dia, e todos  já estavam de pé, comendo um belo pedaço de melancia. Não vi minha mãe, mas não me importei em procura-la, fui rumo ao riacho que havia nos fundos da chácara e me ajeitei por lá. Não estava nem muito  calor nem muito frio, era o clima ideal. Sem gritos sem barulho e sem perguntinhas insignificantes. Apenas eu comigo mesma. 

Entre uma tragédia com uma melhor amiga e uma noite quase perfeita com um cara de cabelos lindamente bagunçados, eu me sentia um pouco perturbada, pensando se teria sido bom ou ruim, esses últimos acontecimentos. Pois sem o atropelamento de Ashley, eu não teria ido parar naquela montanha com o Greg, e meu celular estaria inteiro agora. 

Não queria pensar naquilo tudo, ou ia acabar enlouquecendo. Mas a medida em que tentava esquecer, mais eu pensava. As vezes eu odeio ser humana, parece ser tão mais fácil ser um animal. Infelizmente não posso mudar minha natureza e como todos dizem "Deus me fez assim"

O domingo passou se arrastando, e perto das três da tarde meu pai chegou com um homem que eu nunca havia visto. E com um saco cheio de peixes em mãos. Como esperado, ele fingiu que nada havia acontecido. Nem se quer olhou pra mim, ou fez algum gesto de comunicação. Melhor assim. 

E depois de muita conversa,bebidas um peixinho assado, cigarros e músicas dançantes, estávamos prontos para ir embora. uma viagem de mais ou menos vinte e cinco minutos, em total silêncio. 

Chegamos as seis em ponto, e nem mesmo me dei ao trabalho de perguntar se poderia sair, ja sabia qual seria a resposta. Tomei um banho e arrumei meus cabelos, deixando eles lisos e com um cheiro agradável. Uma revisada na matéria para a prova do dia seguinte, mal sabia o que eu estava lendo mas não parava por um só segundo. 

Meu celular fazia falta nessa hora, sempre colocava uma música bem alta, para não ouvir as pequenas discussões e ofensas pelos meus amados pais. Não vi a Loren, e me tranquei no quarto para que minha mãe não me fizesse perguntas e continuasse mantendo meu pai distante de mim. 

Me deitei, ciente de que dali a poucas horas estaria explicando tudo a Ash e FINALMENTE tiraria todo aquela culpa das costas. Só precisava dormir. Dormir profundamente.

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