Vidro Fino

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Prólogo

             O dia de Jenna foi como qualquer outro. O dia escolar foi cansativo, mas ela não ficara tão cansada quanto ficava normalmente. Planejou cozinhar algo e decidiu fazer alguma coisa doce para sua avó e também decidiu que daria parte para os novos vizinhos. Na noite passada, Jen viu uma moto e um carro estacionarem no jardim do vizinho e, pela manhã, um caminhão de mudança estacionou lá e só foi embora um tempo depois que ela chegou da escola.

           Talvez fosse uma família com filhos adolescentes ou sem filhos. Crianças costumavam sair pela rua, procurando fazer novos amiguinhos ou apenas brincar e por isso, Jen estava receosa. Particularmente, crianças eram, para ela, bem mais fáceis de lidar. No caso de adolescentes, como ela, eram complexos, frios, temperamentais ou apenas explosivos. A garota conseguia ser assim, mas na maior parte do tempo ficava apenas oscilando, sendo sempre o porto seguro para alguma pessoa que precisasse. Ela simplesmente não podia explodir enquanto consolava alguém.

           Não era a coisa mais saudável ou recomendável, isto é, guardar as emoções, porém a menina não se importava. O seu almoço do dia foi o mais requintado, chique e digno: miojo de carne. A avó saíra para visitar uma amiga e Jen estava com fome. A coisa mais rápida que podia fazer para acabar com aquilo era o digníssimo macarrão instantâneo. Mais tarde, quando já estava descansada, pensou em um jeito de cumprimentar os novos vizinhos.

- Bolo com calda de chocolate! Todo mundo ama chocolate! – ela concluiu, indo até a cozinha.

           A blusa branca e larga contrastava com o short laranja manchado de tinta vermelha. Ela prendeu o cabelo castanho claro e curto em uma tentativa de coque, com ajuda de um monte de grampos, e lavou as mãos, notando que seu esmalte roxo fosco estava descascando. A cozinha parecia pequena, com apenas um espacinho entre o armário e a pia. Por sorte, ela sabia de cor onde tudo estava então não haveria problema algum. Ficou na ponta dos pés e abriu uma das portas do armário branco, retirando uma tigela enorme, bege e azul, e uma batedeira.

           Na pia, ela lavou duas xícaras e chegou à geladeira, a procura dos ingredientes. Ovos, leite, margarina, açúcar, fermento... Em outra porta do armário, ela pegou a farinha e chocolate em pó, os últimos ingredientes necessários.  Começou com um monte de farinha sobre a tigela, com uma colherzinha de fermento e uma colher de manteiga. Quebrou os voso em uma tigela separada, usando então a batedeira para fazer claras em neve.

           A massa foi a parte mais fácil e, enquanto o bolo em si assava, Jenna checava os dentes e a coragem no espelho. Ela não era tímida e nem insegura na maior parte do tempo.  O cheiro enchia a casa e ela foi fazer a calda. A menina conseguia ouvir “Love Drunk”, uma música dos Boys like Girls, tocando vindo da outra casa, não a dos novos vizinhos. Provavelmente, Eva, a moça que morava sozinha naquela casa, tinha sido dispensada por mais algum namoradinho. A menina jogou a calda sobre o bolo, que já estava pronto, depois de desenformá-lo. A jovem cortou um pedaço bem generosos deste e colocou sobre uma travessa para levar.

           Ajeitou o cabelo mais uma vez e saiu de casa, seguindo o gramado. A casa deles era linda, roxa e enorme, e Jenna lembrou que ficara muito tempo vaga, por ser bem cara. E ninguém rico o bastante viera morar lá, bem, até agora. Os pés cobertos pelos tênis desgastados arrastavam-se sobre a grama alta. Os dedos apertavam os lados da travessa, as juntas ficando esbranquiçadas. Finalmente, ela se encontrava em frente à porta de madeira, sentindo-se como o povo de Israel depois de atravessar o deserto. Ela bateu à porta levemente, ouvindo passos e em seguida, o barulho do trinco abrindo.

           Nada poderia tê-la preparado para aquele momento, porque toda vez que a moça encontrava um conhecido atraente, não importava o quão atraente fosse, era normal. Ela conhecia a cidade toda e seus meninos bonitos, então não era surpresa vê-los. Mas aquele garoto era diferente. Ele era lindo, sim, mas era diferente, um forasteiro cuja beleza Jenna não conhecia e aquilo a atraíra no exato momento. Ele tinha um suave topete em seus cabelos castanhos,  quase que chocolate, com olhos redondos e de um verde profundo. Os lábios eram rosados e carnudos, fazendo um duo perfeito com os olhos brilhantes. O rosto já tinha feições adultas e charmosa e embora não estivesse sorrindo, só de imaginá-lo com um sorriso no rosto, ela podia sentir as pernas tremerem.

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