Capitulo 6

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- Me contar o que? - ele sentou-se, com as sobrancelhas arqueadas, com um misto de preocupação e curiosidade. Ela levantou se supetão, pegando os biscoitos e o livro. - Oi, Jen, peraí!

- É só me seguir. - ela empurrou a porta, seguindo por dentro da casa. Era bem menor que a dele, mas parecia extremamente aconchegante.

Eles atravessaram o corredor, chegando até a sala onde estava a escada. O quarto de Jenna foi fácil de encontrar, já que haviam letras de emborrachado colorido formando seu nome. Vermelho, verde, azul, amarelo, rosa e roxo. Tinha tudo a ver com a menina, com seu jeito de criança, e quando ele ira comentar sobre aquilo, ela o puxou para dentro do cômodo.

- Bem vindo à minha base secreta! - o quarto não era tão infantil quanto ele esperava.

Ele imaginara um quarto cor-de-rosa, cheio de laços, perfume e ursinhos de pelúcia. As paretes eram, na verdade, pintadas de um amarelo queimado, o chão de linóleo e o teto de madeira pintado de branco. O lustre, que iluminava o quarto, era simples, mas adorável. No resto, havia um longo espaço com um tapete colorido, uma escrivaninha, uma cama e uma estante cheia de livros e quadrinhos.

- Então, o que você ia me contar? - ele finalmente trouxe o assunto a tona e ela levantou a cabeça, pegando um albúm de fotos da estante.

- Bem, você sabe, eu moro aqui com a minha avó e que eu tenho uma mãe... - ela acrescentou a ultima parte um pouco tristemente, enquanto o abria o albúm ao lado deles. Ambos tomaram lugar sobre a cama da menina. A porta estava aberta e o vento que rondava a casa toda parecia assobiar. Em várias fotos, Rowan notou a mesma bebê, sempre em diferentes vestidos coloridos e com diversas fitas coloridas. Às vezes, esta se encontrava nos braços da avó de Jen, que ele reconhecera de primeira.

Já em outras, ela estava nos braços de uma mulher alta e esguia, com cabelos da cor dos de Jen, um caramelo bonito, longos e com mais ondas do que o mar pela manhã. Embora não tivesse os olhos puxados de gata que Jenna tinha, ele não podia deixar de notar a semelhança das duas. Jenna ficou parada olhando para uma foto das três, com uma sombra de sorriso no rosto. A mãe dela estava doente? O que aconteceu?

- Bem, a minha mãe trabalha muito. - ela murmurou. - É por isso que ela quase nunca pode estar aqui. Eu geralmente só a vejo em feriados muito longos e é complicado, porque ela está muito cansada. Ela se sacrifica tanto...

- E seu pai? - ele tentou, mas Jen parecia ter ficado mais triste.

Ela não conseguiu dizer nada, a voz estava presa na garganta. Assim que Rowan notou isso, ele puxou Jenna para si, fazendo-a recostar sua cabeça sobre o peito do rapaz. Ela começou a chorar, a tristeza que ela sentia, por si mesma, por Rowan, por tudo. Ela apenas queria deixar as lágrimas irem e levarem tudo embora. Mas nada levaria aquela tristeza embora. Ela apertou a camiseta dele entre seus dedos, escondendo-se em um casulo dentro dos braços do menino. Ele a apertou contra si, quando ela começou a tremer. Quando ela levantou os olhos, ele sentiu-se tão triste. Os olhos estavam vermelhos e inchados e o nariz parecia piscar. Ele colocou a mão no queixo dela por alguns segundos, fazendo-a olhar para ele.

- Escuta, Jen. Eu sei que você confia em mim, mas não precisa se forçar a fazer algo que você não quer. - ele disse, sinceramente. Se era assim que ela conheceria melhor, ele preferia esperar. Fazer Jenna chorar era como bater em um bebê: Não fazia sentido e só trazia dor para ambos.

Ela tinha uma fisionomia determinada, e Rowan quase voltou a sorrir. Jenna não era do tipo que desistia fácil. Jen quase sempre era a corajosa, a que se jogava de frente. E mesmo entre as lágrimas, como naquele momento, ela parecia forte. Os cabelos castanhos estavam bagunçados e com uma folha bem no topo. Ele assoprou a folha e ela se enfiou de volta no calor de seus braços. O menino a apertou, passando a mão sobre sua cabecinha. Jen podia até ser forte, mas quando ela estava assim...

- Meu pai deixou a gente. Antes de eu nascer. - ela continuou, a voz soturna.  - Me deixa continuar, tá? A minha avó não tinha muito dinheiro, e acabou se endividando para ajudar nós duas. Meu pai fugiu pra algum lugar e minha mãe, para pagar tanto as dividas quanto as contas, teve de arranjar um emprego.

- Calma, calma. - ele fez carinho na cabeça da menina. Seus olhos começaram a perder um pouco do vermelho e ela mordeu os lábios, encarando-o.

- Desculpa te fazer passar por isso. Eu sou uma manteiga derretida. - ela tentou limpar as lágrimas com as costas da mão e ele tirou um lenço do bolso, limpando o rosto da menina por ela.

Ela havia esquecido o tipo de sensação que ele causava nela. Era uma coisa engraçada, estar gostando de alguém e seguindo levemente todos os clichés que existem. Jenna queria poder dizer que não, ele não fazia seu coração bater mais rápido, ou que não fazia-a ficar vermelha ou que ele não a deixava estranha e nervosamente consciente das roupas que usava ou de como seu cabelo estava. Ela também gostaria de adicionar a sua vontade de não sentir como se ele fosse o menino mais perfeito, doce e gentil, o perfeito principe encantado. É, ela seguia os clichés tão bem que ela mesma tinha vergonha e ria deles.

Ela chegava a ser tão óbvia perto dele que se sentia mais idiota ainda. Será que ele ainda não havia percebido porque era denso ou estava apenas ignorando? Jenna se sentia tentada a acreditar na segunda opção, ainda sentindo que Rowan fosse preferir Joni. Ela, eventualmente, olhava-se no espelho e sentia-se bonita e especial, mas haviam outros dias em que ela simplesmente sentia-se como um lixo humano. Isso acontece com todo mundo, o dia em que acorda-se virado e com vontade de matar e morrer. Esse ai sempre pega todos, não importa quem é ou o que faz.

Rowan, entretanto, sentia como se talvez, se fosse bem devagar e lentamente, ele conseguiria conquistá-la. Ele era um rapaz confiante, com toda certeza. Claro, que como todo garoto, ainda tinha suas disconfianças. Principalmente, porque Jen era amigável demais, e ele não tinha certeza se para ele, ele era apenas o "melhor amigo" ou não. Sim, ele, Rowan Charles Leonidas, estava com medo de ficar empatado no banco de reservas como amigo. A menina, agora calma, ainda estava em seus braços e ele chegou a considerar que talvez houvesse esperança para o seu caso.

- Sente-se melhor agora? - ele riu, e a menina o acompanhou. Ela acabou soltando-se dele, o que foi uma pena para ambos, mas eles sorriam agora.

- Muito e você? - ela levantou-se por um pouco, esticando as pernas. Colocou o albúm em seu lugar na estante de livros e Rowan examinou alguns dos títulos. Muitos deles estavam em inglês, o que era tranquilo, mas outros estavam em... Japonês? Ele não era o melhor com ideogramas e não conseguia nem assimilar direito o francês e o espanhol que aprendia na escola.

- Ótimo. - ele pegou um dos biscoitos que ela trouxe para cima, e ela acabou pegando o último. - Melhor ainda. Você sabe que é a menina mais incrível que eu já conheci?

- Na verdade não. - ela engoliu um pedaço do biscoito, sentindo a sede abate-la. - Vamos descer e pegar algo mais para beber. Minha garganta tá parecendo um deserto.

- Meu Deus, menina. Exigente demais pro meu gosto. - ele fez bico, mas foi puxado para fora da cama por uma baixinha enfezada. Ele acabou cedendo e a acompanhou, escada a baixo, até a cozinha. Ela conseguiu virar uma garrafa de água inteira em menos de 1 minutos, deixando Rowan extremamente assustado. - Hum, Jen, você tá bem?

- Claro, claro. - ela sorriu, sentando-se sobre o balcão. - É que eu costumo beber muita água, então não se importe com isso, tá?

- Então, tá, né? - ele acabou rindo, embora continuasse a achar a sede dela um pouco estranha. Foi cara de pau e tomou um copo enorme de leite. - Eu vou ter que vazar, princesa. Tenho que ajudar a minha mãe com as compras. - ele se levantou e deu-lhe um beijo estalado na bochecha.

- Tá, vai na sombra. E manda o beijo pra Dona Betty. - ela respondeu, levantando e abrindo a porta. Assim que a fechou, deslizou pela parede até o chão, abraçando os joelhos. Ter contado aquilo havia reaberto um buraco em seu coração e ela precisaria de um tempo para se recuperar.

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