Capítulo 2 - Começo

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Era 6:30 da manhã e meu despertador tocou, hora de ir para escola - estava no 3º ano do Ensino Médio, e faltava uns 5 meses para me formar, era o primeiro dia de aula depois das férias do meio do ano - fiquei enrolando na cama, e depois levantei, me arrumei, e fui para a cozinha tomar café - minha mãe sempre acordava uns minutos antes de mim, para preparar meu café, e se certificar que eu realmente estava acordado. Ela sonha com um futuro perfeito para mim, faculdade, trabalho de respeito, e nunca permitiu que eu faltasse em nenhuma aula, porque ela diz que a escola é o primeiro passo para isso.

-  Bom dia Mãe! - falei puxando a cadeira e sentando.

- Bom dia! - me deu um beijo na cabeça - Tá atrasado em moço!!

Minha mãe era extremamente pontual, se a escola começa 7:00, 7:00 eu tinha que estar lá, nem antes, nem depois. 

- 2 minutos só Dona Isabel - falei bagunçando o cabelo dela, e achando graça.

 Terminei meu café e fui escovar os dentes, peguei a mochila e dei tchau para ela, e de longe ouvi ela falando bem baixinho : Pode deixar meu velho, vou fazer de tudo pro futuro dele ser brilhante.

Lembra que eu falei que minha mãe queria o futuro perfeito para mim? Então, não é só ela. Há alguns anos atrás, quando eu tinha 10 anos, um acidente de carro, com um motorista embriagado, levou meu pai da gente. Ele não tinha estudo, e por mais que tentasse um bom emprego, não conseguia por conta disso, e sofreu muito, e ele sempre dizia que eu teria em dobro o que ele não pode ter, me colocou em uma escola particular, se esforçando para poder pagar, e eu tentei retribuir com todo meu esforço, eu não faltava e ia muito bem na escola, as melhores notas da classe eram minhas, e isso deixava um sorriso no rosto dele, que era o melhor agradecimento que eu poderia querer, meu pai sentia orgulho de mim. E quando ele se foi, eu prometi que mesmo ele não estando aqui, eu realizaria o sonho dele, e minha mãe também queria isso, e ficava sempre em cima, para que eu não desviasse do meu caminho, e seguisse por um errado, como a maioria dos adolescentes de 17 anos fazem: drogas, bebidas, festas, várias mulheres.

Eu não reclamava, porque eu gostava disso, eu gostava de ser só eu e ela, de ficar em casa, assistir TV, ler, o que os outros jovens achavam um absurdo, eu era visto com um esquisito na escola, e não pela minha aparência, e sim pelos meus gostos e comportamento. Meu melhor amigo era o Pilha, na verdade Guilherme, mas ele era tão elétrico quando criança, não parava quieto um minuto, que acabaram apelidando ele de Pilha. Ele é alto, magro, pele negra, usa óculos e ao contrário de mim, vai muito mal na escola, ele é apaixonado pela Bianca, desde a 4ª série, e a vida dele gira em torno dela. A gente se conheceu na 2ª série, quando estávamos brincando e eu trombei nele e derrubei seu óculos, que quebrou, e minha mãe teve que pagar outro, mas quando ela se encontrou com a mãe dele para resolver a situação, elas acabaram ficando muito amigas, e o Pilha e eu brincávamos direto, e acabamos crescendo juntos.

Cheguei na escola e o Pilha estava me esperando no portão, conversamos um pouco e entramos, as aulas foram um saco, como sempre. Quando descemos para o intervalo, uma menina esbarrou em mim.

- Desculpa - falei, quando olhei para ela reconheci na hora, era a Luíza.


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