E a festa terminou assim, com o Pilha totalmente bêbado, quase não se aguentando em pé, como quase todos os outros da festa estavam, e eu resolvi acabar com a festa, afinal já era quase 4:00 da manhã, demorou até todo mundo sair, não sei como coube toda aquela gente dentro de casa.
O Pilha deitou no sofá e apagou do jeito que estava, resolvi não mexer, fui pro quarto dele, e deitei lá.
*
Era umas 11:30 quando acordei, com o telefone tocando, era minha mãe:
- Oi mãe - falei bocejando
- Esqueceu que tem casa foi?
- Calma Dona Isabel, já estou indo, acabei dormindo demais, só isso.
- Você só não esquece que amanhã tem prova de física, e é muito importante para as suas notas
- Tá bom mãe... tá... tá... ok... tchau.
Eu realmente não gostava muito de festa, e queria mesmo realizar o sonho do meu pai, mas todo mundo precisa de um descanso, e minha mãe não me dava esse descanso. Lembra? Eu falei que gostava disso, apesar ela tinha um motivo, mas na verdade era o que eu tentava me convencer: que eu não ligaria para a pressão que ela fazia, mas era difícil, tinha hora que cansava.
Levantei, e tomei até um susto quando saí do quarto, a casa estava imunda, tinha cerveja para todo lado, comida jogada, roupas, tinha até sangue, não quero nem saber a história, só sei que daria um trabalhão para o Pilha limpar aquilo. Ele estava do mesmo jeito largado no sofá, acordei ele, avisei sobre a bagunça e fui embora, disse que depois eu voltaria para ajudar.
Cheguei, almocei, estudei, conversei sobre a festa com a minha mãe, e fui ver como estava o progresso do Pilha. Quando cheguei ele estava quase acabando, ajudei ele, e até que foi bem divertido contar o que ele fez na festa.
Quando acabamos, era umas 18:30, eu estava saindo da casa dele quando eu vi a Manu sentada em frente a casa dos pais delas.
- O que a dama faz sozinha na escuridão? - perguntei me aproximando, não sei se tínhamos essa intimidade para brincadeiras ainda, mas mesmo assim arrisquei.
- Oooi - ela disse se lembrando de mim - tô aqui pensando, nada demais.
- Pensando em que? Na vida?
Ela só entortou um pouco a cabeça, com um olhar meio triste
- Quer pensar sozinha?
- Na verdade não! Senta aqui - bateu na calçada com a mão
Me sentei do lado dela, e arrisquei.
- O que foi? - falei olhando para ela
Respirou fundo e falou
- Nem eu sei exatamente - pausou - eu só... não consigo me sentir bem nessa casa - tentou falar mais alguma coisa, mas desistiu
- Mas você não mora aqui?
- Não, lembra quando eu falei que era irmã da Bianca? - assenti com a cabeça - então, eu sou, mais sou meia-irmã, meus pais se divorciaram quando eu tinha uns 7 anos, e eu fui morar com a minha mãe no Rio, e desde que meu pai se casou de novo, ela não deixou mais nós nos ver, então conversávamos escondidos pela internet, porque eu sentia muita falta dele, e foi assim que eu fiquei sabendo que eu ia ter uma irmãzinha, hoje foi a primeira vez que eu vi ela - ahh explicado o "orgulho" - quando eu me formei no colégio, eu comecei a faculdade e o sonho do meu pai, era que a filha dele se torna-se uma arquiteta, que nem ele, mas eu não quis, pesquisei muito, e decidi por nutrição, e pode acreditar, esse foi o motivo, pelo qual meu pai é frio comigo, me trata diferente - eu ouvia atentamente cada palavra que ela falava em silêncio, percebi que ela estava com essa história entalada, e que precisava desabafar para alguém - agora que fiz 18 anos, resolvi vir visitá-los, mas ele não perde a oportunidade de jogar na minha cara - começou a chorar - toda hora que eu não dei orgulho pra ele - falou com a voz falhada, e abaixando a cabeça entre os joelhos.
Coloquei a mão no cabelo dela e acariciei, como uma tentativa de consolo, não sabia o que falar, não era bom com conselhos. O meu gesto fez ela erguer a cabeça e olhar para mim.
- Eu queria voltar para casa, mas briguei feio com a minha mãe para vir cá, é melhor deixar esfriar as coisas.
- E você vai ter que aguentar ficar aí? Porque não arranja um hotel?
- Não tenho dinheiro, vim sem nada, só não fui bem recebida - falou quase chorando de novo.
Ela se levantou, limpando os olhos com as costas da mão, assim que eu levantei, ela riu para mim e me deu um abraço.
- Obrigada!
Não disse nada, só retribui.
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Memórias
RomanceComo às vezes podemos ser tão tolos? Como tomamos decisões que vão acabar deixando nossa vida de cabeça pra baixo? Foi bem isso que aconteceu com Eduardo, você com certeza vai se apaixonar por essa história.