- Que foi? - eu disse, estranhando.
- A festa volta as aulas ficou por minha conta dessa vez - a festa volta as aulas é uma tradição da escola, e cada ano um aluno é escolhido para dar a festa (geralmente os mais populares) não sei bem como eles escolhem isso, nunca me interessei também. Essa festa só acontecia no começo do ano, mas como esse pessoal adora uma festa, é feita duas vezes por ano agora - e você vai ter que me ajudar!
- Mas como? Como eles te escolheram, você não fala com metade da escola.
- Sei lá! Talvez, porque eu pedi - disse, abaixando o volume da voz
- Hã?
- Talvez porque eu pedi.
- Ahhh Pilha fala sério, porque isso? Você se mete em cada roubada, você já imaginou o tamanho da merda que vai dar isso? Seus pais já sabem?
- Não exagera Edu, para de ser velho. Eu achei legal, para gente se enturmar! Meus pais vão viajar esse final de semana. Vai dar tudo certo, mas você vai ter que me ajudar.
Eu não era velho, só não gostava de encrenca pro meu lado. O Pilha sempre foi assim, era o sonho dele conhecer todo mundo, "pegar" várias, e não davam a mínima bola para ele. Até acho que se nós não nos conhecêssemos desde pequenos, jamais seríamos amigos.
- Tá - sempre acabava concordando, não tinha jeito, como eu ia deixar ele aguentar essa bomba sozinho? - a merda já tá feita mesmo - falei sério, e ele comemorou.
- Beleza! Já tem alguma ideia?
- Que? - ri alto - Você vai pensar em tudo sozinho - não tinha como ajudar, as poucas festas desse tipo que fomos convidados, eu não fui - eu só vou no dia para te ajudar.
- Tá bom - falou arrastando a voz, e desligou.
*
Sábado estava chegando, e era o único assunto que o Pilha sabia falar, eu não o culpava, era o que ele queria há muito tempo, e achava até engraçado a ansiedade dele.
No dia da festa, como eu tinha prometido, fui até a casa dele para ajudar, arrumamos tudo, pelo menos parecia que tava arrumado, era um bom começo. E quando deu a hora, eu ia saindo, quando...
- Aonde você vai?
- Vou para a casa!
- Não Edu, você tem que ficar, não pode ir.
- Qual é Pilha? Você sabe que eu não gosto dessas festas, já fiz minha parte.
- Não mesmo, eu não vou conseguir controlar esses selvagens sozinho.
E adivinhem? Pois é, eu fiquei. Não pensem que eu faço tudo que ele pede não, é só que o Pilha já me ajudou várias vezes quando precisei. Abri um refrigerante e fiquei lá sentado.
*
Os convidados começaram a chegar, e em menos de uma hora, a casa estava lotada, já tinha gente se pegando, gente bêbado, brigando, dançando, e eu não estava mais aguentando ficar ali, peguei outro refrigerante e fui lá pro fundo do quintal, onde a música ficava bem abafada, e permaneci ali, durante um bom tempo, até vi algumas pessoas indo embora, mas a festa não dava o mínimo sinal de que estava acabando. Fui lá dentro buscar outro refrigerante e voltei pro mesmo lugar, passou uns vinte minutos e eu vi uma pessoa vindo na minha direção, era a Luíza.
- Tá fugindo? - falou rindo
- Mais ou menos, acho que me escondendo seria a palavra certa - sorri
- Eu vi você lá dentro, e depois vindo para cá
- É...
Ela sentou do meu lado
- Tô vendo que continua viciado em refrigerante de laranja -riu
- É impossível não gostar - ri - E você? Continua achando que engorda? - falei cutucando ela com o ombro.
- Aham! Nem chego perto.
- Mulheres..
- Senti saudade das nossas conversas - falou rindo e olhando para mim.
- Você tá diferente, tá mais loira - tentei mudar de assunto
- E você finalmente cortou o cabelo - falou fazendo aleluia com as mãos, nós rimos
- Resolvi mudar - falei meio as risadas.
- Ficou ótimo! Também emagreceu - falou com voz de aprovação - acho que eu ter ido embora, te fez bem.
- Ahh Dona Luíza, tá falando que eu era feio? - falei pondo a mão na cintura
- Longe de mim - riu
Ficamos conversando por uns dez minutos até uma amiga dela chamar para irem embora.
*
Passou mais uns minutos, e o Pilha apareceu
- Caramba! Te achei.
- Que foi?
- A Bianca veio.
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Memórias
RomanceComo às vezes podemos ser tão tolos? Como tomamos decisões que vão acabar deixando nossa vida de cabeça pra baixo? Foi bem isso que aconteceu com Eduardo, você com certeza vai se apaixonar por essa história.