Dois

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Verão. Altura do ano em que corpos suados fritam-se na praia. E como eu detesto praia. E sol. E pessoas.

Vou até ao meu vestuário e pego em todas as minhas estúpidas roupas e ponho-as em sacos enormes para serem doadas.
De seguida, encho o meu vestuário com um novo guarda-roupa que consistia em preto, cinzento e branco. É um novo e entusiasmante começo, à minha maneira.

Sempre gozavas das minhas roupas coloridas, agora o meu vestuário está como o meu amor por ti: sem cor.

Umas semanas depois vou ao cabeleireiro. Mando pintar o meu cabelo em tons de azul.
Porque apesar de tudo à minha volta estar sem cor, eu ainda tenho esperança, essa é a única coisa a que me resta agarrar. E agarro-a com toda a força. Com toda a força que me resta por acaso. Basta esperar que não me escape entre os dedos.

Quando saí à rua, o que é muito raro, as pessoas não paravam de olhar para mim. Ser o centro das atenções nunca foi o meu objetivo. Ao menos não para estas pessoas desconhecidas.
É de noite e eu estou a caminhar à beira-mar e apetece-me gritar. De alegria, de tristeza, de euforia, de frustração.
Ao longe, vejo um casal comendo-se (literalmente) na areia. Podia ser nós.

Grito.

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