Dez

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São nestes momentos de desespero que eu penso em K, a encantadora e durona K, a única verdadeira amizade que alguma vez tive. Ela era a única razão que me prendia a Portugal, mas depois do que aconteceu, já nada me prende lá.
K, foi, é e sempre será a minha confidente. Eu podia estar horas e horas a falar sobre ele, a lamentar-me por nunca o ter ou a contar-lhe o quão bonito ele hoje tinha ido para a escola. Ela sempre me ouvia.

Mas eu nunca a ouvia.

Até um dia, em que para variar ela abriu-se comigo, foi a primeira vez. "Eu já estou tão habituada de ver pessoas de quem eu gosto a partir." E foi aí, nesse preciso momento em que eu me apercebi que ela tinha problemas a sério e não passava a vida inteira a lamentar-se como eu. Os meus problemas comparados com aos dela eram totalmente mesquinhos.
Ela era forte, e eu frágil como uma pena. Oh meu Deus, como eu queria ter a força dela agora.
Ela puxou-me para cima quando eu pensei em desistir de tudo.

Fui até à cama de Jo, e tirei debaixo da cama uma caixa de sapatos cheia de cigarros e erva.

"Desculpa por não ter conseguido te salvar." Disse, já em lágrimas e acendo o cigarro, ponho-o entre os meus lábios e saboreio o seu sabor. Tuço algumas vezes quando o fumo me arranha a garganta, mas continuo.
Acaba o cigarro. Enrolo um pedaço de erva num papel branco e fumo-o. E repito.

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