Três

74 7 0
                                    

Os meus pais abraçam-me e eu digo que chegou a hora. Eles largam-me e eu não consigo olhar para eles.

Entro dentro do avião e por um momento desejo que este exploda pelo ar, ao menos assim eu ficava em paz no inferno. Ao menos assim não te tinha sempre a atormentar-me, mesmo quando eu já decidi que não vales nada. Nenhum satanás se compara a ti.

Estou indo para longe, longe de todos e principalmente longe de ti.
Nos próximos tempos estarei numa Universidade nos redores de Amsterdam, onde ninguém me conhece e eu finalmente possa começar do zero.

O táxi deixou-me à porta do estabelecimento.
Entro. Subo umas quantas escadas com as malas atrás e direciono-me para o corredor das raparigas.
Porta n° 21. Ganho coragem e abro.

"Ei!" Grita uma voz feminina, deitando a cabeça fora dos lençóis para me ver.

"Oh." Digo quando me apercebo que mais alguém estava por debaixo dos lençóis. "Desculpa. Eu só... Deixa estar." Deixo as malas lá dentro e saio, fechando a porta. Que bela maneira de começar a estadia por aqui. Uau.

Ando pelos corredores sem saber exatamente para onde ir. Vejo atentamente cada pessoa que passa por mim.

Sento-me num dos bancos desconfortáveis de madeira, ao meu lado está um rapaz a comer uma fatia de pizza e isso faz-me lembrar que ainda não comi nada desde que aqui estou.

"Tem pizza no bar." Olho para ele confusa. Olhei assim tanto tempo para ele? "Isto é, queres a pizza não é? Sei lá, podias estar a querer a mim."

"Eu não sei onde fica o bar." Disse ignorando a última frase do rapaz.

"Eu levo-te até lá." Ele levantou-se e começamos a atravessar o corredor. "És caloira, azulinha?" Assenti. Passamos por outro corredor e finalmente chegamos ao bar.

"Obrigada." Disse.

"De nada. Já agora, não escolhas a pizza de frango, tem um sabor esquisito. Prova antes a de bacon."

"Mas a de frango tem melhor aspeto."

"Oh minha querida azulinha, ninguém mais sabe o que é melhor neste bar sem ser eu." Ele disse a sorrir. Eu assenti mas mesmo assim escolhi a de frango. Dei uma dentada. Realmente um ovo podre era bem melhor que isto.

"Tinhas razão." Disse cuspindo tudo para o lixo mais próximo.

Sentamo-nos numa mesa, eu já com uma fatia de pizza de BACON na mão, e ele começou a tagarelar comigo.

Sobre o Ben: além de nunca mais voltar a desconfiar sobre o seu paladar, fiquei a saber que está um ano avançado de mim. Ele ensinou-me também as mil vantagens de ter uns quilinhos a mais e a grande vantagem de usar óculos, porque sim, ele usa óculos mas é porque "Faz-me parecer mais inteligente, não é mesmo que eu precise deles, mas sabes, algumas gajas têm fetiches estranhos."

CloneOnde histórias criam vida. Descubra agora