Capítulo V

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Zayn

"Porque é que ainda ninguém abriu a porta?" perguntou a rapariga com o seu ar preocupado. Estava a apanhar o cabelo com as duas mãos num rabo de cavalo. Os meus olhos dirigiram-se para as bochechas salientes percorrendo as orelhas até ao cimo da cabeça, o cabelo amarrado fazia-a parecer mais ingénua e infatil do que nunca. "Pensei que as pessoas vinham sempre à casa de banho nas festas."
Deteve-se quando não respondi fixando-me com os dois olhos escuros a brilhar. Respirei lentamente antes de encolher os ombros.
"Esta é uma casa de banho da cave"
"Oh que bom uma casa de banho da cave" disse dando uma fungadela. Certificou-se de desviar rapidamente o olhar do meu dirigindo a sua atenção para o cabelo; estava a tentar domar uma madeixa rebelde que saía do carrapido.
Reparei que tinha um pequeno sinal na curva entre o ombro e o pescoço, mesmo por cima da clavícula; ele subia e descia lentamente à medida que ela respirava. Era incrível como tinha uma pele tão branca, com certeza que devia despertar essa curiosidade em muita gente. Quer dizer, eu estava curioso.
Dei por mim a engolir em seco quando o ritmo da respiração aumentou e percebi instantaneamente que tinha sido apanhado por aqueles olhos muito abertos e curiosos.
"hum, o que foi?" Perguntou
"Nada"
No que estava eu a pensar? A reparar no corpo de uma rapariga que parecia uma criança enquanto estava trancado numa porcaria de uma casa de banho. Como se não fosse suficientemente mau ouvir gritos de cinco em cinco minutos.
A minha cabeça ocupou-se instantaneamente de outros pensamentos quando voltei a verificar o meu telemóvel para ver se as minhas mensagens tinham sido entregues. Não havia respostas. Marquei o único número de que me lembrei antes de carregar novamente no botão Ligar.
Ao meu lado a rapariga de cabelo loiro levantou-se assustada com um qualquer barulho que tinha ouvido. Duas batidas suaves ouviram-se do outro lado da porta. Desliguei o telemóvel e arrumei-o no bolso.
"Ei, está alguém aí dentro?" perguntou Jess. A sua voz arrastada mostrava que tinha estado a beber. O mais provável era estar a fazer o seu número de dramatismo temporalmente adquirido.
"Limita-te a abrir a porta" respondi secamente limpando as minhas calsas com as mãos. Jess abriu a porta com um pontapé todo vestido de preto, depois sorriu piscando-me o olho.
"Cheguei para te salvar" disse.
"Já é de manhã"
"Não consegui chegar mais cedo meu, tenho uma namorada sabes? As namoradas têm necessi-" Jess deteve-se olhando-me por cima do cima do ombro. "Ei, Zayn o que estavas aqui a fazer afinal?"
"..."
"Oh, eu devia-" disse a rapariga reposicionando a mala no ombro. Só agora é que tinha reparado que trazia uma máquina fotográfica pendurada no pulso."Eu devia ir andando"
"Ei ei ei" Jess barrou a porta com os dois braços estendidos. Estava a semicerrar os olhos."Caaalma. Eu acho que te conheço"
"Estavas ontem com o Louis?"
"Estava?" Jess estalou a língua e olhou para mim. Passei as mãos impacientes pelo cabelo em desalinho. "Bem uh, talvez tenha estado. Como te chamas mesmo?"
"Clovia." Respondeu.
"Oh sim, eu já me lembro! Clovia, isso mesmo."
"Ahh, importas-te? Eu estou com pressa"
"Claro, claro"
Jess desviou-se da porta dirigindo-me um sorriso insolente. Fiquei a observar o pequeno carrapito loiro até ele desaparecer pelas escadas.
"Louis, hum? Interessante"
Os meus olhos penetraram a atitude afetada de Jess. Eu já estava mais que terminado com aquele idiota.
"Vou dar-te um conselho Jess." Avisei com o meu punho cerrado. "Pára de fingir que somos amigos."
Peguei no meu casaco e saí.

Clovia

Cheguei ao meu dormitório por volta das seis e meia da manhã. Jade já tinha saído para a sua corrida matinal, tinha deixado a cama feita e o pijama cuidadosamente dobrado. Havia uma nota colada em cima da minha almofada.

Clovia, molhei as tuas calças chadrez preferidas ontem quando o teu amigo asno me atirou para a piscina. Odeio-o! Por favor não me envolvas mais com os teus amigos doidos. Não te preocupes com as calças, a minha mãe vai encarregar-se de as levar à lavandaria e vai pagar a lavagem a seco. Espero que estejas viva e com a mente sã.
Jade

Amarotei o papel e atirei-o para o caixote do lixo dirigindo-me à casa de banho para tomar um duche longo e relaxante. Havia duas novas toalhas penduradas na porta que pertenciam a Jade. Decidi que não iria dormir até à hora da apresentação.
Tratei de me concentrar na água quente com a 9° sinfonia de Beethoven a girar na minha mente. Era uma espécie de consequência, pelo menos era o que lhe chamava: quando a minha cabeça pensava em muita coisa ao mesmo tempo havia estes violinos todos a tocar e a girar e a dar comigo em doida.
Quando acabei enrrolei uma toalha à volta do meu corpo deixando o cabelo a pingar até à minha cama. Tinha apanhado excelentes fotos a noite passada, uma delas incluía Mindy Jones a vomitar. Oh, como me tinha divertido; aquilo ali era arte e valia dinheiro.
"Clovia!"
Jade tinha acabado de chegar com o seu fato de treino preto todo impecável. Se não fosse pelos pequenos pingos de suor a escorrer pela testa até diria que não tinha estado a correr. E, claro, vinha acompanhada do seu maravilhoso sobrolho franzido.
"Vais dar comigo em louca." Apontei-lhe o espelho redonto à cara marcando com o dedo o espaço entre as sobrancelhas. "Olha só para isto"
Jade suspirou, depois abriu as janelas para deixar o vapor sair. Pousei a máquina na cómoda e apaguei a luz do candeeiro.
"Nem imaginas o que me aconteceu ontem!"
"Algo relacionado com quando o teu amigo asno me atirou para a piscina?" Perguntei.
Jade parou, estática. Era Jade estática.
"Estou a falar a sério. Odeio-o. Eu podia ter morrido eu podia..." Peguei num chupa-chupa de morango que tinha no bolso das calsas antes de as atirar para o cesto da roupa suja. Desembrulhei o papel enquando Jade ligava a água fria. "Podia sabe Deus o quê."
"Louis é só um idiota. Não o devias levar tão a peito"
"Tão a peito? Ele forçou-me a ir ao ginásio e atirou-me para uma piscina cheia de germes. Ela não deve ser limpa há meses Clovia, meses. Como é suposto eu não levar isto tão a peito?" Exclamou Jade.
"É Jade exclamativa"
"O quê?"
"Oh"
"..."
"Nada"
"..."
"Sabes, fiquei trancada toda a noite numa casa de banho da cave com um rapaz."
"Clovia? Disseste alguma coisa?"
"..."
"..."
"Oh, Deus, Louis é mesmo um asno não é?" Disse suspirando teatralmente.
"Pois é." Respondeu Jade.
"..."
"..."
"Sabes? Tu não és assim tão má Clovia" disse Jade.
"Tu também não és assim tão má Jade."
Jade espreitou pela porta da casa de banho deixando escapar um sorriso. Reparei, enquanto trincava o meu chupa-chupa, que não havia sinal daquela ruga que tanto detestava.

O que estão a achar até agora?
Das duas escritoras:
@AngelSold
AnnaaaR

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