Capítulo VI

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Jane

Corri até á sala de aula de literatura inglesa, completamente apavorada com o mais ligeiro pensamento de poder estar prestes a chegar atrasada á minha primeira aula de literatura, na universidade. Eu tinha planeado tudo ao máximo pormenor para o meu primeiro dia de aulas (de forma quase excessiva, algo parecido com algo que a Jade faria), mas, foi impossível seguir o horário porque:
1. A fila para o pequeno-almoço na cantina estava demasiado grande.
2. Os waffles que estavam a ser servidos estavam demasiado deliciosos para não serem repetidas pelo menos três vezes.
3. E mais importante, a noite passada estragou-me tudo o que havia planeado.
Eu não tinha ido à festa de caloiros porque a Mindy não voltou ao dormitório e eu estava ligeiramente apavorada com a ideia de ir até à festa sozinha, por isso decidi deitar-me a ler um dos livros manga da Mindy (Aviso: eles começam ao contrário, por isso, se a história não tiver a fazer sentido absolutamente nenhum, é porque a estás a ler mal.) e depois adormeci. Mas a minha noite estrondosa não acabou por aí, infelizmente. Pelas 3 da manhã, eu acordei ao ouvir um gemido e o fechar da porta do meu dormitório. Quando me levantei para ver o que era, encontrei Mindy, grudada sobre um rapaz completamente vestido de preto, enquanto ambos pareciam estar a comer a boca um do outro com bastante determinação. Depois, ambos caíram sobre a cama da Mindy e o cenário modificou-se para porno ao vivo. Era claro que nenhum deles pareciam sequer ligar á minha existência, por isso levantei-me o mais depressa que consegui e calcei as minhas pantufas de coelhinhos e larguei-me a correr para fora do dormitório, demasiado traumatizada para conseguir controlar os meus paços, o que me fez embarrar contra um tronco de uma árvore à saída de casa.
- Au!
Só que não era bem uma árvore, mas sim uma pessoa. E, ao levantar os olhos do chão, vi que era o irritante vizinho do lado.
1. Desta vez, ele não estava nu, mas sim vestido numas calças negras e um camiseiro aberto até ao peito e calçado naquele género de sapatos caros e italianos que todos os homens ricos usam.
2. O seu cabelo encaracolado estava penteado para cima, o que lhe dava um ar extremamente sensual.
3. Os seus olhos verdes pareciam esforçar-se para continuarem abertos, como se ele tivesse tanto sono que lhe doíam as pálpebras (tal como eu).
- Uh... desculpa.- murmurei, cruzando os braços sobre o peito porque:
1. Estava mesmo, mesmo, mesmo, mesmo, mesmo muito frio
2. O meu estado traumatizado não me tinha permitido vestir outra coisa, por isso, eu continuava no meu pijama curto dos Smurfs, e calçada nas minhas pantufas de coelhinhos.
3. Eu estava a dormir anteriormente, o que queria dizer que eu não tinha o meu soutien vestido neste preciso momento.
- Devias ter mais cuidado enquanto corres. Quase me ias atropelando.- Mas que exagerado!
- Sim, porque com o meu peso eu deixar-te-ia numa panqueca resmungona.- ironizei, revirando os olhos.
- Estás a tremer.- afirmou, olhando para as minhas mãos que esfregavam os meus braços à procura de encontrar calor na fricção.- Está demasiado frio para estares assim vestida.
- Não me digas.- ironizei, suspirando fundo.
- És bastante exasperante sabias?- resmungou, parecendo bastante aborrecido.- Porque estás assim vestida, mesmo á entrada do teu dormitório? Alguma tradição de Yale para os caloiros, ou assim?
- Não.- murmurei.- A minha colega de quarto e o seu namorado apenas tornaram o meu quarto num cenário porno e eu não estou com vontade de assistir porno neste momento, mais nada.
Os seus olhos verdes arregalaram-se, apanhado de surpresa.
- Eu devia chamar o diretor da escola!- exclamou, e eu senti-me rapidamente culpada por ter aberto a boca em relação à Mindy.
- Não!- guinchei, agarrando-lhe a sua mão quente, aterrorizada com o simples pensamento de poder estar a arruinar o futuro académico da minha colega de quarto.- Não faças isso, ok? Por favor, não faças isso. Onde tens a cabeça? Queres que ela seja expulsa ou algo assim? Onde está a tua compaixão?
O meu vizinho mordeu o lábio pensativamente, como se estivesse a avaliar a situação ao pormenor, e eu tinha de admitir que ele ficava bastante sensual quando fazia aquilo. Depois, ele largou um suspiro profundo, antes de me olhar com o sobrolho franzido e dizer:
- Onde vais ficar enquanto a pornografia está a decorrer?
Dei de ombros, sem realmente saber. Pensei em pedir à Jade para dormir no seu dormitório, mas se ela me visse lá, ela iria perguntar-me a razão pela qual eu estava ali e se eu lhe dissesse o que se estava a passar, ela iria ligar à nossa mãe e contar-lhe tudo, o que faria com que a minha mãe:
1. Viesse a Yale
2. Entrasse no meu dormitório estrondosamente
3. Brigasse com a Mindy até os olhos dela saíssem das órbitas
4. Fizesse com que ela e o seu namorado fossem expulsos
5. Me arranjasse um novo dormitório
Odiava quando a minha mãe se enfiava nos meus problemas como se eu tivesse cinco anos.
- Podes ficar na minha casa, se quiseres.- murmurou, e foi a minha vez de arregalar os olhos, completamente apanhada de surpresa.- Não te posso deixar aqui fora a gelar.
- Pensei que não te interessasse.
- Foste tu que disseste que irias ignorar os meus gritos mesmo que eu estivesse a morrer, não eu.- afirmou com um sorriso que faria uma freira quebrar os seus votos.- Estás a ficar roxa, vamos.
Concordei com ele porque:
1. Era verdade, eu sentia a minha pele tornar-se roxa com frio
2. Eu não tinha lugar para ir
3. Eu estava ligeiramente apatetada com o sorriso dele
Por isso, segui-o até à sua casa, onde entramos, e ele dirigiu-se a um quarto, saindo de lá com um robe azul-escuro na mão.
- Veste.- disse-me, enquanto me ajudava a vestir.
- Obrigada.- O robe cheirava a perfume caro masculino e a desodorizante masculino, um cheiro que brincou ligeiramente com as minhas hormonas.
A casa dele era bem maior do que o meu dormitório. Na sua sala as paredes estavam cobertas por prateleiras ainda ligeiramente vazias, o que significava que ele ainda estava a fazer a transição do sítio de onde tinha vindo para cá. Sentei-me no seu sofá cor-de-vinho bastante confortável, enquanto ele entrou noutro quarto.
- Gostas de chá?- perguntou do quarto onde estava, e disse-lhe que sim.
O meu vizinho parecia gostar imenso de livros, de bons livros, de clássicos. As suas prateleiras tinham vários livros desses, e, na pequena mesa ao meu lado estavam dois livros: o primeiro era a Tess de D'Urbervilles e o segundo estava aberto, como a sua leitura tivesse sido interrompida e ao pegar, vi que era David Copperfield.
- Gostas?- fui apanhada de surpresa pela voz do meu vizinho, que vinha com duas chávenas de chá e um bule num tabuleiro.- Do livro, quero dizer.
- Claro.- respondi, aceitando uma chávena de chá.- Como conseguiste uma primeira edição? Deve ter-te custado uma fortuna!
- Foi dinheiro bem gasto.- replicou e eu ganhei um novo respeito pelo meu vizinho.
- Não nos chegamos a apresentar. Eu sou a Jane.- disse-lhe, antes de dar um gole no chá. Seria aquilo chá com natas? Porque era a isso que sabia. Seria chá com natas uma coisa britânica?
- Harry.- disse-me ele com um daqueles sorrisos que cativa toda a nossa atenção.
- Fazes um ótimo chá, Harry.- afirmeiu, e ele sorriu-me de novo, antes de termos começado a falar sobre chá e sobre como o chá era muito melhor em Inglaterra. Depois falámos sobre a sua vinda de Inglaterra, e de como ele vivia numa cidade bastante pequena de lá. Falámos sobre como New Haven era pequeno, e de como Yale era uma universidade fantástica. E começámos a falar sobre os livros dele e essa conversa foi a que demorou mais tempo, porque ambos ficamos demasiado entusiasmados com o tópico, o que nos fez conversar até o chá todo terminar e Harry encher o bule quatro vezes, e até ao sol começar a penetrar pelas janelas da sala da casa de Harry.
E era essa a razão pela qual eu tinha demorado tanto tempo a tentar movimentar-me quando acordei no sofá de Harry, coberta por um cobertor com o meu cheiro que o robe que ele me havia emprestado.
Eu estava exaustada.
Agora, por causa da noite passada, eu sabia que iria chegar atrasada á minha primeira aula. Por isso, quando cheguei á porta da sala, todo o meu corpo relaxou por ter finalmente chegado ao meu destino, apesar de estar irremediavelmente atrasada. No entanto, bastou-me colocar a cabeça no interior da sala para todo o meu corpo voltar a ficar tenso. Mesmo muito tenso! E a razão do meu corpo se ter tornado assim estava perto do quadro branco, a escrever qualquer coisa lá. E essa razão tinha cabelo encaracolado puxado para cima e olhos verdes.
- Oh merda!

AnnaaaR

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