Capítulo IV

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Jade

Clovia era a pessoa mais doida que eu alguma vez conhecera. Havia algo na sua personalidade inesperada que me levava a aceitar os seus estranhos convites para algo tão inadequado como uma festa. Eu não fazia a mínima ideia qual fora o motivo pelo qual aceitei vir para algo tão imaturo e impróprio, ainda mais vestida nas calças axadrezadas da Clovia! Se a minha mãe soubesse o que eu estava a fazer neste momento, se me visse a correr pelos corredores de Yale, completamente apavorada com o mais pequeno pensamento de que alguém me pudesse apanhar, bem eu tinha bastante certeza de que a minha mãe não iria ficar muito aprazida.
- O que se passa, cupcake?- ouvi, ao passar pela curva de um corredor.
Era aquele rapaz horripilante que Clovia insistia em afirmar ser seu amigo. Penso que se chamava Louis, pelo menos era isso que ele me tinha dito no primeiro dia que visitei o meu quarto. Aquela visita desagradável em que aquele asno insistiu em questionar cada movimento meu, falando comigo com uma superioridade nada simpática. Esse Louis, o asno amigo da Clovia, estava na curva do corredor e como eu estava demasiado concentrada em fugir o mais rápido possível da casa de banho em que a Clovia entrou sem autorização, não consegui realmente controlar os meus pés, o que provocou um grande estrondo entre o meu corpo e o do asno inglês.
- Estás com pressa, não estás?- As suas mãos pousaram-se sobre os meus ombros.
- Não posso falar agora... estou a fugir...- Respirei fundo, apenas ligeiramente ofegante.- A Clovia-
- Estás a fugir?- Acenei, vendo o seu sorriso divertido crescer mais e mais até uma gargalhada, o que não era muito simpático da parte dele, visto que era óbvio que ele estava a troçar de mim.- Vamos, então.
As mãos do asno desceram dos meus ombros e uma delas apanhou a minha, deixando-me franzir o sobrolho, confusa, e inesperadamente, o asno puxou-me, começando a correr pelo corredor, o que por consequência me levou a correr pelo corredor, pois a sua mão continuava agarrada á minha.
- O que estás a fazer?
Louis apenas sorriu, saindo da instituição onde estávamos e entrando no ginásio Payne Whitney com um sorriso permanente nos seus lábios finos. Até agora, o asno tem mostrado ser alguém bastante parecido com Clovia. Ambos pareciam ser completamente avessos a rotinas, ao contrário de mim. Pareciam não ter nada planeado, o que me deixava completamente confusa, pois eu tinha tudo planeado. Era como se nada os preocupasse realmente, por exemplo, a Clovia, que entrou numa casa de banho apenas para satisfazer a sua pesquisa, ou o Louis, que abriu as portas do ginásio Payne Whitney, mesmo que seja proibido entrar lá a estas horas.
- Porque estamos aqui?- Aquilo não estava certo. Eu não era nenhuma Clovia ou asno. Entrar naquele ginásio era proibido e eu não tinha desejo nenhum de quebrar qualquer lei, ainda mais na universidade que eu planeei estudar!
Em vez de me responder, o asno decidiu que seria bom para ele descalçar os sapatos, ignorando por completo a minha questão.
- É imensamente rude ignorar as questões das outras pessoas, ouviste?- Eu sentia-me bastante enfurecida com o comportamento de Louis. Normalmente, eu não tenho por costume sentir raiva. Costumo ser uma pessoa bastante controlada e matura. No entanto, no momento em que o asno virou-se para mim com aquele seu sorriso odiável nos lábios e agarrou-me pelas ancas, uma parte do meu cérebro completamente indigna fez-me perder o meu natural controlo.- O que pensas que estás a fazer? Ouve-me bem eu... EU NEM ACREDITO QUE ME ATIRASTE Á ÁGUA, SEU ASNO ABJETO! SEU ABRÁQUIO DESPROVIDO DE SENSIBLIDADE!
Aquilo que Louis havia feito não era nada simpático da sua parte. Para dizer a verdade, Louis tinha sido - como diria a Jane nesta situação?- um s*cana. Céus, eu nem acreditava que uma palavra tão rude me havia passado pela cabeça, no entanto, eu estava no meio de um ataque nervoso. Para além de estar a transpassar o ginásio da universidade que havia planeado estudar a horas inadequadas, eu também estava no meio da piscina do mesmo ginásio, vestida, enquanto o asno inglês mergulhava na minha direção, como se aquela fosse a atitude mais natural do mundo.
- Eu não faço a mínima ideia do que me acabaste de chamar.- O asno surgiu da água, continuando com aquele seu sorriso- aquele sorriso que me fazia ter vontade de recorrer à violência.- e abanou o seu cabelo castanho e liso.
- É óbvio que não fazes ideia, imbecil iletrado!- No curto espaço de tempo em que havia estado com Louis, eu tinha excedido o meu limite de insultos alguma vez dados a alguém.- Porque me haverias de atirar a uma piscina? Já te passou por esse pequeno cérebro que eu tinha o meu telemóvel no bolso?
- Pessoas como tu fazem-me confusão.- O asno revirou os olhos, quando mostrei-lhe o meu telemóvel completamente encharcado.
- Como eu?!- Nem eu reconhecia a voz histérica que saía de mim.- Tu acabaste de me atirar a uma piscina, e sou eu que te faço "confusão"? Quem está errado és tu, não consegues entender isso? A minha mãe trabalhou imenso para me poder comprar um telemóvel, e tu estragaste-o sem pensares duas vezes. E o mais impressionante é o facto de tu nem te teres dado ao trabalho de me pedires desculpa pelo que fizeste!
- Que se f*da o telemóvel!- Arregalei os olhos ao ouvir o que ele havia dito.- O que tinhas planeado fazer esta noite? Ler outro livro aborrecido sobre algo extremamente científico e educativo?
- Que mal há nisso?- Eu estava a sentir-me realmente insultada.
- Que mal há nisso?! Já te ouviste a falar? Já reparaste no quanto aborrecida é a tua vida?- Por mais absurdo que fosse, o asno parecia estar realmente zangado comigo.- Ouve-me, existem pessoas que vivem mil anos sem viverem um segundo e tu és uma delas. Tu vives numa bolha de plástico, completamente concentrada no teu futuro, mas queres saber uma coisa? Estás a perder a m*rda do presente e quando chegares a esse futuro, cupcake, vais arrepender-te de tudo o que perdeste. Eu já vi essa m*rda toda ao vivo e a cores, para dizer a verdade. E sabes que mais, eu estou certo, cupcake. Que se f*da a tua rotina. Ela não te vai servir de nada quando estiveres debaixo da terra, ou vai?
Franzi o sobrolho, vendo a cara zangada de Louis, enquanto ele me arrancava o telemóvel das mãos e o atirava para longe, fazendo-o estilhaçar-se sobre as bancadas que rodeavam a piscina.
- Eu-
- Boa noite, cupcake.- A voz dele não passava de um sussurro quando ele se aproximou radicalmente de mim, depositando-me um pequeno beijo na testa que originou um reboliço divertido no fundo da minha barriga.- Aposto que já deve ter passado da tua hora de dormir, por isso é melhor voltares para o teu dormitório, para não quebrares a tua querida rotina.

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No dia seguinte, um pacote embrulhado de papel azul estava pousado sobre o fundo da minha cama. Antes de vestir-me para ir correr, como faço todas as manhãs, abri o pacote, curiosa por saber o que lá estava. No seu interior estava um telemóvel. Um telemóvel muito melhor do que o meu antigo alguma vez poderia ser. Sob esse telemóvel estava um papel azul onde estava escrito:
'Espero pela tua companhia no momento em que decidires viver, ou queiras apenas dar outro mergulho noturno. Juro que para a próxima não vou afogar o teu telemóvel.
-L'

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