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* 3 anos *

P.O.V: Úrsula

Escuridão. Tudo o que vi durante três anos de coma induzido. Durante esse tempo não tive controle sobre meu próprio corpo, passei meus três últimos aniversários deitada numa cama em um hospital, sentia as pessoas me tocarem, enfermeiros me aliciavam e me abusavam. Eu sentia o mundo a minha volta, sentia dor, sofrimento e não conseguia fazer nada, apenas ficar deitada e me traumatizar com tudo isso acontecendo e que aconteceu.

Não sabia que dia era, nem que horas, se estava dia ou de noite, apenas abrir os olhos e aos poucos minha visão foi se acostumando com a claridade do local. Estava em uma cama, meu corpo estava envolvido em uma coberta branca, quase transparente, e fina, ao lado havia um criado mudo com vasos de rosas vermelhas e o quarto era totalmente branco. Havia uma cânula nas minhas narinas, iguais a da Hazel Grace de ACEDE. Uma enfermeira baixa e com seu rosto gorducho, olhou para mim com um olhar de supresa.

- Você acordou - Ela veio caminhando até a beira da cama que eu me encontrava deitada. Ela estava querendo falar algo, porém tinha medo. Minha boca estava com um gosto amargo, eu associava esse gosto com " gosto de hospital". Olhei para ela chegando perto da cama, acho que ela percebeu meu olhar assustado. - Meu nome é Ana. Você está interneda no melhor hospital da cidade. O Hospital Cruz Vermelha. Você se lembra de alguma coisa ? - Ela olhava pra mim com muito orgulho, alegria e compaixão. Era como se eu fosse uma guerreira que havia vencido a guerra.

Neguei como a cabeça, mas é claro que eu me lembrava do que aconteceu. Era para ser um simples passeio entre amigos, uma tranquila férias de verão. Todas as memórias estavam frescas na minha mente, toda tortura, toda dor. Meus olhos se encheram de lágrimas, porém, não iria chorar na frente de uma estranha.

- Você chegou aqui há 3 anos atrás. - Ana não olhava mais nos meus olhos, olhava apenas para seus pés - Um carro lhe atropelou, você estava desmaiada nos braços de um garoto, não sei se o nome dele era Léo ou Leon, enfim, não lembro. Não conseguimos entrar em contato com seus responsáveis. Depois de um tempo, um casal apareceu aqui, perguntamos se eram seus pais, mas eles disseram que não e também disseram que você era órfã e não conhecia seus pais. - Ela me falava isso com receio, dava para perceber pela sua voz. - Acho que você é muito importante para eles, pois, nas vozes deles tinha um amor tão grande, era como se você fosse filha biológica. - Ela falou essa última frase olhando fixamente para mim. - O mesmo garoto que lhe trouxe desacordada, vinha lhe visitar todo dia, mas faz algum tempo que não aparece. Bom ...- diz ela seguindo em direção da porta - ... acho que está na hora de avisar a doutora que você acordou. - Com um sorriso tímidos em seus lábios, ela se foi.

Não sabia o que fazer. Imaginar minha vida sem meus amigos, era a mesma coisa que imaginar o céu de outra cor, não fazia sentido. Por que eu tive que sobreviver ? E onde estava Leon ? Sim, Leon. Eu vou precisar de todo o apoio dele, de todas as lembranças boas que eu ainda estiver na memória. Leon vai me ajudar a superar isso. De repente me pego pensando em Maya, lembro do seu olhar de medo quando ela caiu e eu, EU , não a ajudei. Nunca vou me perdoar por isso. Agora eu chorava mais e mais, sentia o gosto salgado das lágrimas na minha boca. Fechei os olhos, tentava inutilmente parar com os meus soluços, mas as lembranças daquele verão invadia minha mente. Entre lágrimas, soluços e muitas lembranças que me causavam dor, eu acabei adormecendo.

" Estava jogada no chão do meu quarto. Mas era o meu quarto, naquela cabana. Rapidamente eu me levanto, corro até a porta, porém, ela está trancada, vou até a janela. Fechada. Pego o abajur, que estava em cima do criado mudo, e jogo na direção da janela, que em seguida se quebra. Passo pela a abertura, quando finalmente saio, olho meus braços e coxas, que estão com alguns cortes. Mas não perco tempo, começo a correr em direção a floresta.

As Férias de Verão: A vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora