Depois que me arrumei, fui atender a uma família que estava em uma das mesas lá do fundo do restaurante.
Na mesa tinham cinco pessoas: Uma mãe, pelo que presumi, um pai, que julguei ter uns 50 anos, pois já estava meio calvo, duas crianças, uma grande, que parecia ter uns 7 anos e a outra parecia ter quatro. A maior era uma menina, já o menor era um menino. E tinha uma senhora, muito velha, com todo o cabelo da cor de uma nuvem, natural, amarrado em um coque bem feito, com a pele muito enrugada. Pareciam bem frescos, até mesmo o menino de quatro, que já aprendera a andar com o nariz empinado e a dar olhares intimidadores.
Me encolhi um pouco quando cheguei perto da mesa.
A mãe tinha o cabelo loiro tingido, mas um tingido tão artificial, que quem olhasse para aquilo e falasse que era natural, eu o chamaria de louco. Era tão artificial que chegava a ser feio. Tinha a pele muito pálida, tipo, muito mesmo. Eu a chamaria de Edward Cullen se estivesse de bom humor e se estivesse fora do meu horário de trabalho. Ela tinha o nariz muito grande e uma boca muito pequena, estilo "mulheres-frescas-que-detestam-andar-de-ônibus". A boca estava com batom vermelho, e usava maquiagem azul, que a fazia parecer uma palhaça. Eu teria rido se naquele momento eu não estivesse tão nervoso. Ela usava um coque lá no alto e quando me viu, me encarou com um olhar do tipo: "Quem é o verme?". Suspirei.
O pai era um sujeito baixo, com mais ou menos 1,60 de altura, também com o nariz grande e empinado e a boca pavorosamente pequena. Me perguntei se eles dois fizeram alguma cirurgia para ficarem parecidos. Nunca se sabe né, porque... Qual é, eles eram ricos! Mas o que um rico estaria fazendo no nosso restaurante de qualidade média?
Nunca consegui saber a resposta.
Ele tinha uma pele normal e uma testa enorme, já que ele era calvo. A coloração do cabelo estava dividida em branco/loiro.
Só que um loiro natural, eu tinha quase certeza disso.
Era um sujeito gordo, com a barriga meio inclinada para frente, o que me fazia lembrar do Papai Noel, embora a barba dele estivesse bem aparada. A mãe era magrela, mas tão magrela, que chegava a ser anoréxica.
Ele tinha um olhar caloroso, então me deu um pequeno sorriso e balançou a cabeça como se estivesse dizendo um: "Oi, rapaz" ao contrário da mulher loira, que me dirigia um olhar de "Oi pobre". O menino-bebê de quatro anos era loiro, assim como a irmã. Só que o menino tinha o cabelo um pouco mais claro. Ele tinha olhos profundamente azuis e tinha bochechas rosadas, como as bochechas do pai. A menina era anoréxica, assim como a mãe e tinha cabelos em forma de cachos, caíndo sobre os ombros. Quando ela me olhou, revirou os olhos e bufou.
A senhora tinha o cabelo da cor de algodão (Acho que já mencionei isso) e tinha os mesmos olhos azuis do bebê. O resto da família tinha os olhos castanhos. Ela era bem magra, mas não chegava nem perto da anoréxica da mãe dos dois filhos. Ela me deu um pequeno sorriso.
Me senti um pouco melhor pelos sorrisos e olhares da senhora e do homem, mas me senti pior ainda pelos olhares do resto da família.
O pai usava uma blusa preta, mas de boa qualidade, que nela estava escrito: "A natureza é linda", uma calça deans azul e de ótima qualidade. Usava um sapato pontudo e preto, como o daqueles caras que usam paletó. Não combinava nem um pouquinho com a roupa, mas ele não pareceu dar importância para isso.
A mãe usava um vestido branco, com um colar enorme dourado, mas não deu para ver seus sapatos, pois a mesa atrapalhava. A menina de sete usava um vestido azul que ia até os joelhos, simples com um decote redondo e usava sapatilhas azuis.
O bebê usava um macacão cinza e marrom, com tênis preto.
A senhora usava um simples vestido cinza, com sapatilhas baixas e gastas e usava pequenas argolas nas orelhas. Não usava maquiagem alguma.- Posso ajudar em alguma coisa? - Eu disse fitando o pai.
- Oh, sim - Ele disse com uma voz alta e rouca, que chegou perto de parecer amigável - Eu gostaria de um champanhe, qualquer um que tiver. E você, mamãe? - Ele encarou a senhora simples de vestido cinza.
- Quero macarronada - Ela disse lambendo os beiços. Tentei prender a risada e fui anotando no meu bloco de notas. Ela tinha uma voz meio rouca também, mas essa voz sim, aparentava ser amigável.
- Eu quero - a mulher de loiro-tingido disse levantando a voz - O prato mais caro daqui. - Eu não sabia qual era o prato mais caro do restaurante, então anotei "O prato mais caro daqui". As crianças disseram que queriam lasanha. O homem dirigiu um olhar feio a mulher loiro-tingido.
Ela fez uma cara sarcástica.
- Você sabe que não temos dinheiro, Marta - Ele disse encarando a mulher loiro-tingido, agora conhecida como Marta.
- I don't care - Ela disse ainda sorrindo. - Aposto que não sabe o que isso significa, não é garoto? - Ela me encarou.
- Eu não me importo. - Respondi de imediato. Ela levantou uma das sobrancelhas, não muito satisfeita.
- Continuando, Fresbi, eu não me importo se tem dinheiro ou não. Eu estou com fome e não vou comer qualquer porcaria daqui. Sou uma mulher de respeito!
- Eu já falei pra não me chamar de Fresbi, mulher! - Ele bateu com a mão esquerda na mesa, fazendo um barulho muito alto. A maioria das pessoas do restaurante encararam a mesa onde o homem... onde Fresbi estava sentado com sua família feliz.
- Você, garoto! - Marta apontou na minha direção - Chame seu chefe, agora! Quero dar uma palavrinha com ele. - Eu me encoli e fiz que sim com a cabeça, indo em direção a sala do Sr. Burns.Bati na porta do meu chefe rapidamente.
- Entre! - Ele disse lá de dentro. Entrei apressadamente.
- Oh, oi Sr. Burns.
- Ah, é você, Jackson. - Ele revirou os olhos - O que o leva a achar que pode entrar em minha propriedade?
- Bom, você disse que eu podia entrar.
- Não disse nada! - Rugiu ele.
Eu me encolhi.
- Disse sim.
- Não disse não.
- O senhor disse si...
- Chega! O que é?
- Uma senhora exige sua presença, disse que quer falar com você. - Ele bufou. Aprontou um sorriso falso e disse:
- Como estou?
- Vestido. Oh, desculpe, quero dizer, tá legal, cara. - Ele fez uma cara de puro ódio e saiu da sala, novamente com seu sorriso falso.
- Que demora hein! - A mulher disse quando cheguei com o Sr. Burns atrás de mim.
- Peço desculpas, senhora - O Sr. Burns nos disse com sua bajulação exagerada.
- Meu problema não é com você, chefe! - Ela disse com um sorriso falso - Meu problema é com seu empregadinho aí.
Eu a olhei incrédulo.
- Eu?! - Eu disse com os olhos arregalados.
- Você! - Ela disse arregalando os olhos.
- Marta... - Fresbi suspirou.
- Cale-se! Primeiramente, eu achei que esse fosse um bom serviço. Mas ele tratou nossa família com um tremendo desrespeito no momento em que chegou aqui... "assim". - Ela fez uma curva representando meu corpo com uma cara de nojo.
- Ele nem sabe o prato que eu quero quando pedi.
- Você não falou o nome! - Gritei em minha defesa.
- Jackson! - Meu chefe disse tremendo de raiva - Grite de novo e vai ver o que vai lhe acontecer.
- Falei sim! Eu falei que queria sopa, não falei, Fresbi? - O homem a fitou com uma cara de desgosto.
- Não ouvi quando você falou com ele. - Ele cuspiu as palavras.
- Crianças? - Ela olhou as crianças com os olhos arregalados. Eles balançaram a cabeça, dizendo que ela havia dito sim, que queria a sopa, com o acompanhamento de Champanhe.
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. E o Sr. Burns estava acreditando! Bom, não sei se ele estava acreditando. Talvez ele estivesse fazendo teatrinho para que eu fosse demitido. Eu sabia que eu não era querido ali. Não sabia o motivo. Mas eu sabia que não era.
- Você é louca. - Murmurei as palavras com desgosto.
O Sr. Burns arregalou os olhos.
- Retire o que disse Jackson! Quero dar uma palavrinha com você na sala, depois que servir essa família. Peço desculpas, senhora, não vai acontecer de novo.
- É bom mesmo - Ela disse com uma expressão de tédio - Eu poderia processar isso aqui.
- Oh, por favor, isso não será necessário. Jaccckonnnnn! Pra minha sala, rapaz!
- Não! - Eu gritei atirando meu bloco de notas no chão - Que se dane isso tudo! Já não aguento mais clientes mentirosos como a tal de Edward Cullen aí. - Eu apontei na direção de Marta - Desculpe, mas vamipiros bebem sangue, então, o que está fazendo aqui com essa sua cara de lesma? E principalmente, já não aguento mais o senhor! Queria que eu fosse demitido não é? Na boa, porque EU-ME-DEMITO! - Peguei meu lápis e o quebrei, saíndo do restaurante, com todos me olhando, certo de que não entraria lá por muito tempo...
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Small - Uma história de melhores amigos
RandomJenny acabara de ser demitido de seu emprego de Garçom, e sua namorada tinha acabado com tudo entre eles no mesmo dia. Ele não tinha mais esperanças de que algo em sua vida iria vir para fazê-lo feliz. Então ele encontra um cão em uma velha caixa d...