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Fiquei sentado esperando a chuva passar.
Por um lado, eu estava bem. Bem por ela não ter me iludido por mais alguns dias antes de dar no pé. Eu acho que esse lance de sair do estado, era uma maneira de me descartar sem falar a verdade. Mas eu a amava tanto que estava disposto a largar tudo.
Pais, amigos, faculdade, casa, tudo. Só por ela. Então ela viu que sua brilhante ideia não deu certo, então ela achou melhor falar toda a verdade.
O que eu não entendia era o fato de tudo ter acabado tão... de uma forma tão incompleta.
Eu dei presentes, flores, sorri o tempo inteiro e nunca deixei de falar que eu a amava. O que foi que deu errado?
Durante todo aquele tempo sentado sob a chuva, eu percebi a verdade. As garotas só não enjoam de um relacionamento quando são elas quem tem de correr atrás. Quando é o cara que corre atrás, dois dias depois elas enjoam.
Se eu ainda penso dessa forma? É óbvio que não. Durante um tempo pensei assim, mas... eu percebi que não era dessa forma, com o passar dos anos.
Algumas garotas eram assim. Outras pensavam de outra forma.
Eu nunca fui de chorar o tempo todo, mas naquele dia eu chorei. Silenciosamente, mas chorei.
A chuva cessou por volta das dez e cinquenta da noite, então eu fiquei por mais uns minutos no quintal, encarando as roseiras da minha mãe. Aí eu entrei.

Tive que inventar algumas desculpas mal contadas para os meus pais, dizendo que estava com sono e que precisava muito dormir.
Sempre desconfiei que minha mãe tinha algum tipo de reflexo anti-tristeza para filhos. Se isso existisse, ele te daria a capacidade de saber quando seu filho está triste ou chateado.
Minha mãe conseguia saber disso. Tipo, o tempo todo.
Naquela noite, quando entrei em casa, eu disse que precisava dormir e meu pai fez um "Tá bom, filhão", mas não tirou os olhos do jornal.
Já a minha mãe...
- Algum problema, querido? - Ela disse com uma das sobrancelhas levantadas.
- Não, estou bem. - Eu disse tentando não encará-la.
- Sua voz está, rouca andou chorando?
- Não, mãe, pare com isso, já disse que estou bem!
- Nossa Ana - Meu pai balançou a cabeça de um lado para o outro enquanto encarava minha mãe - Deixe o garoto em paz, se ele está chorando, que diferença faz?
- Não quero ver meu menino chorando! - Ela disse encarando meu pai.
- Deixa de drama, o garoto já tem 25 anos, Anastácia!
- Jorge, realmente acha que o fato de ele ser adulto vai ter alguma diferença pra mim?
- Jenny, filhinho - Jorge (Papai) disse com sua expressão sarcástica - Vá já para o seu quarto enquanto faço uma sopinha pra você! - Ele falava imitando a voz da minha mãe - Oh, você não pegou um resfriado, pegou? Coitadinho! O papai vai logo cobrir seu corpinho robusto e nada crescidinho!
- Não vejo graça nenhuma nisso, Jorge. - Mas já era tarde demais. Meu pai já estava dando suas gargalhadas. Ele só ri assim quando ele faz uma das suas piadas (Ele é o único que acha graça, mas acho que isso não tem importância).
Soltei uma risada e fui para o quarto.

Enquanto eu estava no quarto, por um momento, eu deixei de pensar na Sally.
Pensei nos meus pais.
Meu pai era um homem sério. Sempre sentado em sua velha poltrona verde listrada e com seu jornal matinal. Ele sempre usava casaco, na maioria das situações e estações. Na maioria das vezes era vermelho, azul, verde, preto cinza, cores masculinas. Usava seu velho cinto preto, com sua calça azul marinha, folgada. Era meio calvo, mas ainda tinha uns fios de cabelo preto para ostentar. Era sempre penteado para trás e usava um óculos retangular. Tinha uma expressão carrancuda, mas era um bom homem. Tinhas as mãos grandes e enrugadas e era meio gordo. Tinha olhos pretos (Pretos, não castanhos) e um nariz meio redondo. Usava sempre as mesmas cores de sapato: Marrom ou Preto. Ele gostava de ler e trabalhava no jornal, mas não aparecia na tevê.
Qual era mesmo a desculpa dele? Oh sim, "Vocês sabem muito bem que isso não faz o meu estilo, cuidar das notícias está ótimo e... Ei, Ana, você lavou minhas meias?"
Agora, minha mãe.
Tinha uma franja, com o cabelo castanho claro e liso, sempre caíndo sobre os ombros. Era fora do peso, mas não deixava de ser bonita. Tinha bochechas grandes e vermelhas e tinha olhos castanhos. Tinha um sorriso particularmente amigável. Tinha a mão grande e meio inchada, mas sempre com marcas de quem trabalhava o dia inteiro. Ela era dona de casa. Estava sempre com seu avental preto com bolinhas brancas. Como eu sei disso? Eu dei pra ela quando tinha 13 anos, no dia das mães. Usava sempre um dos vestidos dela e suas sapatilhas bem gastas. Ela também usava um óculos retangular. Meu pai tinha a pele normal, já a minha mãe tinha a pele meio bronzeada.
Meu pai ganhou o nome de "Jorge Mero Tadeu" porque seu pai era um cara um tanto aventureiro, e achou esse o nome certo para o meu pai. Se um dia você perguntar:
- Sr. Jorge, por que o senhor recebeu esse nome? - Amigo, pegue suas malas e se apronte, pois você vai ficar lá por um bom tempo (Falo isso por experiência própria).
Já a minha mãe, bom, minha avó gostava muito de flores e da moda antiga, então colocou o tal nome. Eu realmente não sei o que "Anastácia" tem a ver com flores e com a moda antiga, então... pergunte a ela quando tiver um tempo.

Enfim, os dois implicavam um com o outro, o tempo todo.
Um xingava o outro, reclamava de um, de outro, do trabalho de um, do trabalho do outro...
Mas eles se amavam, dava para perceber, só da maneira que eles se olhavam.

Suspirei e sorri, certo de que não me esqueceria daqueles rostos enrugados e gentis...

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⏰ Última atualização: Sep 17, 2015 ⏰

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