1 Capítulo

79 7 1
                                    

EU CONSEGUI A BOLSA! . Doce senhor eu não estou lendo isso, certo? Ok Nascimento você está lendo isso. Eu consegui PORRA!
Meu corpo colidiu com a parede fria me fazendo escorregar pelo chão gélido, coloquei minha cabeça entre os joelhos e chorei, eu ganhei a bolsa para estudar na high school, a alegria que eu estou sentindo é a mesma alegria de saber que eu sou foda o suficiente para conseguir uma bolsa, é a mesma alegria de saber que em dois dias sairá o vôo que mudará minha vida!
- TAMIRES CHEGAMOS! - Minha mãe gritou do cômodo de baixo, suspirei me levantando da cama, calcei meus chinelos e desci.
- Oi mãe.. Oi pai - parei no meio da escada olhando para meus pais, minha mãe abriu o maior sorriso assim que me viu, hora de encarar a realidade!
- Ér.. A gente pode conversar? -desci a escadaria sentando na poltrona em frente aquelas duas pessoas à minha frente.
- Claro querida, está acontecendo algo que a gente não sabe? - meu pai indagou confuso.
- OH NÃO!.. VOCÊ ESTÁ GRAVIDA? - Minha mãe gritou ficando de pé.
- Deixa eu explicar, sente por favor - lancei um olhar reprovador para ela que sentou na mesma hora.
- Ér... Então... - gaguejava e meu pai se estressou.
- desembucha Tamires! - exclamou sério me assustando, bufei. Vai ser mais difícil do que eu pensava.
- Eu preciso que vocês leiam essa carta! - entreguei a carta na mão do meu pai vendo minha mãe se juntar a ele para ler.
- Tamires... Quando chegou isso? - meu pai perguntou indeciso entre olhar para mim ou para a carta.
- COMO ASSIM VOCÊ FAZ UMA COISA SEM NOS AVISAR ANTES? QUE IDADE VOCÊ TÊM GAROTA?! - Minha mãe gritava em pé novamente apontando para mim, as lágrimas rolavam livremente pelo meu rosto.
- Angel se acalma, não adianta isso agora! - meu pai tentava acalmar minha mãe, sem sucesso algum.
- ACALMA? VOCÊ ESTÁ PEDINDO PARA EU FICAR CALMA? - ela não me entende que porra!
- Deixa eu pelo menos explicar - sussurrei baixinho quase inaudível.
- Eu acho bom Tamires, você ter uma boa explicação para isso, caso contrário eu terei uma boa correção para lhe aplicar! - exclamou irritada, meu pai voltara da cozinha com o copo de água na mão, oferecendo o mesmo para minha mãe.
- Em novembro do ano passado, surgiu uma oportunidade única na escola e eu não pude deixar de me escrever, eu não levava tanta fé que eu ia consegui, mas aconteceu! - Minha mãe riu sarcástica abrindo a boca para falar, mas meu pai foi mais rápido e interrompeu.
- Não entendo o motivo de você esconder algo tão orgulhoso da gente - senti o arrependimento nas veias, mas logo rebati.
- Vocês seriam contra!
- E o que te faz pensar nisso? - ele falava cautelosamente como se não quisesse me magoar com suas palavras, minha mãe permanecia estática como se não fizéssemos parte do mesmo mundo.
- A mamãe nunca me apoiou na idéia de me formar em outro país - me senti incomodada com o desprezo da minha mãe, ela ao menos poderia tentar entender que se eles soubessem do meu plano mirabolante me impediriam de fazer, estou cansada das pessoas dizendo o que eu tenho que fazer, a carreira que tenho que seguir, que saco!
- Eu realmente preferia que você estivesse grávida! - disse levantando indo em direção a escada. Estava pronta para responder algo como "é, mas não estou", porém senti uma fisgada no peito que me impediu de responde-lá.
- Pai... Você.. - disse entre soluços.
- Shh! Eu vou cuidar disso minha filha, agora descanse - sorri agradecida para meu pai vendo-o ir atrás da minha mãe. Me joguei no sofá enfiando a cara no travesseiro sentindo um nó se formar em minha garganta.
- AAAAAAAAAAAAAAAA!!!! - gritei sentindo minha voz sair abafada pelo travesseiro. De longe ouvi os gritos do meu pai com minha mãe, minha garganta fechou, senti as bolsas em baixo dos meus olhos se formarem, me entreguei aos prantos novamente, depois de um tempo adormeci num sono forçado.
Acordei em minha cama, "não lembro de ter subido" murmurei baixinho enquanto caminhava até o banheiro, olhei-me no espelho e não me preocupei com o que vi não esperava nada a menos que isso. Estou acabada!
- Tamires?! - ouvi a voz do meu pai pelo quarto e abri a porta do banheiro.
- Sente aqui! - sentou em minha cama e bateu no lado oposto para que eu pudesse me sentar, assenti.
- Você sabe que agiu errado quando escondeu a verdade da gente, não sabe? - arqueou a sobrancelha.
- Mas pai...
- Sem mas Tamires, mesmo que sua mãe não te apoiasse você deveria ter me contado, você deveria ter confiado em mim, eu sempre te apoiei - percebi a decepção em sua voz e solucei.
- Eu ia dizer pai, estava só esperando chegar a resposta da carta - tentava respirar mas era em vão, o ar me faltava.
- E se você não fosse aprovada, esconderia isso da gente? - parei para pensar em sua pergunta, e sussurrei para mim mesma "o que você faria se não fosse aprovada, contaria?" fiquei sem reação e me vi sem saída, meu pai me olhou desafiador.
- Não pai, não contaria! - respondi de imediato.
- Então nós nunca ficaríamos sabendo do que você fez? - perguntou, como se quisesse ter prova do que eu acabara de afirmar. Murmurei um "não" baixo cobrindo meu rosto com as mãos.
- Se arruma e desce para jantar, precisamos conversar com você - fez menção de levantar da cama, segurei seu braço.
- Isso inclui ela? - indaguei confusa.
-  Filha, mesmo que ela demore para aceitar o fato, já temos nossa opinião formada sobre isso - gelei na mesma hora. Corri para o banheiro tomando um banho rápido, vesti uma camisola qualquer, prendi meus cabelos em um coque frouxo e desci, seja lá o que for a notícia que receberei nesse jantar, preciso encarar isso da mesma maneira que tive coragem para correr atrás do meu sonho.
- Estávamos apenas esperando você descer! - meu pai exclamou assim que me viu, olhei de relance para minha mãe que prendia os olhos em algo a sua frente. Me sentei na cadeira de frente para os dois.
- Quero que você permaneça quieta até acabarmos de falar - minha mãe disse ainda sem me olhar, assenti.
- Tamires, passamos a tarde inteira pensando e acredite não foi fácil chegar a uma conclusão - meu pai disse olhando para minha mãe que finalmente me olhou, seus olhos denunciavam mágoa.
- É um ano, certo? - minha mãe indagou e meu coração acelerou na medida em que os ponteiros mudavam de lugar.
- Sim, mãe! - sorri vendo-a levantar, me levantei recebendo seu abraço.
- Mesmo estando muito chateada só de pensar que você não confia em mim, eu sobrevivo um ano sem você afinal você estará indo em busca do que você gosta e isso me faz feliz - Para o mundo que eu quero descer! Minha mãe está me dizendo que eu vou para Londres?! CARALHO!
- Mãe... NÃO ACREDITO - gritei sem me importar com os vizinhos que a essa hora deveriam estar dormindo nem muito menos com minhas lágrimas que molhavam a blusa da minha mãe. Meu pai se juntou a nós me dando um abraço de urso, sorri em meio ao choro.
- Vamos jantar, resolvemos o restante das coisas amanhã - minha mãe dizia enquanto enxugava as lágrimas que trilhavam um caminho por suas bochechas.
Amanhã será um grande dia!
Acabamos de jantar, me despedi dos meus pais e subi a escadaria da minha casa, em breve essa despedida não será "até amanhã família" e sim "até daqui a um ano família", joguei-me na cama meio sonolenta, fechei meus olhos sentindo minhas pálpebras pesarem.
Me levantei meio dolorida por ter dormido de mal jeito, olhei no relógio que marcava 07:58 caminhei lentamente até o guarda roupa separando uma trouxa, hoje vou ao shopping comprar algumas roupas para minha tão esperada viajem, como aqui no Brasil é bem quente, optei por um short verde, um cropped branco e minhas havaianas. Meu vôo é amanhã às 08:00, só de saber que não tenho com quem compartilhar minha felicidade pais não são amigos, pais que querem ser amigos não são bons pais, amigos você conversa de igual para igual, pais podem até ser divertidos, legais, compreensivos, mas continuam sendo pais. Não que eu não tenha nenhuma amiga, minha melhor amiga está na Austrália, ela mora com a avó no Brasil mas nas férias vai para a Austrália visitar os pais. Joguei-me tateando minha mão pela cama em busca do meu precioso celular, digitei o número já tão conhecido por mim.
- Tata? - Catherine disse animada.
- Cath, que saudade! - disse sorridente. Pelo visto ela está curtindo muito.
- Amiga a sua saudade não chega aos pés da minha, agora escuta preciso te contar uma coisa.
- E o que seria? - me preocupei.
- ESTOU INDO PARA... - percebi que estava sorrindo do outro lado da linha telefônica - LONDRES!
- OH MAY GOD! Para tudo - meu coração disparou, meu sorriso se alastrou por todo meu rosto, levantei-me pulando na cama.
- EU TAMBÉM! EU TAMBÉM!
- Você também vai Tata? - indagou contente.
- Eu consegui a bolsa! - disse por fim ofegante.
- Para de pular nessa cama agora Dona Tamires! - me repreendeu.
- Como sabe que estou pulando? - perguntei divertida me jogando novamente na cama.
- Te conheço amiga, mas me conta essa história direito.
- Você sabe que eu me escrevi, certo? Ontem a tarde chegou a carta e eu fui APROVADA! - Dei ênfase na última parte, fazendo Cath rir divertida.
- Estou muito orgulhosa de você tata! - sorri - que horas sai o seu vôo?
- oito horas! - disse contente.
- É uma pena, o meu sai essa madrugada! - percebi a decepção em sua voz.
- Cath, seus pais não mora na Austrália? - indaguei confusa.
- Sim amiga - afirmou - mas graças ao espírito aventureiro dos dois, essa madrugada iremos para Londres!
- Irado amiga! Agora preciso desligar, até em London! - sorri divertida e Cath gargalhou.
O dia passou rapidamente, fui ao shopping fazer compras e logo depois voltei para casa. Passando pelos meus pais percebi que o olhar da minha mãe continuava distante, como se ela não fosse a favor da minha decisão, tenho para mim que ela só "concordou" com isso por causa do meu pai. Olhei o visor do meu celular que marcava 21:20, escovei meus dentes e desci a escada.
Joguei-me no sofá após perceber que a casa estava silenciosa.

High SchoolOnde histórias criam vida. Descubra agora