2 Capítulo

54 5 1
                                    

- Novelas, desenhos, séries, jornais, programas culinários e... Novelas novamente! - suspirei, me levantando e indo em direção a cozinha, caminhei pela mesma despejando o líquido transparente no copo. Sentei-me na bancada e as lágrimas voltaram a tona. Corri para meu quarto pegando a caneta e um caderno velho desgastado.
"Pai e mãe, espero que um dia vocês possam me perdoar pelo que eu fiz, sei que agi errado em não contar mas eu tive medo, muito medo principalmente de vocês não aceitarem. Londres sempre foi meu grande sonho desde muito pequena, não quero forçar a barra, agora vocês estão confusos eu sei, mas eu só quero poder alcançar meus objetivos sem a ajuda de vocês, somente o apoio. Lembra quando eu queria alcançar o pote de açúcar mas não consegui porque era alto, então agora eu consigo, sabe por que? Porque eu cresci. Eu preciso que vocês me apóiem nessa nova direção, obrigada por tudo eu volto juro que volto, amo vocês...
xx Tata "
Sentir a brisa fria logo pela manhã nunca foi meu forte, mas agora preciso me acostumar com isso. O vento gélido do aeroporto fez com que eu apertasse mais o meu casaco sobre o corpo, a fim de me esquentar mais.
- Filha, vou comprar café não demoro - sorri com o olhar que meu pai me lançou, como se dissesse "se comporte". Minha mãe continuava estática ao meu lado, abri a boca para falar mas algo me chamou atenção, uma pequena lágrima que contornava um caminho extenso por sua bochecha. Abracei a mesma apertado e para minha surpresa ela retribuiu. "Eu volto mãe, saiba disso sempre" murmurei baixinho sentindo as batidas de seu coração, "sei que sim, querida" se eu não estivesse tão perto dela, juro que não ouviria.
- Cuidado para não alagar o aeroporto - papai disse brincalhão.
- Hahah muito engraçado você Philip - mamãe retrucou irônica. É, eu vou sentir muita falta disso, enxuguei uma lágrima que ameaça cair e tomei dois goles do meu café forte.
- É aqui que a gente se despede! - disse sorrindo tristemente.
- Vamos logo com isso antes que eu desista de te deixar ir - eu e papai gargalhamos com a pressa da mamãe.
- Isso tudo é pressa para se livrar de mim? - indaguei brincalhona.
- Acredite querida, se eu pudesse prenderia você em sua cama e jamais te deixaria sair para qualquer outro lugar que não fosse o banheiro - gargalhei.
Papai abraçou-me fortemente, meus olhos já lacrimejavam, mas hoje algo que eu não vou conseguir controlar durante essas catorze horas de viagem será as lágrimas. Ouvi aquela voz irritada anunciando que já era hora de partir.
- Hoje minha linda lagarta está virando uma borboleta, não queria dizer isso, mas preciso deixar você sair do casulo. Promete que volta para mim? - desde a morte do vovô eu nunca mais vi papai chorar e definitivamente hoje esse recorde estava sendo quebrado.
- Pai, que broxante - mamãe gargalhou - mas sim, eu volto!
- Nada de arrumar homem por lá, eu tenho uma arma e sei usa-lá muito bem - não aguentei e explodi de rir ali mesmo.
Antes de partir abracei mamãe mais uma vez.
- No meu quarto, dentro de uma caixinha marrom na primeira gaveta da escrivaninha tem uma carta espero que leia, mas chame o papai para lerem junto, ok? - ela assentiu, beijei seu rosto e parti sem olhar para trás.
Catorze horas de vôo nunca me pareceu tão enjoativa, Tamires você nunca viajou né querida? Caminhava para fora do avião conversando com meu subconsciente. Não foi difícil achar um táxi, "o difícil vai ser me acostumar com a pontualidade dos britânicos" pensei.
- High School - O motorista consentiu sorrindo. Os britânicos são simpáticos!
- Ér.. Então.. - eu e essa minha puta vontade de falar mesmo quando não sei o que dizer. Ah qual é meu amigo? Eu sou brasileira dude, releva brasileiro fala muito. "Dude", preciso para de passar meus tempos livres com o Teddy, isso tudo é culpa dele. Teddy é o irmão mais velho de Catherine, ele é um amor de pessoa pena que não faz meu tipo, queria gostar dele, mas como dizem no Brasil "que pena que querer não é poder", ele mora na Austrália com os pais, conheci o mesmo quando estava na casa da avó de Catherine, ele ia visitar elas nas férias.
- Minha filha também estuda na High School - assustei-me com a voz rouca de Jeff.
- Que legal Jeff, como ela se chama? - indaguei divertida.
- Karollynne - franziu o nariz.
- Você não gosta do nome dela?- interroguei.
- Sim, gosto! Mas o problema é que ela faz o tipo patrícinha, sabe como é né? Líder de torcida - suspirou, deixei que continuasse - nunca concordei com essa história dela ser líder de torcida, mas a mãe dela não me escuta.
- Então ela faz o tipo que vai para cama com todos? - percebi o que falei minutos depois quando Jeff me encarou, desviei os olhos dos seus sem graça - desculpe por isso.
- Você é brasileira? - perguntou. - Está tão na cara assim - fiz bico.
- Não querida, é que os brasileiros costumam falar o que pensam - sorri sem graça.
Jeff me deixou em frente ao prédio da High School, guardei seu cartão no bolso traseiro da minha calça jeans surrada. Parei em frente a entrada do prédio e antes mesmo que eu pudesse ter meu momento choroso e clichê, meu telefone toca.
- Alô? - rolei os olhos.
- TATA! - Cath berrou do lado da linha me fazendo afastar o telefone, bufei.
- Porra Catherine, não acredito que você não deixou eu ter o meu momento clichê como todos os alunos que vão estudar na High School pela primeira vez tem - Enquanto eu falava em português, alguns alunos me encaravam de um jeito estranho. Alguns sorriam, outros nem se quer olhavam, outros acenavam.
- Tamires, não acredito que você está me dizendo isso - gargalhou acompanhada de outra gargalhada rouca.
- Teddy?? TEDDY!!!
- Tata? Que saudade pequena - Deus que mico que eu estou pagando na frente de toda High School.
- Pequena não, Teddy! - sabia que ele estava sorrindo do outro lado da linha telefônica, sorri também.
Assim que desliguei o telefone, caminhei para dentro do colégio sem cerimônias, Cath já estragou tudo mesmo.
Passei quase a tarde inteira conhecendo o colégio, peguei os livros hoje mesmo, a única casa disponível que queria me receber era a casa da Karolynne, lembram quem é? A filha do taxista. Mas coleguinha pensa comigo, se for para escolher entre a casa da "rodadinha" e a da Catherine qual você escolheria? CATHERINE!
Minha amiga me esperava no estacionamento do colégio, caminhei rapidamente até a ela envolvendo-a num abraço apertado.
- Que saudade minha flor - Cath pode até ser chatinha e irritante as vezes, mas sem dúvidas ela é uma amiga que eu levarei para vida toda. Entramos no carro que deduzi ser de sua mãe, enquanto Cath ligava o som resolvi quebrar o silêncio.
- Cath, sua mãe está bem? - indaguei divertida, Catherine arqueou as sobrancelhas.
- Sim, tata! - respondeu insegura.
- Tem certeza? Como ela pode entregar esse carro nas suas mãos? - A bichinha me mandou seu dedo nada agradável.
- Ha-ha-ha tão engraçadinha você Nascimento - ironizou.
Fomos o caminho todo conversando, se zoando e até mesmo xingando. Cath estacionou o carro na garagem e meu coração acelerou sem motivos aparentes. A entrada da casa era maravilhosa, havia uma escada cheia de pedrinhas, e um gramado que dava a impressão de ser aparado todos os dias, as paredes com detalhes cristalinos, e a porta de madeira que dava um ar aconchegante. Perfeito!
Assim que passei pela porta de madeira, Teddy correu em nossa direção. Está dentro do abraço de Teddy significa tanto para mim, ele faz com que eu me sinta protegida, confortável, não sei explicar mas é bom, é maravilhoso!
- Larga ela menino deixa eu abraça-lá - Tia Rosa sempre brincalhona como sempre, sorri.
- Que saudade tia!
- Oh, também meu anjo - "de anjo não tem nada" Catherine passou resmungando, soltei tia Rosa e corri para os braços do tio Jonathan. Desde pequena sempre chamei o mesmo de pai.
- Papai! - sentir o conforto de seu abraço é tudo que eu precisava agora.
- Filha, seja bem vinda a nossa casa.
- E a Londres também! - Teddy completou.
- Obrigada! - respondi simpática.
- Tata você precisa ver a banda que o Teddy está tocando, é demais - Cath me contava tudo muito orgulhosa, pude perceber o brilho em seus olhos.
- Que massa amiga! Quero ver eles tocando - caminhávamos para o andar superior, Teddy já havia subido com minhas malas.
Entrei em "meu" novo quarto e para falar a verdade não tinha nada que me preocupar com a decoração estava perfeito e eu bem sabia que não precisava de alteração nenhuma. Joguei-me sobre a cama fechando meus olhos, Cath repousou sua cabeça em meu colo me olhando cautelosa.
- Eu sempre torci para que você e meu irmão desse certo, seria perfeito ter você como cunhada! - engoli em seco prendendo a respiração.
- Eu amo muito ele, mas não desse jeito - respondi depois de alguns minutos.
- Eu sei amiga, desejo de todo meu coração que você seja feliz - sorriu.
- Obrigada, o Teddy é um irmão que eu não pude ter - sentei-me na cama.
- Sei que sim - Cath levantou - agora descanse, conversaremos mais tarde - assenti.
- Tata?... Tata... TAMIRES!
- AAAAAAAAAAAAA! - meu corpo colidiu com o chão e que caralho quebrei uma costela, se eu não estivesse tão sonolenta levantaria agora é daria uma porrada na cara desse animal.
- Porra Teddy, se eu morrer do coração a culpa é SUA! - exclamei.
- Calma lá guria, alguém já te disse que você é muito dramática? - estendeu a mão para mim aceitei de imediato.
- Isso não vem ao caso agora - deitei na cama novamente.
- Qual é Tata? Já são nove horas da noite levanta para jantar - puxou minha coberta. Que saco!
- Não quero comer Teddy - choraminguei.
- Você precisa se alimentar pequena!
- Por favor Teddy! - e o que eu menos queria aconteceu, Teddy me pegou no colo caminhando comigo em direção a escada.
- SE VOCÊ NÃO ME SOLTAR AGORA, VAI VER COMO SONOLENTA RIMA COM VIOLENTA - gritei irritada e Teddy gargalhou.
- Seu bixa! - estapeei suas costas e ombros até o mesmo me soltar colocando-me no chão.




High SchoolOnde histórias criam vida. Descubra agora