Tempos depois

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O tic tac do relógio me fazia ficar eufórica e perturbada, a cada minuto que passava a aula de Débora ficava mais chata do que o normal. Química! A pior de todas as matérias, aquela mulher deveria ter vindo dos confins do inferno ou até mesmo ela poderia ser amante do maligno. Essa seria uma ótima matéria para a nova edição do jornal da escola só assim ela iria ser demitida de uma ver por todas. Durante toda a aula ela ficava falando de íons, elétrons, prótons e de sei lá mais o que. Estava contando de um até dez para não dar um soco na cara dela, se eu fizesse aquilo provavelmente ou seria expulsa, ou até mesmo ser suspensa do colégio para repensar na burrada que eu fiz.
Depois da saída do hospital passei alguns dias em tratamento especial, ia frequentemente ver como meu corpo reagia com os remédios. Com a pancada que eu havia levado perdi parte da memória, não me lembro nada sobre minha mãe. Nunca tive a oportunidade de conversar e colocar minhas dúvidas em dia com meu pai, ele passava a maior parte do dia no laboratório particular das empresas Alfas. Depois do acidente ele estava pagando todas as despesas de casa e cuidando da minha saúde.
O sapato de mais ou menos dez centímetros de Débora fazia um barulho irritante enquanto ela percorria a sala explicando o conteúdo. Eu tinha pena da pequena fivela que prendia aquele emaranhado de fios de cabelo, não entendia o quanto de poder aquela fivela tinha. O capítulo seis do livro de Química estava estampado: Os incríveis átomos.
O autor daquele livro deveria estar passando por uma crise nervosa, não entendia como incrível e átomo estavam na mesma frase e tão perto um do outro. Abaixei a cabeça e pensei no tempo que eu havia perdido dormindo em um quarto de hospital: Quatro anos. Pensei! Aquilo era o mais absoluto terror de qualquer menina de dezesseis anos. Faltava cinco minutos para Débora trocar de lugar com a próxima professora que viria, foi ai que a danada me pegou desprevenida:
-Alice Forte?-aquela voz me irritava.
-Presente?-toda a sala riu da cara de boba que eu fiz.
-Não estou fazendo a chamada, estou perguntando sobre o conteúdo.-aquilo foi uma bronca com certeza.
-Pode repetir a pergunta?-insiste.
-Claro que eu não posso! Você estava onde? No planeta dos macacos?-toda a sala riu novamente.
-Grande coisa professora. Você não pode estar falando assim com a Alice.-falou uma voz feminina lá no fundo.
-É melhor calar a boca Nefertari!-disse Débora já irritada.
Nefertari? A garota mais popular do colégio? Não estava acreditando que ela estava me protegendo. Só se ela quizesse algo em troca, essas pessoas são todas iguais:
-Olha aqui eu não vou calar a boca de jeito algum! Você sabe quem é meu pai?-disse a garota com um tom de voz alto.
-Sei muito bem senhorita. Mais você deveria se colocar no seu lugar porque nessa sala quem manda sou eu, e não seu papai.-Débora encarou profundamente com Nefertari.
-Uuuuuu.-a sala gritou em coro.
-Débora querida.-comecei. Como você quer que eu aprenda um conteúdo se nem aula você não sabe dar direito?-toda a sala focou em mim. Até eu fiquei surpresa da minha capacidade.
-Bom... Voltando ao assunto eu quero que você me explique sobre o conteúdo que passei hoje.-disse ela derrotada.
Meu corpo ficou imóvel, não sabia nem como começar a explicar. Provavelmente isso seria a vingança diabólica por causa da vergonha que eu a fiz passar. Apalpei o livro e abri no capítulo seis, me levantei até perto da mesa da professora e comecei meio sem jeito:
-Bom os átomos são partículas bem pequenas e maciças...
-Bom dia sala que amo!-essa voz eu conheço, era Alex o diretor da escola.
-Bom dia diretor Alex!-toda a sala disse em coro.
-Débora não estou interrompendo não é?-perguntou Alex.
-Claro que não!-aquela cara que Débora fez, foi ao contrário do que ela disse.
Por um momento relaxei, estava salva de pagar um mico:
-Bem hoje se matriculou na escola um rapaz que têm parentesco com a senhorita Débora. Bruno pode entrar!
Todos os alunos focaram em visualizar cada passo que o garoto dava, ele usava o fardamento do colégio com uma calça da Nick, um tênis de colocar inveja em qualquer um. Ele era um tanto branco de mais, corpo de atleta talvez estava praticando algum exercício:
-Todos vão ficar calados?-perguntou Alex.
-Bem... Alex obrigado agora é minha vez.-Débora era a única professora que gostava de desafiar o diretor.
-Professora você esqueceu de falar sobre o que aconteceu hoje na sala para o meu pai não é verdade?-Nefertari gritou lá de trás.
-O que aconteceu Débora?-Alex perguntou.
-Nada de mais, eu posso resolver isso.
-Tudo bem confio em você é na sua capacidade.-o diretor não disse mais nada apenas saiu.
-Alice pode se sentar!-ordenou Débora. Bruno faça o favor e se sente perto daquela garota barulhenta.
Ela apontou para Nefertari, e quando se virou a garota fez um gesto obsceno para a professora.
-Bom esse garoto que acabou de ser matriculado é meu filho!
Nossa! Essa foi a expressão de toda a sala. Um demônio mais novo estava rodeando todos nós, filho da capeta da Débora então só podia significar perigo para todos os alunos.

Alice, em virtude de um novo futuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora