Não há problema em chorar
Até meu pai faz isso às vezes
Então não seque seus olhos
Lágrimas te lembram que você está vivo
(Even My Dad Does Sometimes - Ed Sheeran)
Point of View - Dinah Jane
A aula de gestão financeira havia sido horrível. Não que algum dia fosse boa, mas parecia que a chegada das provas finais deixava tudo pior e mais complicado.
- O que aconteceu, amor? - Vero perguntou se aproximando de mim e Lucy.
- O de sempre. - Lucy respondeu desanimada e pegou a lata de refrigerante da namorada.
- Ah, mas eu estava falando com a Dinah. - Veronica respondeu e eu ri da cara de Lucy. - Eu vou na sua casa para nós estudarmos, vou te mostrar que matemática é mais legal do que imagina.
- Não vai mesmo. - eu falei e Vero me olhou com as sobrancelhas levantadas. - São as provas finais, Veronica, temos que estudar de verdade. Se você for lá tudo o que não vão fazer será estudar, e não vou deixar prejudicar meu bebê. - abracei Lucy que sorriu e mostrou a língua para Vero.
- Só você pode brincar de tesourinha, então? - Veronica gargalhou, ela sempre me deixava sem resposta.
Ela foi o caminho todo me irritando e fazendo provocações sobre Normani, quando cheguei em casa e ela foi embora continuou mandando SMS's. Realmente, eu não precisava de nenhum inimigo tendo Vero como amiga. Depois que me arrumei da forma mais casual que consegui para meu primeiro dia no pequeno restaurante encontrei meu pai na cozinha, fui até ele me lembrando do que Mani havia pedido.
- Já vai, DJ? - eu disse que sim e me sentei do lado dele. - O que você está querendo?
- O senhor me conhece bem mesmo. - ri enquanto enrolava, me sentia uma criança. - Pai, eu estou namorando, e ela quer vir aqui se apresentar formalmente.
- Só se for mês que vem, porque ainda não comprei munição para minha espingarda. - meu pai falou sério e depois riu por conta da minha reação. - Me avisa antes, só isso. É aquela tal Normani, não é?
- É ela, sim. - ele assentiu como se já soubesse, beijei sua bochecha e fui a caminho do meu novo local de trabalho.
O local era bem pequeno, mas aconchegante. Haviam mesinhas de madeira para quatro pessoas do lado de fora e do lado de dentro mesas maiores espalhadas. Um moço bonito estava na porta vestindo uma camisa engomada e calça jeans com sapatos tão brilhosos que pensei em me abaixar pra ver se exibiriam meu reflexo.
- Você deve ser a Dinah, certo? - eu assenti e apertei sua mão estendida. - Sou Joseph, o dono. O gerente que fez a entrevista com você me passou sua ficha e devo dizer que fiquei impressionado com suas notas na faculdade.
- Obrigada, Joseph.
- Eu vou te mostrar tudo, seu armário já está separado e amanhã mesmo você já pode vir com o uniforme daqui. Vou deixar claro que nesse começo você vai precisar fazer de tudo, sinto muito. Desde limpar o chão à tirar uma panela do fogo, temperar algo... É importante que você saiba fazer de tudo quando chegar à cozinha. Nós somos como uma família aqui, você precisa saber que sempre ajudamos um ao outro. Acho que você vai ficar bem na recepção, com todo respeito, você tem um rosto que vai atrair os clientes.
- Ah... Obrigada. - falei sorrindo. Era bom que seu chefe gostasse de você.
Passei boa parte do meu tempo limpando as mesas e até servindo os pratos. Quando a cozinha estava quase vazia fui até lá limpar o chão e os balcões. Havia ganhado setenta reais de gorgetas e uma flor de uma garotinha de no máximo 10 anos que eu havia atendido junto com sua mãe.
- Dinah, seu expediente já acabou. Você foi muito bem hoje.
- Obrigada, Joseph. Até amanhã. - eu falei e fui até meu armário, eu não tinha muito o que falar com ele, além de "okay", "obrigada", "sim"...
Passei na padaria que mamãe gostava tanto e comprei um cupcake para ela e outro para Seth. Assim que entrei em casa Seth abraçou minha perna e se prendeu nela enquanto eu ia até a cozinha, literalmento o carregando.
- Depois eu me pergunto como você se machuca. - Seth ainda gargalhando me soltou e eu o peguei no colo. - Uma moça ligou aqui, Dinah. Disse que tentou ligar no seu celular, mas nao conseguiu, então ela pegou o outro número com a Normani.
- Quem era? - perguntei entregando o cupcake para Seth.
- Uma tal de Ally, disse que se você pudesse ir na casa da Normani o mais rápido possível seria ótimo.
- Ela disse mais alguma coisa? - mamãe negou, eu subi correndo para o quarto e joguei minha mochila na cama de qualquer jeito. - Comprei uma coisa pra senhora, está na sacola. Eu estou indo na casa da Mani.
Beijei a testa de Seth antes de ir a pé mesmo, seriam longos minutos sentindo meu estômago revirando de ansiedade e curiosidade, fiquei pensando se Normani estava aprontando mais uma de suas surpresas ou se havia acontecido alguma coisas, avistei de longe o carro vermelho de Camila estacionado em frente à casa de Mani, bati na porta já sentindo uma confusão nas batidas do meu coração.
- Que bom que você veio. - Ally abriu a porta e me abraçou rapidamente, era até um pouco engraçado já que ela sempre passava os braços na minha cintura, pois não alcançava meus ombros.
- Está tudo bem? - perguntei procurando por Camila ou Lauren, mas nenhuma das duas estavam na sala.
- Nós tivemos um probleminha com a Mani, e bom... Talvez você consiga falar com ela.
- Ela está bem? - eu perguntei de imediato.
- Não exatamente, vem. - Segui Ally até o conhecido caminho para o quarto de Mani.
- Pode ir pra sua casa, Laur. Você deve estar cansada. - ouvi a voz de Normani, mas parecia rouca e fraca como se ela estivesse ficado em claro a madrugada inteira.
- Você tem visitas, Mani. - Lauren disse para a mulher encolhida no canto da cama, com a cabeça entre as pernas dobradas e os braços em cima dos joelhos.
- Eu não estou no clima. - ela respondeu fungando.
- Nem pra mim? - perguntei e ela levantou a cabeça, seus olhos estavam inchados e vermelhos. Ela fungou e olhou para Ally que apenas ergueu os ombros.
- Eu volto depois. - Lauren disse e beijou a cabeça de Mani, ela passou a mão em meu braço antes de sair do quarto junto com Ally. Eu fui até a cama e me sentei na frente dela, Mani me encarou, mas não disse nada.
- Você quer conversar? - perguntei sabendo que a reposta seria não, ela negou com a cabeça segundos depois. - Quer que eu faça alguma coisa? - Mani negou novamente, eu suspirei e joguei o cabelo para o lado sem saber o que fazer exatamente. - Você quer ficar sozinha? Eu invento uma desculpa para as meninas e...
- Só... Fica aqui, por favor. - ela falou com a voz completamente enbargada pelo choro, tirei meus tênis e me sentei ao seu lado apoiando as costas nos travesseiros, puxei-a para deitar e passei minhas mãos em seu cabelo devagar, ela deixou que suas lágrimas rolassem e eu não fiz nada para que ela parasse apenas fiquei velando para que ela não fosse interrompida.
Quando eu era adolescente passar as noites chorando era a melhor forma de me libertar de qualquer dor, de refletir sobre tudo, de me limpar realmente. Mani ficou um bom tempo apenas chorando, em alguns momentos ela parava e então voltava ao começo, ela adormeceu de repente, com a cabeça em um travesseiro que estava encostado em mim. Beijei sua bochecha e a cobri esperando que ela não acordasse no meio da noite e que finalmente pudesse descansar.
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State of Grace - Norminah
عاطفية"Uma alma gêmea é alguém cujas fechaduras coincidem com nossas chaves e cujas chaves coincidem com nossas fechaduras. Quando nos sentimos seguros a ponto de abrir as fechaduras, surge o nosso eu mais verdadeiro e podemos ser completa e honradamente...