Five

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~Alice~


Fez-se um pequeno silêncio depois do Luke ter falado, limitei-me a lançar um sorriso fechado e a desviar o meu olhar quebrando o contacto visual entre os meus olhos castanhos e as pérolas azuis do Luke. 


''Já me vais contar o que se passou?'' -quando o Luke me fez esta pergunta não tinha vontade de lhe responder e em vez disso preferia dizer que nada se passava, mas acho que não era muito justo ter-lhe ligado do nada a pedir companhia sem lhe dar uma razão para tal, por isso limitei-me a dar uma resposta curta mas que ao mesmo tempo explicasse o assunto por alto.

''O meu pai está cada vez mais bruto comigo. Isto já vem de há muito tempo atrás, nada recente. Não tens que te preocupar.''

''Como assim 'mais bruto'? Que se passa miúda?'' -o Luke virou-se repentinamente para mim enquanto me fazia esta pergunta. Ele perguntou-me bastante preocupado, estava com uma cara de preocupação tão grande que parecia que já me conhecia há bastante tempo.

''Não te preocupes Luke, não é preciso. Não é a primeira nem a segunda vez que isto acontece, tornou-se um hábito tão grande que já não me importo muito com isso.'' -respondi. Quando dei por mim tinha dois braços gigantes enrolados no meu corpo frio e um leve peso apoiado no topo da minha cabeça.

''Pronto,'' -descansou- ''se dizes que não preciso de me preocupar, não te vou contrariar, mas não hesites em ligar-me quando algo se passar. Posso ter-te conhecido há apenas umas horas mas podes contar comigo para qualquer coisa.''

''Obrigada Luke!'' -sorri e como por magia, mais uma vez, estávamos os dois a olhar nos olhos um do outro. Desviei a cara instantaneamente. Não aguento trocar olhares com o Luke, é sufocante. Parece que tenho algo a prender-me e é quase impossível sentir-me confortável ao olhar para os olhos azuis e profundos, quase sem fim, dele. Nunca me tinha apaixonado tão rapidamente por um par de olhos como me apaixonei pelos dele.


~~~


Eram agora 8 horas da noite, o tempo tinha passado por mim sem eu notar e apercebi-me que já devia estar em casa. Mas para ser sincera, não me importo com o facto do meu pai estar chateado ou amuado. Quanto menos tempo estiver em casa, é menos bocas desnecessárias com que levo. Só me importo por causa do Jeremy, não quero que ele fique preocupado comigo. Ele já tem preocupações a mais.


''Acho que devia ir andando Luke.'' -avisei. Não que me importasse de estar com ele, muito pelo contrário.

''Por mim é na boa. Queres que te leve a casa?'' -perguntou.

''Não, deixa. Não é preciso, eu não moro longe daqui.'' -preferia que ele me fosse deixar a casa, mas conhecemos-nos hoje, não quero estar a dar confianças maiores.


Despedimos-nos com um adeus apenas, obviamente que trocámos olhares mais uma vez.

Segui o caminho para casa, ainda era de dia, mas o sol já se estava a por, e hoje não era um dos dias em que me apetecia apreciar o por do sol. Mais valia ir para casa e observar as estrelas da minha varanda. 

Um quarteirão antes de chegar ao meu prédio, tirei um cigarro da minha mala, estava a apetecer-me fumar cada palavra amarga que o meu pai me disse como se fossem as suas ultimas, o que não me fazia diferença neste momento. O que mais quero é ver-me livre dele. Sim, é meu pai e não tenho direito de o odiar, até porque ele já fez muito por mim, mas todas aquelas palavras que ele me dirigiu de forma dura e insensível apagaram o passado alegre que tive em pequena. Já não sou propriamente uma criança e mereço respeito da parte dele.  


~~~


Quando cheguei a casa fui logo para o quarto sem deitar uma única palavra cá para fora. Pousei a minha mala no chão, tirei o meu casaco, descalcei-me e deitei-me na cama de barriga para cima com os braços esticados, esperei que o Jeremy viesse ter comigo, e assim o fez.


''Ligaste-me duas vezes. O que se passou enquanto estive fora?'' -o Jeremy entrou no meu quarto e sentou-se na minha cama ao meu lado.

''O costume. Continua com as bocas do costume, mas desta vez foi demais Jer. Já não aguento mais.'' 

''Calma Ali, tenho novidades que te podem agradar.'' -disse- ''eu estive a falar com ele enquanto estiveste fora, e ele disse-me que ia arranjar um emprego, o que faz com ele não esteja em casa na maior parte do dia. De qualquer forma, até te faz sentir melhor, tenho a certeza.'' -de facto fazia-me sentir melhor.

''Ao menos é da maneira que não dou com a cara dele durante o dia. Estou mesmo cansada Jer, e ainda ontem chegámos...''-respondi aborrecida.

''Descansa, deita-te um bocado. Se tiveres fome, há massa com bacon numa panela. Eu vou deitar-me também, estou cansado. Agora relaxa e recupera forças, porque amanhã vamos ver os Blink manucha. Faz um esforço.'' -o Jeremy sabe como me acalmar e reconfortar. Não podia pedir um irmão melhor que ele.

~~~


Depois de jantar, voltei para o meu quarto e vesti o meu pijama, improvisado de certa forma. Vesti um robe quente porque estava vento lá fora, e fui para a minha varanda ver as estrelas. A cada noite que passa, o número de estrelas no céu parece aumentar. O céu estava num perfeito tom de azul escuro, sem nuvens à vista. Os pontos brancos e brilhantes presentes no céu tornavam a noite especial. Voltei a entrar no meu quarto para ir buscar o meu maço de Marlboro e o meu telemóvel. Tirei um cigarro do pacote e notei que tinha recebido uma mensagem do Luke que dizia :

Miúda, fiz uma descoberta incrível!

Fiquei confusa, e perguntei-lhe o que era essa tal descoberta, à qual ele me respondeu passados 2 minutos: 

Eu sou o gajo que vai contigo e com o teu irmão manhã ao concerto dos Blink! :) Vai descansar miúda, tens um grande dia pela frente amanhã. Dorme bem! 


Eu já desconfiava de certa forma, mas cresceu um sorriso aberto na minha cara depois de saber as novidades que o Luke tinha para me dar. Fico contente por saber que o meu irmão tem amigos ''decentes'' e giros. O Luke deve ser provavelmente dos rapazes mais bonitos que já conheci. Admito que é mais bonito que o Matt. O Matt acabou. Acho mesmo que o melhor é desligar-me dele e começar de novo.

Sentei-me na grade da varanda com um braço apoiado nos meus joelhos e outro num constante movimento de levar e retirar o cigarro dos meus lábios. A noite estava gelada e eu tremia por todo lado, ou talvez seja apenas eu que tenha frio por estar de calções e top na rua às 11 horas da noite. Nem parecia uma noite de verão, mas tenho que ver as coisas pelo lado positivo, no Arizona as noites estavam mais frias do que aqui. Por um lado, tenho esperanças altas em relação à mudança para Sydney. Tenho que começar a ver as coisas pelo seu lado positivo, e deixar de vaguear pelo lado negativo das situações em que me meto, se bem que nesta situação não me meti por vontade própria, mas mais por obrigação. 

Estava a ficar demasiado frio por isso decidi voltar para dentro. Despi o robe e pendurei-o na parte de trás da porta do meu quarto. Deitei-me e tentei adormecer, mas era dificil adormecer sem pensar no que se passou antes. Eu não devia dar importância a isto mas é mais forte que eu. Nunca imaginei o meu pai a falar comigo daquela forma. Ele devia estar bêbado. Não sei, não quero pensar mais nisto.


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