soneto de um jovem não-burguês

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Haviam vozes que lhe apertavam a mente e o peito.

Haviam vozes que dilaceravam, aos poucos, a sua alma.

Não entendia por que precisava tanto ser perfeito,

Por que destruía a própria felicidade, a própria calma...

Não entendia por que o sol, só para os outros, brilhava,

E por que, para ele, tudo era sempre escuro.

E se perguntava, também, se Deus lhe amava,

Pois o prendera entre muros.

Não entendia por que aquela escuridão era estranha,

Se, de cor, sabia que não tinha porte,

Se seus sonhos moravam atrás de montanhas,

Nas quais só as escalam os que têm sorte.

Mas a verdade é que os degraus o colocaram em apuros,

E por não ter porte para subi-los, ele não tinha um futuro.


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