Caroline arrependeu-se amargamente por ter trocado uma tarde com Enrique por aquela tortura que lhe embrulhava o estômago. Ao ver os primeiros machucados incutidos nos animais dera uma desculpa e passara a maior parte do tempo vagando fora do camarote com a princesa Melia - que assim como ela não tinha suporte para ver tais cenas. Jane ficara por educação e medo de ferir os sentimentos da família do Duque, mas estava escrito em sua face o quanto ela também estava horrorizada com aquela prática.
O último dia na Espanha passara mais lento do que Caroline desejava, em contraste com os momentos em que estava ao lado do pescador, que pareciam voar. Passara o dia relembrando os beijos trocados com Enrique, queria guardar para sempre e com nitidez aquelas memórias.
Finalmente a noite descera sobre Barcelona e Caroline se recolhera. Vestida com um elegante penhoar por cima da roupa de dormir ficara sentada na cama durante quase uma hora. Não conseguia dormir. Os ruídos do andar inferior foram minguando até o completo silêncio. Uma única vela deixava o quarto quase na penumbra.
Leves batidas nas portas que davam para a varanda do quarto surpreenderam Caroline. Prestes a fugir do quarto e pedir por ajuda ouviu o som do inesquecível "Señorita" num volume baixo, mas suficiente claro para que ela reconhecesse.
Pulou da cama com pressa e abriu a porta, Enrique entrou apressado no recinto enquanto ela se certificava que ninguém o vira cometer tal loucura, ao perceber a rua deserta ficou mais segura, embora a presença daquele homem em seu quarto a deixasse intranquila.
- O que faz aqui? Acaso enlouqueceu?
- Precisava te ver outra vez antes de tua partida. Foi angustiante passar o dia longe de ti, sem saber com quem estava ou o que fazia.
Caroline baixou os olhos enquanto corava. Ele sentou-se na cama e puxo-a para o seu lado.
- Então? Gostou das touradas?
- Oh! – ela queria não ser rude, mas era difícil mentir sobre algo que a chocara tanto – Desculpe-me, mas devo confessá-lo que achei um esporte muito cruel...
- É um costume terrível! – ele concordou e ela sentiu-se aliviada por partilharem da mesma opinião – Tenho esperanças de que ainda chegará o dia em que este ato será abolido desta província. Não entendo esta sede de sangue quando temos participado de tantas batalhas para manter intacto nosso território.
- Já lutou em alguma batalha?
- Sim, ainda que não tenha durado muito tempo. Nossos homens são muito bem preparados, estamos acostumados com que tentem tomar nossas terras, temos que estar sempre a postos para nos defender.
- Só agora percebo que sei tão pouco de ti.
- Deseja saber mais?
- Não, me contento em acreditar que é um pescador que se finge de nobre para me impressionar. Isso basta, o restante pode ficar a cargo da minha imaginação, terei tempo suficiente no restante da viagem.
- Então quer dizer que pensará em mim? – ele ficou orgulhoso.
- Talvez um pouco. – Caroline brincou – E você? Lembrar-se-á de mim?
- Impossível esquecê-la, señorita! – sussurrou aproximando-se e roubando-lhe um beijo suave - Precisa me prometer algo antes de ir.
Caroline, curiosa, esperou que ele falasse.
- Tem de me prometer que não deixará nenhum homem invadir seu quarto como eu fiz. – ele ordenou com a voz solene.
- Prometo. Se algum lunático invadir meu quarto acreditando que eu sou uma cortesã o expulsarei eu mesma! – ela brincou.
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Corazón Partio
Historical FictionPara muitos Caroline Bingley foi uma vilã maldosa. Para outros uma irmã cruel e sem coração. Mas para mim - além de tudo isso - Caroline, sem dúvida, foi alguém que sofreu por ter suas expectativas frustradas, seus sonhos usurpados e suas esperanças...