Capítulo 5

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Caroline acordou sentindo sua cabeça prestes a explodir. Parecia que mil agulhas penetravam sua testa. A boca amargava, seus pés estavam moídos como se tivesse passado a noite andando.

"E passou". – sua consciência lembrou-a – "Não andando, mas dançando".

- Ah Meu Deus! O que eu fiz? – não lembrava nem como chegara à cama, mas estava vestida com suas roupas de dormir. Alguém a ajudara, ela só torcia para esse alguém não se tratar de Dom Enrique.

Tocar a sineta para chamar Eva quase lhe matara de uma vez. Parecia que o som esmurrava-lhe a cabeça.

Tomou o banho preparado pela criada enquanto esta lhe contava o estado em que chegara na madrugada anterior. Enrique a levara no quarto nos braços, pois Caroline se recusava a entrar na hospedaria. Desmaiou num sono profundo assim que foi deitada na cama e Eva trocou-lhe a roupa.

Sentia-se menos confusa. Pelo menos Enrique a respeitara, mesmo que ela tivesse agido tal qual uma louca. Fechou os olhos sem saber o que pensar. Divertira-se sem precedentes, mas temia ter causado uma má impressão no pescador.

- O que importa? – pensou alto – Em três dias estarei indo embora. O que ele pensa de mim não me afeta em nada.

Tomou o café forte levado por Eva, mas não conseguiu comer, sentia-se enjoada e indisposta. Ao vê-la daquela forma Jane e Charles deduziram ser este o motivo pelo qual ela saíra mais cedo do teatro. Quiseram ficar com ela o dia todo, no entanto Caroline sentiu-se mal por atrapalhá-los devido ao que Eva lhe explicara como sendo ressaca por efeito da bebida. De forma que praticamente expulsou o irmão e a cunhada da hospedaria.

Não desceu para o almoço nem conseguiu comer o prato que Eva levara para ela. Permaneceu deitada em seu quarto e cochilou um pouco, mas foi acordada pela criada avisando que Dom Enrique a esperava para um passeio.

Nem passou por sua cabeça não ir. Arrumou-se com esmero e desceu as escadas ruborizando em expectativa a reação dele frente à noite passada. Enrique lhe recebeu com um sorriso brincalhão nos lábios, deixando-a mais relaxada. Ele não estava tão formal quanto na noite passada, nem tão simples como das vezes que o vira na praia. Cumprimentaram-se e subiram no coche de aluguel que estava à espera.

- Como se sente? – ele indagou entre preocupado e curioso. Não tinha certeza se ela se lembrava com clareza da noite anterior.

- Me sinto bem agora, estive pior quando acordei. Por que as pessoas bebem se acordam tão mal no dia seguinte?

- Teria dispensado o vinho ontem se soubesse o que a esperava hoje? – ele replicou.

- Não! – ela respondeu sorrindo depois de refletir – Não teria deixado de fazer nada do que fiz ontem, me diverti como nunca!

- Fico feliz por ter colaborado com este momento.

- E eu devo agradecê-lo, e me desculpar por algum excesso cometido.

Caroline não estava verdadeiramente arrependida quanto ao seu comportamento. Mas sentia que era importante para ela que Enrique a aprovasse, não sabia explicar o por quê. Talvez por ser ele que a proporcionara tantos momentos diferentes e divertidos, ou por ter sido uma das poucas amizades que fizera ali.

- Não se desculpe, seus excessos me divertem, eu que devo me desculpar por meu comportamento inicial.

- De certa forma estamos empatados, então não necessitamos mais nos desculparmos.

Enrique concordou.

- Eu quero que faça tudo o que sente vontade. – ele a garantiu – Não sabe o quanto fica bela com um sorriso sincero no rosto. Não um riso oferecido por obrigação ou educação, mas um sorriso satisfeito, de contentamento, de felicidade. Vê-la assim é recompensador.

Corazón PartioOnde histórias criam vida. Descubra agora