Capítulo 9

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Caroline não sabia como se reaproximar de Enrique. Ele a estava tratando de maneira extremamente fria nos últimos dias. Nos poucos momentos em que estiveram próximos, ele mal respondia às suas tentativas de iniciar uma conversa, e assim ela acabava por desistir.

No entanto, estava decidida a seguir os conselhos de Mariane. Precisava usar de todos os artifícios para que Enrique voltasse ao normal, para que finalmente pudessem ser felizes juntos. Naquela noite, outro baile seria realizado, dessa vez em homenagem ao aniversário da querida Lady Matias. Precisava que tudo desse certo e para isso quase pôs Mary louca, exigindo os melhores trajes.

Pensou que teria um esgotamento nervoso até o fim do dia. Não via a hora de chegar a noite e encontrar-se com Enrique novamente, de sentir sua pele quente junto de si, como na Espanha.

O esforço de Mary valeu à pena: Caroline parecia uma princesa. O vestido possuía o decote numa cor clara, sobreposto nas laterais por um tecido mais escuro, levemente avermelhado. Seus cabelos estavam dispostos semi presos, com uma cascata vermelha de cachos caindo pelo ombro direito. Brincos delicados adornavam sua orelha. Estava perfeita.

O salão de baile da casa de Mr. Matias estava ricamente decorado, exibindo luxo e elegância na medida certa. Os donos da casa recebiam os convidados no hall, atenciosos e simpáticos com todos. Em minutos o local estava lotado com toda a sociedade londrina. A festa estava sendo um sucesso.

Caroline observava os casais e percebia suas peculiaridades. Charles e Jane eram a visão da pureza. A meiguice e simpatia dos dois era facilmente reconhecível. Darcy e Elizabeth também chamavam a atenção. Não eram um casal de demonstrar afeto publicamente, mas seus olhares diziam muito, e naquele momento revelavam tanta dedicação um ao outro que eram capazes de comover. Mr. Clive Owen e Mrs. Rachel, pais de sua amiga Mariane, eram outro casal que atraía os olhares. Nesse momento estavam separados, ele conversando com alguns cavalheiros e ela com as amigas, mas parecia que uma eletricidade os unia; a troca de olhares era constante e ela dava a impressão de que a qualquer momento correria e se jogaria nos braços do marido, que a aguardava para um profundo e apaixonado beijo.

Era assim que ela imaginava sua vida: com uma dose de segurança como o irmão e a cunhada, muita dedicação e respeito como os Darcy e muita, muita paixão, como os Owen.

Por mais que observasse o salão, sentia falta de alguém e sabia exatamente de quem. Enrique não estava em parte alguma. Ela já procurara discretamente e não o encontrara. E agora estava presa numa conversa boba com Sarah Fane, uma das debutantes daquele ano, que acreditava ser a moça mais bela da festa e que estaria noiva até o fim da temporada.

Doce ilusão. Caroline também pensava assim alguns anos atrás, quando fora apresentada à sociedade, e agora estava ali, sozinha, como sempre, porque fora estúpida demais. Amava Enrique, amava-o de forma quase dolorosa, e agora não tinha mais nenhuma atenção.

Deixou de escutar a conversa boba de Sarah quando todos os olhares do salão se voltaram para a entrada da mansão. Como sempre, a família espanhola concentrava todas as atenções e os comentários murmurados: a beleza misteriosa da princesa Melia, com sua pele azeitonada e olhos intensamente escuros; o charme imensurável do Conde, a postura aristocrática do Duque e da Duquesa e, claro, o fogo nos olhos de Enrique.

Por alguns segundos, o olhar de Enrique, que perscrutava o salão, fixou-se nos olhos de Caroline, que não conseguiu respirar nesse curto intervalo de tempo. Mas a mágica daquele momento se diluiu em questão de um estalar de dedos e a frieza em que ela fora jogada continuou.

Depois de recebidos pelos anfitriões, os Guzman y Andrade se espalharam pelo salão, contagiando a todos com seu charme e encantamento natural.

Caroline se perguntava quanto tempo demoraria para que Enrique tirasse alguém que não fosse ela para dançar, apenas para espiaçá-la ainda mais, embora nunca perdesse a esperança de que poderia ser a escolhida.

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