Capítulo 7

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Caroline mal pode acreditar ao ler a carta de Enrique. Suas mãos tremiam e seus pensamentos estavam desconexos. Não sabia o que deveria fazer, sabia apenas o que queria, e isso podia ser um tanto contraditório. Seu coração finalmente ficara livre de Mr. Darcy depois da viagem para Europa, coisa que ela não acreditara ser possível. Deixara de ser dolorido e incômodo para Caroline ver, ouvir falar, e até conversar sobre Darcy e sua família, e ela devia aquilo a Enrique. Se não se casasse com ele por amá-lo devia pelo menos casar-se por gratidão.

Mas não era gratidão que lhe vinha à mente quando pensava nele, coisa que ela fazia sempre que possível. Eram sensações deliciosas e ousadas. Lembrava-se com nitidez da noite em que ele a encurralara no quarto e roubara-lhe seu primeiro beijo. Recordava-se da maneira cavalheiresca com que ele se desculpou depois. E era impossível de esquecer todos os outros beijos e confidências trocadas, era impossível apagar da memória o calor que se apossava de seu corpo ao lado daquele homem.

Imaginou uma vida ao lado de Enrique. Sem duvidas seria repleta de paixão. Fechou os olhos e conseguiu visualizar com clareza os olhos nublados de desejo na tarde em que se beijaram sob a chuva. Enrique era quente, exatamente como ele lhe falara no segundo encontro na praia, ele era ousado, e liberara esse lado ousado nela, era impulsivo, e agia sem pensar friamente, era forte e protetor, era apaixonante.

Sim!

Era o que seu coração pedia. Seriam felizes ao lado um do outro. Ele não desaprovaria seus desejos de burlar suas próprias regras, ele entenderia sua vontade de ir além. Ele a faria gostar das noites que passariam juntos, ele a ensinaria a ser sua cortesã particular, ensinaria a mantê-lo em sua cama, longe das amantes que se comentavam que os maridos arranjavam.

Nunca sentira aquele desejo por Mr. Darcy. Nunca quis tê-lo tão perto quanto queria Enrique, mesmo sem saber seu sobrenome e suas origens. Não dava mais valor aquelas bobagens. Acreditava nele, se ele dizia ser nobre, não tinha porque duvidar, iria embora para a Espanha e todo o resto ficaria para trás. Apressou-se e respondeu a carta de Enrique, num tom tão apaixonado quanto o dele.

Em menos de um mês Bingley saudou a esposa e a irmã com uma ótima surpresa. O Duque de Tarragona e a família estavam chegando a Londres para uma temporada na Inglaterra!

Ele reforçou o convite para que os amigos se hospedassem em sua casa, mas a duquesa achou melhor alugarem uma residência, não queriam ser um estorvo para Jane em seu estado delicado. Caroline ficou duplamente feliz, Enrique também estava vindo para Londres, ela teria a chance de apresentá-lo aos amigos espanhóis, Melia ia gostar de saber que ela se casaria com o rapaz do bilhete.

O tempo foi passando, a gravidez de Jane era saudável e os Darcy também estavam em Londres para ajudá-la, na verdade Elizabeth a ajudava, Darcy a acompanhava porque não sabia ficar muito tempo longe da esposa e do filho.

O conde Juan II chegara a Londres primeiro para cuidar do aluguel da casa para o restante da família e ficara hospedado com os Bingley. Logo após o primeiro jantar na Inglaterra solicitou uma audiência particular com Charles. Após elogios e intensas afabilidades o conde mostrou a intenção de unir as duas famílias, através do casamento entre seu irmão mais novo, e Caroline Bingley. Seria ótimo para as relações comerciais entre os dois países e confortável para ambas as famílias.

Charles confessou sua surpresa. Não esperava uma proposta como aquela, principalmente porque não chegara a conhecer o irmão do conde em sua viagem para a Espanha. Ficara com a impressão de que o filho mais novo do duque era irresponsável e boêmio, e não era o modelo de marido que desejava para a irmã.

Combinaram então de esperar a chegada da família à Londres. Adiantaria o assunto a Caroline e esperaria para conhecer melhor o candidato a noivo, antes de tomar qualquer decisão. O conde concordou com sua sensatez e prudência e marcariam um jantar assim que a família estivesse instalada, o que não demoraria muito.

Antes de falar com Caroline Charles dividiu suas preocupações com a esposa. Ele estava receoso, talvez o irmão do conde não fosse boa pessoa, mas talvez ele também fosse a última chance da irmã. Sentia-se pressionado contra a parede.

Jane aconselhou Charles a relaxar e conversar com sinceridade com a irmã. Talvez estivesse se preocupando à toa e o rapaz fosse uma ótima pessoa e conquistasse o afeto de Caroline. Mais tranquilo diante das palavras otimistas da mulher Charles chamou Caroline para uma conversa no dia seguinte.

- Mandou me chamar, irmão?

- Sim, sente-se, Caroline.

- Aconteceu alguma coisa? – ela percebeu o semblante preocupado de Charles.

- Sim. – respondeu nervoso e desajeitado – Você recebeu uma proposta.

Caroline temeu. Só podia ser de Enrique, mas pelo jeito do irmão não sabia se ele considerara tal proposta boa ou ruim.

- Isso é ruim? – resolveu arriscar, precisava entender melhor.

- Não, quer dizer, não sei. O rapaz pertence a uma ótima família espanhola, sem dúvidas. – Caroline não conseguiu não sorrir, era Enrique! – Terá uma vida mais do que confortável, e melhor do que sempre lhe proporcionei, mas...

- Mas? – indagou com o coração prestes a saltar do peito.

- Mas não o conheço, nunca vi, não sei se é uma boa pessoa, apenas de achar sua família bastante agradável em nossos encontros em Barcelona.

- Conhece sua família então? – essa informação era nova para Caroline.

- Sim, não lhe disse? Trata-se do filho mais novo do Duque de Tarragona, o conde Juan II me fez a proposta noite passada.

- O que? – ela praticamente gritou levantando-se da cadeira.

- Fique calma, ainda não dei uma resposta ao conde, decidi esperar seu irmão chegar para que possamos conhecê-lo melhor, só aí... – foi interrompido por Caroline.

- Diga que não. – falou incisiva.

- Mas nós nem o conhecemos...

- Jamais irei me casar com o irmão do conde, alguém que nem conheço! Nem sei de quem se trata e nem faço questão de saber! Tenho a pior imagem possível de tal homem que nem se dignou a nos receber em momento algum.

- Minha irmã, trata-se de uma das famílias mais importantes da Espanha! O duque recebeu o título por serviços prestados a coroa como general em diversas batalhas! E o conde é conselheiro do rei!

- Pouco me importa! Poderia ser o rei em pessoa! Eu não me casaria com este homem nem amarrada!

Dito isso saiu com pressa do escritório do irmão. Estava alterada demais, temia falar a verdade sobre Enrique como justificativa para tão veemente negativa, não sabia se isso a ajudaria ou se pioraria tudo.

Jogou-se na cama confusa. Não tinha ideia do que fazer. Já era hora de Enrique aparecer, isso se ele ainda viesse. Estava começando a sentir-se insegura. Além disso, temia que o irmão não o aceitasse. Como compará-lo ao filho de um duque? Estava perdida, cada vez essa sensação aumentava. O que Charles faria quando recebesse a proposta de Enrique? E se ele não aceitasse? Não podia fugir com Enrique, seu irmão a tratara bem demais por toda a vida para merecer tal escândalo. Mas também não podia casar-se com um homem que não conhecia, não conseguia imaginar-se ao lado de mais ninguém além de Enrique.

Passara dias com tal preocupação. Charles só voltara a tocar no assunto quando a família do conde finalmente chegou a Londres. Avisou-a que receberiam toda a família Guzman y Andrade para uma visita, e que esperava um comportamento impecável da parte dela, só após conhecerem o irmão do conde conversariam novamente sobre a proposta. Sem argumentos Caroline não pôde fazer nada a não ser concordar, apreensiva.

Permaneceu no quarto o maior tempo possível, só desceu para recepcionar os recém chegados quando a criada foi buscá-la, assim que as carruagens pararam em frente à residência dos Bingley. De má vontade, porém educada, Caroline colocou-se atrás dos anfitriões, como moça comportada que aprendera a ser, praticamente a espera de uma sentença de morte.

Os primeiros a apontar foram o duque e a duquesa de Tarragona. Da carruagem de trás desceu o conde Juan, seguido da princesa Melia. Logo após um outro homem surgiu, e a visão de Caroline ficou turva, para logo depois escurecer totalmente enquanto ela sentia perder o chãos a seus pés.


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