Redes sociais

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- Oii, tudo bem? - pessoas de Cabo Verde são muito atenciosas especialmente em redes sociais.

Basta eu ficar online para receber quatro ou cinco chamadas nos chats para conversar sobre nada e sobre tudo.

- Oi. Tudo bom, e você. - respondi sem ver, meio que no automático.

- Tudo bom. Saudades de você.

Só então reparei que era a Suely, a moça que tinha feito o curso de preparação missionária comigo antes de eu voltar para o Brasil.

Eu também tinha saudades. Não da Suely em específico, mas de toda a situação. Cabo Verde tinha deixado uma marca em mim que ficaria para sempre. Nunca fui tão feliz na minha vida.

O ano de 2012 já tinha começado meu namoro e emprego já tinham terminado. Ano novo, vida nova é o que dizem.

Decidir adiar um pouco os planos de trabalhar logo pois teríamos no inicio de fevereiro um acampamento de carnaval na Igreja por 5 dias.
Não queria começar a trabalhar e já pedir licença do trabalho assim.

- Ta aí? - pessoa insistente, nem me deixa perder nos meus pensamentos.

- Saudades também. Desculpa a demora, estava viajando aqui.

- E como estão as coisas? Trabalho namoro?

- Não estou trabalhando nem namorando.

- Mas você estava namorando.

- Estava mas já terminamos.

- Sinto muito.

- Kkk eu também. Ela disse que não gostava de mim como namorado, então fazer o que né?

- E você ainda gosto dela.

- Eu a amo. - não sou muito de me abrir, especialmente em redes sociais. Mas me senti confortável em conversar com ela. Mas senti que ela estava incomodada.

- Ta aí? Kkkk - brinquei

- Estou. É que se você estivesse aqui as coisas podiam ser bem diferentes.

- Como assim?

- É que eu gosto de você. Não queria dizer nada antes porque você era missionário e depois logo estava namorando. Não queria que pensasse mal de mim, mas a verdade é que gosto muito de você e faria de tudo para ver você feliz.

Confesso que achei tudo aquilo "fogo de palha", algo que se diz por uma rede social e nunca na cara de alguém, sabe? Realmente ainda estava muito mexido por causa da "C" e não estava nem um pouco afim de um relacionamento a distância. Mas ouvir que uma pessoa gosta de você sempre faz bem pro ego, ainda mais quando nos sentimos com autoestima tão lá embaixo.

- Nossa! Não esperava por isso. Pena que você mora longe né?

- Distância não é nada quando se gosta de alguém de verdade - insistente a guria

- Desculpa Suely. É que acabei de sair de um relacionamento e não estou muito com cabeça para isso. Você é linda e muito legal, mas agora as coisas estão complicadas para mim.

- Eu entendo. Falei o que falei mesmo só para você saber que estou aqui e vou te esperar o tempo que for - caramba, prêmio insistência para ela.

- Tudo bem. Estou indo dormir agora - não era desculpa, realmente estava - beijos e nos falamos depois.

Fechei a rede sem esperar resposta e me estiquei na cama tampando o olho pensando em tudo o que estava acontecendo.
Precisava dar um rumo para minha vida, mas ainda não sabia o que ia fazer.
Ir para Cabo Verde atras da Suely estava fora de cogitação. Eu nem tinha emprego, pior ainda dinheiro para uma viagem tão longa assim.
Me assustei com o barulho do celular tocando, uma mensagem. Suely? Não. Impossível, eu fechei a internet.
Ah, droga era Tatiane, minha irmã.

- Acorda cabeção.

- Que você quer?

- Já mandou o currículo que te falei pra empresa que eu trabalho?
Minha irmã trabalhava havia dois anos numa empresa de telemarketing em Belo Horizonte e já tinha me falado que haviam muitas vagas lá. Mas operador de telemarketing não era o meu sonho de profissão. Sempre odiei falar ao telefone.
nada contra quem gosta, só algo pessoal.

- Ainda não. Vou mandar depois que voltar do acampamento.

- Ok, mas manda mesmo porque estão contratando muito esses dias.

- Tá bom - minha irmã sempre foi boa em tomar decisões para mim, mas nunca para ela mesma.

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Parada de ônibus. Acordo de meus pensamentos e reparo que já está na última noite. Amanhã cedo estarei em Fortaleza. Tenho borboletas na barriga mas acho que foi por causa da carne de cabra que comi no almoço numa parada bem no meio do fim do mundo. 
Parei de ficar checando o GPS do celular, porque nem ele está dando conta do recado e está acabando com minha bateria. Quero acabar com essa expectativa. Não nada de errado nessa decisão, tem? Estou fazendo a coisa certa e tudo vai dar certo.

E se não der? Tem que dar.

Sento no banco da pequena praça de uma cidade do nordeste brasileiro que nem sei o nome. Sei que já estou no Ceará. Vejo tantas pessoas e imagino quantas histórias elas devem carregar. Quanta coisa elas devem ter passado. Será que imaginam o que me trouxe até aqui. Claro que não! Se eu não estivesse passando nem eu acreditaria.
- BH Fortaleza em dois minutos - acordo dos meus pensamentos ouvindo o motorista gritar e entro no ônibus para continuar a pensar.

- O que é que eu estou fazendo aqui?

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Depois que o acampamento de carnaval passou, eu ainda não estava animado para trabalhar como operador de telemarketing. Mas não vi outra saída e precisava do emprego. Resolvi levar o currículo e no mesmo dia me ligaram marcando a entrevista.

Uma prova ridícula de português e matemática e pronto, fiz a entrevista onde destaquei que preferia trabalhar de segunda a sexta, oito horas por dia. Do que trabalhar segunda a sexta com escala no fim de semana por seis horas por dia. A segunda opção me daria oportunidade de procurar outro emprego, mas eu teria que trabalhar aos domingos - coisa que os mórmons não fazem por ser mandamento.

No fim das contas o emprego não era mau, conheci pessoas interessantes. Passei os meses de fevereiro, março e abril de 2012 numa rotina bem tranquila, sem nenhum incidente amoroso. Fora alguns encontros mau sucedidos, porém divertidos. E as conversas com a Suely pelas redes sociais continuaram funcionando bem. Na verdade, muito melhor do que qualquer contato interpessoal que eu tivesse com qualquer outra moça.

Não sei se o fato de estar longe facilitava a conversa, mas ela realmente era diferente. Ela sempre estava preocupada comigo. Sempre se declarava e dizia que ia me esperar. Declarava com toda a certeza que um dia ainda estaríamos juntos. E tudo isso chamou muito minha atenção. E, como não poderia deixar de ser, em Maio de 2012, numa conversa à noite pelo Facebook, simplesmente aconteceu.

- Suely, sei que a gente tem se falado muito e que essa distancia complica um pouco as coisas, mas queria saber se estaria disposta a arriscar e se você, mesmo a distancia, quer namorar comigo?


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⏰ Última atualização: Oct 03, 2015 ⏰

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