Capítulo 9

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No dia seguinte acordei na minha cama. Alan deve ter me carregado até aqui enquanto eu dormia. Ele estava no banheiro escovando os dentes. Levantei e caminhei até a porta. Ele parou e me olhou sabendo que algo estava errado.

_Eu recebi uma ligação ontem.

_O que aconteceu? Pediu muito sério se virando para mim.

_A Nicole...ela...sofreu um acidente de carro.

Não consegui encará-lo, pois senti que ia começar a chorar novamente.

_Ela está morta.

Ele me abraçou, enquanto encostei minha cabeça em seu ombro.

_Eu sinto muito.

_O velório vai ser hoje de manhã. Eu estava pensando em irmos...

_Hoje vamos receber a visita de alguns clientes na empresa e eu não posso faltar.

Me soltei dele e o encarei incrédula.

_É sempre assim, o trabalho vem antes de tudo, não é?

_Brenda, você sabe que isso é muito importante para nós.

Suspirei derrotada.

_Eu sei.

_Porque você não vai para lá e assim que eu me liberar, eu ligo para te encontrar?

_Está bem.

_Só tome cuidado, as coisas podem ter mudado desde a última vez que fomos lá.

Passei para o gerente ordens que deviam ser cumpridas durante minha ausência e dirigi até Lageado Grande. Já na entrada vi a velha igreja e no salão paroquial acontecia o velório. Estacionei o carro e me encaminhei até a porta. Do lado de fora havia um grupo de três senhoras conversando.

_Você sabia que ela não dormia mais em casa com o marido?

_Ouvi dizer que ela saiu com três homens naquela noite, e que eles fizeram uma festa e tanto.

_Parece que a festa foi grande demais.

Olhei para as três e senti meu sangue ferver. Como elas poderiam estar falando de Nicole se nem a conheciam? Elas não sabiam de nada, só queriam assunto para suas línguas de cobra. Não consegui me controlar e falei alto para ouvirem.

_Vocês não a conheciam.

Atravessei a porta e senti o olhar das três em minhas costas, mas não me dei ao trabalho de virar para encará-las. Elas não mereciam minha atenção. Urubus!

A mãe de Nicole servia café a todos. Quando ela me enxergou, veio em minha direção e me abraçou.

_Que bom que você veio.

_Eu não poderia deixar de vir. Como você está?

Apesar dos olhos inchados e da aparência de cansada, ela estava aguentando firme.

_Estamos levando.

_ Suzana!

_Eu já vou.

_Eu tenho que ir querida, mas conversamos depois.

Ao caminhar novamente me esbarrei em um homem muito bem apessoado. Ele era alto e moreno, seu cabelo era curto e bem ajeitado. Vestia um terno preto e, pela sua aparência, imagino que tivesse uns 30 e poucos anos.

_Me desculpe.

_Brenda?

_Como você sabe meu nome?

_Sou eu, Cristian.

_Cristian?

Olhei sem acreditar. Ele não se parecia em nada com aquele adolescente que eu me lembrava. Ainda surpresa, abracei ele.

_Oh meu Deus! Você está bem?

_Bem – Ele disse com um ar triste - Só um pouco atrapalhado - Ele passou a mão pelos cabelos - Eu não sabia que ela conhecia tantas pessoas.

_E Elenor e Alice onde estão?

_Ricardo não pode vir e não deixou Elenor vir.

_Mas ela o obedeceu? Pedi admirada.

_As coisas mudaram por aqui. Depois que eles se casaram, Ricardo começou a controlá-la. Ele não a deixa ir a lugar nenhum sozinha. Ela fica em casa 24 horas por dia cuidando das crianças.

_Eu não acredito nisso! E Alice?

_Eu tentei ligar para ela, mas seu celular está desligado. Ela anda trabalhando direto, tudo isso para poder sustentar os jogos de Luis. Ele acabou se viciando e largou o emprego, então sobrou para ela sustentar os dois. Eu tenho pena dela, ela realmente o ama.

_Nossa é difícil acreditar nisso, tudo parece muito diferente do que me lembro.

_ E você e o Alan, como estão?

_Estamos bem. Ás vezes discutimos, mas não é nada grave. Ele anda trabalhando muito e não sobra mais tempo para nós.

_Entendo. Foi bom ver você.

_Eu também achei. Agora se você me der licença gostaria de ir ver Nicole.

Fui até o caixão e vi Nicole deitada. Ela ainda era linda como eu me lembrava. Seu cabelo não estava mais tingido e sim da cor natural. Um véu preto cobria seu rosto, mas permitia ver as marcas do acidente, e quando cheguei mais perto percebi que elas eram profundas e pareciam ter sido feitas por facas. De repente passou uma ideia pela minha cabeça: e se não foi apenas um acidente?

Calafrios percorreram a minha espinha. Virei e sai apressadamente do velório. Entrei em meu carro e fui embora.

No caminho pensei em como a minha vida era boa: eu amava Alan e ele era bom para mim. Pobre Nicole, não merecia morrer daquele jeito. Ela era tão divertida e cheia de vida. E agora estava morta.


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⏰ Última atualização: Sep 18, 2015 ⏰

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