No dia seguinte acordei na minha cama. Alan deve ter me carregado até aqui enquanto eu dormia. Ele estava no banheiro escovando os dentes. Levantei e caminhei até a porta. Ele parou e me olhou sabendo que algo estava errado.
_Eu recebi uma ligação ontem.
_O que aconteceu? Pediu muito sério se virando para mim.
_A Nicole...ela...sofreu um acidente de carro.
Não consegui encará-lo, pois senti que ia começar a chorar novamente.
_Ela está morta.
Ele me abraçou, enquanto encostei minha cabeça em seu ombro.
_Eu sinto muito.
_O velório vai ser hoje de manhã. Eu estava pensando em irmos...
_Hoje vamos receber a visita de alguns clientes na empresa e eu não posso faltar.
Me soltei dele e o encarei incrédula.
_É sempre assim, o trabalho vem antes de tudo, não é?
_Brenda, você sabe que isso é muito importante para nós.
Suspirei derrotada.
_Eu sei.
_Porque você não vai para lá e assim que eu me liberar, eu ligo para te encontrar?
_Está bem.
_Só tome cuidado, as coisas podem ter mudado desde a última vez que fomos lá.
Passei para o gerente ordens que deviam ser cumpridas durante minha ausência e dirigi até Lageado Grande. Já na entrada vi a velha igreja e no salão paroquial acontecia o velório. Estacionei o carro e me encaminhei até a porta. Do lado de fora havia um grupo de três senhoras conversando.
_Você sabia que ela não dormia mais em casa com o marido?
_Ouvi dizer que ela saiu com três homens naquela noite, e que eles fizeram uma festa e tanto.
_Parece que a festa foi grande demais.
Olhei para as três e senti meu sangue ferver. Como elas poderiam estar falando de Nicole se nem a conheciam? Elas não sabiam de nada, só queriam assunto para suas línguas de cobra. Não consegui me controlar e falei alto para ouvirem.
_Vocês não a conheciam.
Atravessei a porta e senti o olhar das três em minhas costas, mas não me dei ao trabalho de virar para encará-las. Elas não mereciam minha atenção. Urubus!
A mãe de Nicole servia café a todos. Quando ela me enxergou, veio em minha direção e me abraçou.
_Que bom que você veio.
_Eu não poderia deixar de vir. Como você está?
Apesar dos olhos inchados e da aparência de cansada, ela estava aguentando firme.
_Estamos levando.
_ Suzana!
_Eu já vou.
_Eu tenho que ir querida, mas conversamos depois.
Ao caminhar novamente me esbarrei em um homem muito bem apessoado. Ele era alto e moreno, seu cabelo era curto e bem ajeitado. Vestia um terno preto e, pela sua aparência, imagino que tivesse uns 30 e poucos anos.
_Me desculpe.
_Brenda?
_Como você sabe meu nome?
_Sou eu, Cristian.
_Cristian?
Olhei sem acreditar. Ele não se parecia em nada com aquele adolescente que eu me lembrava. Ainda surpresa, abracei ele.
_Oh meu Deus! Você está bem?
_Bem – Ele disse com um ar triste - Só um pouco atrapalhado - Ele passou a mão pelos cabelos - Eu não sabia que ela conhecia tantas pessoas.
_E Elenor e Alice onde estão?
_Ricardo não pode vir e não deixou Elenor vir.
_Mas ela o obedeceu? Pedi admirada.
_As coisas mudaram por aqui. Depois que eles se casaram, Ricardo começou a controlá-la. Ele não a deixa ir a lugar nenhum sozinha. Ela fica em casa 24 horas por dia cuidando das crianças.
_Eu não acredito nisso! E Alice?
_Eu tentei ligar para ela, mas seu celular está desligado. Ela anda trabalhando direto, tudo isso para poder sustentar os jogos de Luis. Ele acabou se viciando e largou o emprego, então sobrou para ela sustentar os dois. Eu tenho pena dela, ela realmente o ama.
_Nossa é difícil acreditar nisso, tudo parece muito diferente do que me lembro.
_ E você e o Alan, como estão?
_Estamos bem. Ás vezes discutimos, mas não é nada grave. Ele anda trabalhando muito e não sobra mais tempo para nós.
_Entendo. Foi bom ver você.
_Eu também achei. Agora se você me der licença gostaria de ir ver Nicole.
Fui até o caixão e vi Nicole deitada. Ela ainda era linda como eu me lembrava. Seu cabelo não estava mais tingido e sim da cor natural. Um véu preto cobria seu rosto, mas permitia ver as marcas do acidente, e quando cheguei mais perto percebi que elas eram profundas e pareciam ter sido feitas por facas. De repente passou uma ideia pela minha cabeça: e se não foi apenas um acidente?
Calafrios percorreram a minha espinha. Virei e sai apressadamente do velório. Entrei em meu carro e fui embora.
No caminho pensei em como a minha vida era boa: eu amava Alan e ele era bom para mim. Pobre Nicole, não merecia morrer daquele jeito. Ela era tão divertida e cheia de vida. E agora estava morta.
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Vingança Mortal - DEGUSTAÇÃO
Mystery / ThrillerAo receber uma ligação sobre a morte de sua melhor amiga, Brenda volta a sua cidade natal, Lageado Grande. Lá ela vai ao velório de Nicole, onde encontra seu rosto marcado por facas. Uma dúvida surge: será que realmente foi um acidente como todos fa...