XI - Mundo Triste

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Eduardo estava concentrado na aula quando mandaram chamá-lo na diretoria. Ele estranhou aquele comunicado, mas foi. Uma sensação estranha a lhe pesar no peito. Assim que chegou por lá, o diretor lhe avisou que havia recebido uma ligação, pedindo que ele fosse para casa, pois sua mãe havia sofrido um acidente. Ao ouvir aquilo, ele ficou nervoso, a sensação ruim dentro de si somente piorando. Correu para chegar em casa. Tão logo chegou na rua onde morava, percebeu que havia faixas com tarjas amarelas em volta da casa, uma ambulância e vários carros de polícia estacionados na porta.

O jovem tentou não se desesperar, mas sabia que para tamanho movimento, algo de bem grave havia acontecido. As pessoas da vizinhança, ao olharem para ele, desviavam os olhos com pena, em silêncio. Os mais próximos choravam alto, o que fez o jovem se sentir tonto e, andar meio sem rumo até o policial ali presente. Quando disse que morava na casa, o oficial o autorizou a entrar, sem nada dizer. Passou por muitos desconhecidos e viu o pai, desconsolado, no sofá. Ia perguntar o que tinha acontecido, mas algo lhe chamou a atenção, na porta do quarto de seus pais, que estava aberta. Foi quando reconheceu o corpo da mãe, jogado no chão como um trapo velho, um amontoado vazio, encostado no guarda-roupa. O grito de dor que saiu do seu peito rompeu a rotina dos policiais, expôs a dor que acabava de destroçá-lo. Desesperado, tentou ir em direção ao quarto, chamando pela mãe, mas os policiais o impediram. Calmamente, com palavras de conforto que não conseguia entender, foi colocado no sofá ao lado do pai. Só quando conseguiu recuperar o fôlego e respirar, Eduardo perguntou, com um olhar perdido.

— O que aconteceu, meu pai?

Roberto não tinha palavras que pudessem explicar um ato tão cruel ou sequer confortar o filho

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Roberto não tinha palavras que pudessem explicar um ato tão cruel ou sequer confortar o filho. Apenas o olhava, tristemente.

— Sua mãe veio buscar um vestido que esqueceu em casa, para entregar a uma cliente na igreja. Vi que ela estava demorando e eu vim procurá-la. Acabei me deparando com esta cena. Acho que ela surpreendeu um ladrão roubando a nossa casa e o desgraçado não teve piedade dela... — Conseguiu contar, em um fio de voz.

— Mas pai, isso não pode estar acontecendo... Não é verdade! Me diz, pai... Fala que isso não é real! — Eduardo grudou-se ao pai, que o abraçou.

Ambos ficaram mergulhados em lágrimas. Eduardo se lembrou do amor de sua mãe, uma mulher que vivia somente para a família. Recordou a sua vontade imensa de vê-lo um dia se formar em medicina e tudo que viveram juntos. Tentava acordar daquele pesadelo, mas era impossível. Após a morte cruzar por nossas vidas, nunca mais somos os mesmos.

— Pai, onde estão as crianças? — Eduardo se lembrou e procurou os pequenos, em pânico. Esperava que eles não tivessem visto sua mãe naquela circunstância, jogada no chão. Nunca na vida esqueceria aquela cena.

— Pedi a dona Maria, nossa vizinha, que tomasse conta delas até resolvermos esta situação. Depois contaremos a Anabela e ao Francisco com calma, para amenizar este trauma.

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