Capítulo 2

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Chego ao colégio ainda atordoada com tudo que aconteceu. Sento-me exatamente no mesmo lugar: fileira do meio, carteira do meio. Eu não sou muito de conversar, talvez por isso ainda não fiz amigos. Todos na classe já chegaram inclusive o professor de ciências, um homem na casa dos 40 e com a expressão de cansaço em seu semblante. Eu olho constantemente para os lados com receio de tornar a ver a figura sombria e percebo que um lugar na classe está vazio, não consigo me lembrar de ninguém que houvesse faltado.

Putz! Como pude me esquecer?! Faltava Dominique, a garota que usava o mesmo suéter desde o jardim de infância, sempre com a cara metida num livro, a melhor da turma, ela não era muito de faltar, pra falar a verdade ela nunca faltava. O dia hoje realmente está estranho.

Já se passaram mais de uma hora e a aula parece ser eterna. Todos estão em silêncio, ouvi-se apenas o tic tac do relógio que parece rodar os ponteiros mais devagar a cada momento, o bater frenético de uma caneta na mesa de alguém no fundo da sala e o balançar dos galhos secos do carvalho, que sustentava apenas as últimas folhas que o vento ainda não tinha arrancado e que volta e meia batia na janela de vidro.

Tudo permanecia normal até o momento que um silêncio total pairou sobre a sala e uma brisa fria tomou conta do ambiente. O relógio parou exatamente as 08:57, não se ouvia mais o balançar do carvalho e a bandeira que carrega o nome do Colégio Sant'Isobel está pendurada no mastro totalmente imóvel. Meus olhos começaram a arder e eu tive uma espécie de alucinação: havia sangue em minhas mãos, na minha roupa e um corpo no chão, não consegui ver quem era pois estava escuro mas com certeza não havia sinal de vida ali.

Aquela imagem me aterroriza e sem perceber liberto o grito que estava preso em minha garganta e abro os olhos! Estou branca e com a boca ressecada, e o resto da turma me olha como se eu estivesse louca, nada havia acontecido.

- Srta. Vuldegart? Está se sentindo bem? -pergunta o professor sem saber o motivo do meu escândalo. Não me permito responder e saio correndo da sala em direção a saída do colégio.

Corro para minha casa sem olhar para trás e algumas lágrimas rolam no meu rosto, talvez por medo, talvez por desespero, a distância não importa, eu só quero sair dali. Chego ofegante e com o coração acelerado. Deparo com meu pai na sala, assistindo TV.

-Kat... o almoço já está quase pronto. -grita minha mãe da cozinha.

Subo o lance de escadas pulando novamente o gato e a jaqueta. Bato a porta e me deito na cama com a cabeça enterrada no travesseiro e me ponho a pensar sobre o que vi ou supostamente vi. Tento organizar os pensamentos mas sou interrompida pela minha mãe novamente me gritando:

-Katarina!! Desce aqui vem ver!! Seu colégio ta passando no noticiário!!

Dessa vez desço devagar, acho que cansei de correr. Chego na sala, lá estava meus pais com a atenção totalmente voltada pra TV. A notícia também não era das melhores "A aluna Dominique Fells foi encontrada morta no banheiro feminino do Colégio Sant'Isobel " dizia a moça do noticiário. No canto superior da tela estava a foto de Dominique. A suspeita é que ela bateu com a cabeça na pia depois de escorregar em um tipo de líquido no chão mas o estranho é que o único líquido que havia no chão era o próprio sangue da vítima espalhado por todo lado. Coincidência ou eu acabo de prevêr a morte de uma colega? Morte essa que se tornou uma incógnita.

Preciso ficar só, respirar novamente e tentar sair desse pesadelo. Vou pra calçada de minha casa, o tempo fechou, sento-me no chão, coloco a cabeça entre as pernas, começa a chover. A sensação de djavú toma conta de mim.

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