Capítulo 5

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Vó Naxa preparou para mim um chá de galhos de folha-de-loro, não sei muito bem para que serve mas espero que me faça entrar em um coma profundo e que eu não acorde nunca mais. Nesse momento é tudo o que mais almejo. Ela começa a me explicar de quem descendemos e quem somos:

[E a liberdade poética me permite a definição]

-Wicca é um termo muito amplo meu anjo, abrange pessoas que nasceram como nós, com habilidades sobrenaturais e que cultuam a natureza como forma de agradecimento.-ouço com toda atenção- Nós descendemos de uma linhagem de wiccas clarividentes mas prever o futuro não é nossa única habilidade e isso você aprenderá com o tempo. Nossos poderes pulam uma geração, isso explica o fato de sua mãe não ter essas habilidades, mas sua mãe conhece a verdade, a falta de caráter dela a ignorância que a fez te abandonar nesse momento, não foi isso que ensinei à ela, não consigo compreender.

-Não se culpe vó, talvez ela agiu por medo. -Digo em um tom de incerteza porquê sei que nunca conseguirei perdoa-los.

Ela recolhe a xícara da minha mão e então continua, como se a ignorância da minha mãe fosse algo impossível de mudar e aparentemente era...-Sófia foi uma grande clarividente e mesmo sabendo que iria morrer numa fogueira, lutou para proteger a nossa identidade. Espero que um dia você se torne tão grande quanto ela foi.

Permaneço em silêncio por um tempo, absorvendo todas aquelas informações e a ficha não havia caído ainda. Ela continua:

-Tudo que você precisa saber agora é que futuro as vezes pode mudar, guarde isso... e que você é diferente, seja você um humano comum ou não, e que cada diferença te torna única. -Ela termina a frase sorrindo para mim e aquilo mais uma vez me conforta.

-Vó, eu preciso de você agora mais do que nunca. Não me abandone. -O choro fica preso na minha garganta formando um nó.

-Eu nunca te abandonarei meu amor. Agora suba, vamos desfazer essas malas e eu te mostrarei seu quarto.

Dessa vez não há escadas, agradeço mentalmente. Fora os bibelôs assustadores, o resto da casa me passam uma paz que eu nunca senti antes em nenhum outro lugar. Meu quarto fica ao lado da cozinha, é razoavelmente grande. Há uma cama de solteiro, um guarda-roupa repleto de adesivos de borboletas e um sofá-cama que da de frente para uma janela enorme.

Entro e já trato de colocar minhas roupas no cabide e logo após vovó entra no quarto com a pequena caixa de madeira em mãos.

-Kat, eu quase me esqueci de lhe dar um presente. Se lembra do colar que Sófia usava na foto? -Ela passa a caixa pras minhas mãos e sai do quarto, voltando à porta apenas pra dizer -Use-o sempre, é um amuleto de sorte para nós wiccas clarividentes, uma herança de família.

Eu abro a caixa e lá está o colar com o brilhante pingente em forma de olho, símbolo da clarividência. Coloco-o e de repente a imagem de Sófia sendo morta numa fogueira vem à minha mente. Me assusto e seguro ele com força até me sentir melhor. Foi uma visão. Como sei? Não sei, apenas sei. Meus poderes mostrou-se capaz de ver não apenas o futuro, mas também o passado. Vai saber o que mais eu sou capaz de fazer!? Essa ideia me assusta.

Meus devaneios sobre meu novo eu são interrompidos por assobios vindos do lado de fora no jardim do vizinho, o som é melodioso. Corro para janela ver de quem se trata. É um rapaz, não só um rapaz, um belo rapaz. Moreno claro, alto, cabelos negros e com a barba por fazer. Ele está cuidando de algumas rosas e realiza o trabalho com delicadeza.

Eu pensei que ele não estava me vendo ali quase que camuflada na cortina até o momento que ele puxa uma rosa, cheira, da um leve sorriso e a levanta olhando para mim, como quem oferece um brinde a outra pessoa, e sai. Droga, o que foi aquilo que acabou de acontecer? Porquê ele fez aquilo? Justo para mim? Eu só sou uma garota estranha, com uma vida anormal e acabou de descobrir que possui poderes sobrenaturais. A vinda à casa da minha minha avó me revelaria grandes surpresas.

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