Capítulo 3

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Clarividência, segundo a parapsicologia, é a capacidade de obter conhecimento de evento, ser ou objeto, sem a utilização de quaisquer canais sensoriais humanos conhecidos e sem a utilização de telepatia.

Assim está na revista sobre paranormalidade que eu encontrei junto as apostilas velhas do meu pai. Estou assustada comigo mesma e com essa capacidade que se intensificou após a morte de Dominique. Não sei como lidar, não sei o que sou e a sensação de não me encaixar no mundo só aumenta.

Meus pais estão me mandando pra casa de minha avó materna, eles querem que eu vá passar o verão lá. Mas eu tenho certeza que não voltarei. O verão foi só uma desculpa, eles não querem o fardo dentro de casa, uma menina que grita enquanto dorme por medo de seus pesadelos não é o que um casal sempre quis e o pior de tudo é que essa menina sabe que ao acordar, seus pesadelos se tornarão realidade.

No momento estou dentro do táxi, não me despedi. Na ocasião que eu mais precisei deles eles me puseram pra fora, como quem comprou uma TV com defeito e quer devolve-la. Aqui dentro faz frio, o aquecedor não funciona mas estou confortável pois minhas mochilas e meu gato me fazem companhia. O taxista da a partida e já estamos em movimento. Olho pelo vidro do carro e vejo que não há ninguém acenando um adeus qualquer, a porta da casa já se fechou mas mesmo assim eu aceno pro nada, finjo que eles estão lá, que minha mãe já está com saudades e que se importam comigo. Aceno. Um aceno indiferente.
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Minha avó se chama Naxa, a primeira Salem a se casar com um Vuldegart. Ela é uma senhorinha com ânimo de vida, não sei exatamente a idade mas já é avançada, ela tem uma tatuagem de um olho na mão direita e não larga o cigarro de maneira alguma, sinto como se apenas ela no meio desse turbilhão me amasse de verdade. Meu avô, Carlos N. Vuldegart, faleceu no ano em que eu nasci.

Enfim chegamos, após duas horas e meia de viagem. Ela mora numa cidadela tranquila, famosa pela sua catedral, uma das maiores igrejas do estado, e por seu folclore local.

O carro para em frente a uma casa amarela simples com uma cerca branca de madeira e um pequeno jardim com rosas que se destacam pelo vermelho vivaz. Da janela do carro percebo que há alguém na porta da casa... isso já me tira um raro e tímido sorriso. Lá estava minha avó em pé na porta, bem vestida e com os braços abertos prontos para me receber. Pego minhas mochilas e saio do carro ao seu encontro, meu gato me segue. O modo como abro o portão ou atravesso o jardim já não importam.

Abraço-a e ela retribui. Me sinto tão bem com aquele gesto, era o que eu mais precisava no momento... um abraço. Ela me aperta contra seu corpo, sinto seu perfume suave, é confortante. Toda aquela muralha de problemas, medo, rejeição e solidão despencam naquele momento e todos esses sentimentos tomam a forma de lágrimas que transbordam pelos meus olhos. As mochilas caem das minhas mãos que agora estão ocupadas envolta da minha vó. Me sinto aliviada.

-Filha, já não era mais tempo. Eu esperei por esse dia a anos e você já está pronta e deve saber a verdade -Diz vó Naxa com a voz carregada -Entre, aqui fora não é mais seguro pra você.

Eu estremeço e uma onda de preocupação me invade e sinto diabretes à dançar no meu estômago.

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