2 - U be there 4 me?

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Quem irá salvar-me

No meio da noite
Quando a minha dor consumir-me?

Quem irá salvar-me
Quando eu cair?

Quando eu perder tudo
Você será meu apoio?

E o chão tremer sobre os meus pés
E eu cair sobre os meus joelhos
Você estará lá para mim?

Não você nunca esteve lá para mim
E você nunca estará.

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- Kyle - diz Megan, surpresa ao abrir a porta e eu entro, sentando no sofá e apoiando minha cabeça nas mãos estou a ponto de surtar.

Ela se senta ao meu lado esperando pacientemente, ela já me conhece o suficiente e sabe que em momentos como este deve manter-se em silêncio e esperar que eu fale. Megan, é o que tenho mais próximo de melhor amiga. Conheci ela alguns meses depois da morte da minha mãe, quando me rendi ao mundo das drogas e das festas. Assim como eu ela tem lá seus demônios, e não passamos nosso tempo juntas a tentar compartilha-los mas sim a tentar esquece-los. Desde então estamos sempre juntas, e as vezes parece que compartilhamos uma conexão. Eu começava ela terminava, eu pensava ela fazia. Eu tinha mechas azuis no cabelo e ela tinha roxas no seu. Meio gay eu sei, mas não é algo que combinamos de fazer, acontece naturalmente. Unidas ainda mais pela nossa dor.

Finalmente contei a ela da idéia absurda de meu pai, e de como eu teria de aguentar outro humano na minha casa. Ela ouviu tudo, e então teve a mesma reação que eu.
- Nós estamos mesmo fudidas na vida. - ela disse.
- Sim, estamos. - concordei tirando meu cigarro do bolso e acendendo-o.
- Que horas o Mike falou que estaria a nossa espera? - perguntei.
- 23:30 ele disse que já estaria lá. - respondeu.
- Agora são 20:10 ainda. - observei.
- Vamos para o Jess, ele disse para irmos na casa dele hoje. - ela falou.
- Então, diga então para Mike ir pra lá que já nos poupa a viagem. - proferi.
Após Megan ter conversado com o Myke, trocou de roupa. E descemos chamando um táxi.
Chegamos na casa do Jess, e um som estrondoso reverberava pelas paredes á fora. Entramos e lá dentro ja estava nossos companheiros.
Avistei Myke e puxei Megan, indo até ele, assim que este nos viu se levantou e nos abraçou - Kyle, Megan, cada dia mais lindas. - ele disse.
- Para de enrolar Myke - Megan falou.
- Aqui está princesas. - ele disse nos entregando um pacotinho. - Usem com cuidado? - disse ele patético.
Paguei e subi as escadas entrando no banheiro com Megan.

Entrei no banheiro, espero Megan passar fechando a porta atrás de nós. Ela se senta na beirada da banheira e eu no chão, aplico a droga no meu braço seguida de Megan.
Não era como se eu arrastasse ela para isso, ela já estava tão ferrada com tudo quanto eu. Não tinha como eu a trazer de volta para superfície assim como ela não podia me salvar mais. E a verdade? É que não que riamos mais sair disso este era nosso mundo de sair das nossas vidas medíocres e vazias, a droga nos proporciona um tipo de felicidade, não é verdadeira mais é o que serve. Não estamos viciadas - ainda - é apenas um jeito de tentar preencher este imenso nada.
E o fato de não haver salvação para nós, já não nos incomodava a unica certeza da vida que tínhamos era a morte. E indiretamente procurávamos por ela nisso. Afinal, já não víamos mais sentido no viver, a Megan entrou nisso por influência de amigos e eu porquê já não via mais razão para nada mesmo, na minha fútil, após a morte dela. Nos apenas vivíamos dia apos dia esperando o bater das asas do anjo negro que aliviaria de vez nossa mísera vida.

Eram quatro da manhã, eu já me encontrava vagueando sem rumo naquela festa, encosto na parede observando a festa. Myke encosta do meu lado e sorri, visivelmente tão drogado e bêbado quanto eu, se aproxima e me beija, isso sempre aconteceu entre nós, beijos e apenas, não trocamos mensagens ou carícias, ou terminamos o beijo a espera de uma promessa de um amor eterno, ou sentíamos aquele famoso friozinho na barriga quando nós vemos, era algo vazio, sem intenções futuras.
Ele separa nossos lábios e suga minha pele fortemente em vários lugares, dou longos goles na garrafa de Vodka e trago sua boca de volta para minha.
Após um tempo, descido que é hora de ir embora já vendo as luzes invasoras pelas janelas.
Fui até Megan e disse que estava indo, ela respondeu que iria ficar e depois Jess, a levava, assentindo sai.

O ar frio da madrugada se chocou contra mim. Nas ruas a vida começava a se formar para um novo dia, daqui a já um pouco mais um dia iria formar nas casas daquelas pessoas que agora dormem e se preparam para suas rotinas, acordavam cedo e iam para um caixote aonde passariam o dia confinadas ouvindo os resmungos de seus chefes embromantes e então sairiam de lá ao pé da noite voltariam para casa abraçariam suas famílias e se preparariam para mais um dia.
Pelo menos essas pessoas tem família, penso.

Decido ir a pé até aonde aguentasse, comecei a andar pelas ruas e acendi um cigarro enquanto segurava na outra mão uma garrafa de vodka.

Na calada da noite o meu coração dança, ao compasso da brisa que conduz meu respirar, olho para o céu que com todo seu manto escuro, resguarda milhares de segredos dos habitantes do mundo. A lua no seu esplendor olha pra nós, as vezes triste, as vezes feliz, ela muda sua feição constantemente não sendo mesmo muito reticente. Mas triste ou feliz ela continua ali impedindo que as estrelas desabem sobre nossas cabeças, a noite sempre me acolheu, sempre escondeu os meus segredos que poderiam ser facilmente revelados a luz do dia. Exalei o fumo do cigarro e dei um gole na garrafa.

Já havia andado por meia hora, quando me cansei e chamei um táxi. Este chegou rapidamente e me deixou na porta de casa 10 minutos depois. Outra vantagem da madrugada, sem grandes trânsitos. Manhattan é luxuosa e rica então as ruas vivem lotadas de carros.
Grandes Bostas, penso.
Chego na porta do prédio e o porteiro como sempre tenta abrir a porta, mesmo eu, como a grande feminista que sou, lhe dizendo que não é necessário. Ele apenas ri e diz que é seu trabalho.

As portas do apartamento se abrem revelando o hall de casa. Entro e vou até a cozinha pouso a minha garrafa na mesa, e vou até a geladeira atrás de alimento.
Acabo escolhendo um lanche de microondas, quando me viro meu pai esta parado no batente do arco da porta me encarando.
- Me poupe de tentar querer bancar o tipo bom pai que se importa, com coisas do tipo aonde eu estava e a hora que chego. - digo já sentindo as dores de cabeça que me traria uma conversa como esta.
- Kyle... - ele começa, mais eu o interrompo. - Não, nem se atreva a querer fazer isto, eu sei que pouco se importa pra mim, e que só vai agir assim para limpar sua consciência, então não faça isso. Já não basta o que me fizeste colocar um estranho a morar comigo. Não tem cabimento. - digo irritada.
- Ash é um bom menino, não preciso dizer lhe isso, irás o ver por si própria... Está na hora de voltar a viver minha filha, você não pode se isolar para sempre. - ele termina cometendo um ou melhor O grande erro.
Pego a garrafa da mesa e arremesso-a na parede ao lado da porta. - Sua filha? Mais que grande petulância a sua, eu não sou sua filha, a sua filha - digo apontando o dedo na sua cara. - Morreu no dia que a minha mãe morreu, Não pois eu me enganei, a sua filha morreu no dia que você decidiu comer qualquer vagabunda do seu escritório. A sua filha foi morrendo aos poucos vendo a vida de sua mãe se degenerando, por sua culpa. - grito. - E você nem sequer estava lá. Não segurou a mão dela, ou lhe deu apoio e carinho, ou lhe disse que ia ficar tudo bem, mesmo sabendo que não Ia. Então me desculpe você não tem filha. NÃO TENTE DAR UMA DE PAI PRESENTE, PORQUE VOCÊ NUNCA FOI E NUNCA VAI SER. - disse aos berros.
Sai de lá deixando o babaca chocado com as minhas palavras.
O Projeto está na sala com uma cara totalmente estupefata pelas minhas palavras.

- Que que é você também porra. - Grito olhando pra ele.

- Isso foi mal. - ele diz entortando a boca para enfatizar as palavras.

- Vai se fuder, Caralho. - digo e subo as escadas, entro no meu quarto e bato com força a porta, trancando-a em seguida.
Como ele ousa me chamar de filha, ele não é meu pai, ele não me ama, ele nunca me quis e não foi capaz nem de fingir amor a sua família quando mais precisávamos dele, aonde ele estava nessa hora?
Comendo alguma puta, ironizo.
Eu não sei se caso ele tivesse se mostrado mais presente, teria mudado algo, mais a minha mãe o amava tanto que poderia ter morrido um pouco menos infeliz por ter o amor da vida dela ao seu lado, ela amava-o tanto, e mesmo ele sendo imerecido desse amor ela prosseguiu o amando até seu último suspiro.
Eu tenho tanto medo de ser igual a ela, capaz de morrer por um sentimento que não existe de verdade, pois ninguém nunca vai ser capaz de amar verdadeiramente. O mundo é feito de pessoas vazias, com vidas vazias, e almas vazias.
Vou até o meu banheiro pegando na ultima gaveta uma lâmina.
Me sento na beirada da banheira fazendo alguns cortes.

Observo o sangue que escorre pelo meu pulso, tão vermelho e vivo, faz um contraste perfeito com sua portadora que tão pálida e fria, espera apenas a morgue da vida.


Save Me | Ashton IrwinOnde histórias criam vida. Descubra agora