Capítulo 15

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" O amor acaba Rose, o meu acabou"

Não, isso não pode ser real!
Aquilo não era verdade, Dimitri me ama, isso não faz o menor sentido. Isso...
Abri meus olhos de forma repentina, desesperada para sair daquele pesadelo horrível, sentindo uma claridade ofensiva atingir meus olhos, me obrigando a fechá-los, apertando as têmporas com o polegar e o indicador, então na sequência vozes e mais vozes, me forçando a colocar a mão contra os ouvidos.
- Ah meu Deus! - Falei em desespero, tateando as cegas por causa da maldita claridade e então vários pares de mãos me seguraram os braços.
- Senhora Hathaway está tudo bem, se acalme, por favor! Chamem a Doutora Hetzel imediatamente, na ala de recuperação! -Gritou uma voz feminina que eu não reconheci. - Senhorita Hathaway Mazur tente me ouvir e se acalmar, por favor!
Abri minha imensidão azul que compunha minhas órbitas, quando meu lado Moroi entrava em ação e então alguns objetos do quarto simplesmente começaram a levitar e chocarem-se pelas paredes, eu estava fora de controle.
- Rosemarie Hathaway Mazur, pare com isso imediatamente! -Gritou uma voz extremamente familiar e última que eu imaginava ouvir, pelo menos por um bom tempo.
Tudo dentro de mim se esvaiu, mas não por controle e sim por desgosto.
- Mamãe? -Falei encarando Janine Hathaway, sem acreditar que ela tivesse tido a coragem de aparecer na minha frente de novo, mas ao que parecia ela realmente estava ali. - O que... O que você está fazendo aqui exatamente?
- É, ficou mesmo feliz em me ver. -Ironizou ela dando de ombros, com a expressão séria. O que não me intimidou em nada, caso esse fosse o objetivo dela em estar ali. -Não que eu estivesse esperando uma festa de recepção, mas ainda sou sua mãe e mereço um pouco de respeito por isso.
- Devia ter pensado nisso quando me chamou de puta na frente do meu namorado e ter me agredido grávida também. O que, caso não saiba, foi pior ainda. Então o que você merece ou não, é discutível. -Falei com rispidez e raiva em cada uma de minhas palavras.
- Passei na ala da maternidade mais cedo antes de vir pra cá ver você, as gêmeas são uma mistura muito encantadora entre o Belikov e...- Janine começou a falar, mas logo a interrompi.
- Não faça isso Guardiã Hathaway ou não me responsabilizo pela minha reação, você não têm esse direito depois do que fez comigo, depois que as rejeitou tão friamente por razão nenhuma, e ainda cheguei a pensar que o meu pai fosse surtar, não você que sempre se vangloriou do controle. Por não confiar em mim e julgar sem saber o que estava acontecendo, como sempre fez. -Falei erguendo a mão pra cima, em seguida baixando a mesma de punho fechado ao lado do corpo. -Não se atreva a falar delas de novo, nunca. E nunca mais chegue perto delas de novo também e isso não é um pedido.
Meu Deus! Ela era hipócrita demais e isso realmente tirava do mundo de mim, o pior.
Uma segunda figura entrou no quarto, me encarando com uma expressão de culpa nos olhos azuis acinzentados, mas toda a minha raiva já estava concentrada numa pessoa, e me estressar com duas seria desgastante demais, então não senti vontade de puni-lo também.
- Culpa minha dessa vez, eu liguei pra ela assim que soube do acidente de carro. Desculpa se não foi a melhor coisa a ser feita, eu não sabia mais pra quem ligar. - Disse Adrian erguendo a mão e depois enfiando ambas nos bolsos da calça. -Como se sente, Dhampirinha?
Revirei os olhos, por ser chamada pelo meu velho apelido da época de Academia e então uma onda de pânico me atingiu.
Duas vezes.
- Adrian Ivashkov, cadê as minhas filhas? -Perguntei entrando em desespero, arrancando os fios de meu corpo rapidamente e levantando meio cambaleante pelos remédios para dor, grudando na camisa dele com força. - E onde está o Dimitri? Responde!
- Estão seguras, na ala da Maternidade acima de nós. Seu pai e as Guardiãs Alberta Zeklos e Rebekah Belikova, estão lá com elas desde que trouxemos vocês pra cá. E o Belikov... - Bem, ele ainda não acordou desde que chegou. - Disse a Doutora Hetzel entrando no quarto. - E você deveria estar na cama em repouso e não ameaçando um membro da realeza. Poderia fazer a gentileza de soltá-lo e voltar pra cama?
- Com todo o respeito que obviamente eu não tenho por hospitais, realmente não ligo para o que acha que devo ou não fazer com a minha vida nesse momento, eu quero ver o meu namorado. Agora. -Exigi soltando Adrian e a encarando de forma desafiadora.
- Tudo bem Guardiã Hathaway, me acompanhe até a outra sala de recuperação, por favor. - Cedeu ela ainda meio relutante, gesticulando para a saída do quarto e assim o fiz.
Enquanto caminhava lentamente pelos corredores melancólicos do hospital, o desespero tomava conta de meu corpo por uma razão que eu não conseguia entender, mas isso não anulava o fato de que estava lá em algum lugar dentro de mim, tentando me alertar.
A questão toda a ser analisada naquele momento era o motivo, sobre o que os meus instintos iriam querer me avisar? E porquê?
Parei na frente da janela do quarto que me fora apontado, encarando o ambiente lá dentro rapidamente e meu Camarada, deitado de olhos fechados numa expressão não exatamente tranquila, mas teoricamente normal para alguém como ele, se não fosse a situação, eu poderia dizer que ele estava dormindo.
- Ah meu Deus! Ele por acaso está em coma ou coisa parecida? -Perguntei sem tirar os olhos da janela e do rosto dele.
- Não. Achávamos inicialmente que fosse consequência das lesões de quando o carro de vocês capotou, provocando concussão pela perda momentânea dos sentidos, mas... -A Doutora Hetzel me encarou de uma forma que me deixou incomodada.
- O que foi agora? Porque está me olhando assim exatamente? -Questionei, franzindo as sobrancelhas de forma hostil ao encará-la de volta, na esperança que ela notasse meu incômodo, ao que parecia não estava funcionando da forma esperada. -Porque está me olhando assim, Doutora Hetzel?
A Doutora pareceu voltar do mundo da lua, no segundo que considerei lhe dar um tapa ou um soco no nariz, ajeitou os óculos de armação azul que eram grandes demais, para a simetria de seu rosto fino e voltou a encarar Dimitri como eu fazia, como se o estivesse estudando.
- Tiveram contato com algum declarante do Espírito durante o acidente, que não foi mencionado nos arquivos por algum motivo? -Questionou ela, finalmente voltando os olhos para mim.
- Não, estávamos só nós dois naquele carro, correndo de uma psicopata maluca, que a propósito ainda está por aí em algum lugar, só esperando o momento de atacar... Porque? -Era a minha vez de ficar desconfiada da situação.
A Doutora me entregou uma ficha de exames, com o nome de Dimitri bem grande na frente ao lado do emblema do hospital, abri a mesma analisando as folhas rapidamente, mesmo que não estivesse entendendo nenhum dos termos médicos, que foram colocados naquelas páginas.
- Dá pra você me explicar o que está acontecendo com o meu namorado, sem toda essa enrolação, por favor? -Exigi fechando a pasta com agressividade, por estar cansada de bancar a garota civilizada, voltando a encará-la com rispidez. - E fique feliz pelo "por favor" ter sido usado, meu humor não está lá dos melhores agora.
Provavelmente se eu tivesse que fazer aquilo por muito mais tempo, certamente iria acabar perdendo a paciência que me restava, e então socaria o maldito nariz empinado dela.
- Os Guardiões me mandaram o relatório do acidente de vocês à algumas horas, definitivamente não tinha como o Senhor Belikov estar vivo agora, se sofreu as lesões descritas. Segundo os registros que recebi, o volante praticamente esmagou a caixa torácica dele, que por sua vez comprimiu os pulmões, bloqueando o ar imediatamente. Seu namorado estava praticamente morto quando o tirou do carro, depois que capotaram... O que nos leva a pergunta mais importante do caso. Se não havia nenhum declarante do Espírito com vocês, no momento do acidente, quem o trouxe de volta da beira da morte? É, eu conheço o que o Espírito é capaz de fazer com quem o possui, Rose.
Pensei um pouco nas possibilidades que tinha naquele momento, diante da situação e na pior delas eles tentariam me fazer de ratinho de laboratório, mas aí eu teria matado todos, antes que tivessem a chance de se aproximarem de mim, então de qualquer jeito eu estava com a vantagem. Por mim tudo bem.
- Fui eu que fiz isso, eu.... Eu trouxe Dimitri da porta da morte de volta... Tenho sangue Moroi também, graças a um acontecimento bizarro e por alguma razão isso me deu algumas... Habilidades. -Falei, sentindo-me um tanto desconfortável com o assunto.
- Você é mais que uma "Beijada Pelas Sombras" agora, Rose. Antes eu não tinha exatamente certeza do que estava acontecendo, até ser encaminhada para o seu caso de gravidez incomum, visto que uma Dhampira não pode ter filhos com outro Dhampir, a mutação no seu DNA era parte do enigma... E agora isso, é só uma questão de juntar as peças. -Disse a médica piscando para mim, como demostração de cumplicidade ou coisa do gênero. - E não se preocupe, não vou contar a ninguém e também não permitirei que lhe façam de ratinho de laboratório.
Travei.
- Espera aí só um segundo. Como você sabe sobre isso tudo exatamente? -Questionei a encarando com desconfiança.
- Seu disso tudo, porque sua antiga professora na Academia São Vladimir, a Sônia Karp era minha mãe, por isso sei praticamente tudo sobre você, sobre a Rainha Dragomir e sobre o Príncipe Adrian Ivashkov também... -Disse ela, dando de ombros como se aquilo não fosse nada de mais, o que para mim não era exatamente o caso. - Mas, na época ela e meu pai não se davam muito bem, e ela não queria assumir as responsabilidades da maternidade, porque amava seu trabalho de professora. E então anos depois de estar morando no Canadá, soube que ela também era declarante do Espírito e como não sabia como controlar, virou... Bem você sabe essa parte, já que a matou e não julgo você por isso, foi melhor assim.
Virei de costas para a janela pela primeira vez, desde que havia entrado naquele corredor e encostei a cabeça no vidro gelado, a encarando com a testa franzida de confusão total, com relação ao que estava acontecendo.
- Têm mais alguma coisa que eu preciso saber a respeito disso tudo? -Perguntei, mesmo com a possibilidade de me arrepender.
- "Anna Beijada pelas Sombras" -Disse ela revirando os olhos, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- A esposa do São Vladimir? Estudei sobre ela uma vez, quando descobri os poderes da nossa atual Majestade, Anna puxava a Escuridão do corpo de Vladimir, para evitar que ele ficasse maluco ou pior ainda. Durante algum tempo, fiz isso algumas vezes com a Lissa também... Então, está dizendo que eu tenho uma escuridão também e que Dimtri deitado bem ali, agora é um "Beijado pelas Sombras " agora?
- Bem, você o salvou da morte, Rose. - Disse ela dando de ombros e então me encarando, com um bilho estranho nos olhos.
- O que foi, Doutora Hetzel? Porque fica lançando esses olhares bizarros pra mim? - Perguntei, pronta para entrar em pânico novamente.
A Doutora abriu a porta, entrando no quarto de Dimitri e sem saber o que estava acontecendo para ela estar agindo daquela forma, simplesmente a segui.
- O que estamos fazendo aqui? -Perguntei franzindo a testa ao encará-la.
- Você não é só Moroi agora Rose, como também provavelmente controla todos os outros cinco elementos ou mais que isso. -Disse ela com um sorriso esperançoso.
Me aproximei de Dimitri acariciando seus cabelos agora curtos, segurando minhas lágrimas ao máximo. Era difícil explicar o que eu estava sentindo naquele momento, difícil explicar o que eu sentia todos os momentos que estávamos juntos.
- Por favor Dimitri, volta pra mim! -Pedi fechando meus olhos quando ativei minha parte Moroi e toquei o peito dele.
Senti a mesma energia de antes me atingir, fluindo para fora de mim e tomando forma sobre Dimitri. Pude entender o que havia de errado e então funcionou.
- Onde... Onde estou? -Perguntou Dimitri com a voz fraca, porém completamente vincada de confusão.
- Está seguro meu amor, vamos ficar bem. Vai ficar tudo bem. -Falei sorrindo ao juntar nossos lábios, mas estranhei o fato dele não corresponder. - Dimitri? Algo errado, querido?
- Quem é você? -Perguntou ele, franzindo a testa ainda mais ao me encarar.
- Qual é Dimitri, sou eu. Rose Hathaway Mazur, sua namorada a 2 anos. Mãe das gêmeas. Nossas filhas. Não pode estar falando sério. -Falei, com um sorriso preocupado. Havia alguma coisa errada.
- Eu não faço ideia do que está falando Guardiã, desculpe. -Disse ele, ainda me encarando como se eu fosse louca.
- Ah meu Deus! -Exclamou a Doutora Hetzel em minhas costas.
- O que seria "Ah meu Deus" exatamente? -Perguntei entrando em pânico total, porque já sabia a resposta.
- O Senhor Belikov perdeu a memória. -Respondeu ela, me encarando com desânimo.
E novamente, o destino estava sendo o maior sacana do universo comigo naquele ano. Perda de memória, sério isso? Honestamente, doía bem menos quando o destino estava empenhado em torturar fisicamente apenas a mim. Mas isso? Aí já é demais,por outro lado eu não era o tipo de garota que desistia fácil das coisas.
O destino queria brincar? Tudo bem, eu mostraria as regras da brincadeira.

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