Justiça Sangrenta Parte: 1

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Olhei pro teto, e senti um certo arrepio cruzando minha espinha bem lentamente. Aqueles olhos manhosos num tom verde esmaecido pareciam poder ver todo o conteúdo da minha alma.

Desviei o rosto, mas de relance podia acompanhar a menininha que se movia de modo afetado no teto branco de meu quarto abafado.

Aquilo era loucura, ninguém pode engatinhar no teto sobre minha cabeça, sem sofrer os efeitos da gravidade. Mas aquela menina, com o rosto deformado e a roupa puída e suja podia.

Ela caminhava pelo teto com leveza e um arrastar de pés insuportável. Apenas a face daquela criatura poderia despertar o grito mais profundo do mais corajoso entre nós.

Uma lagrima começou a escorrer do canto de meus olhos. Estava frio. Frio como naquele dia. Frio como o cadáver que jazia debaixo dos pneus de meu carro importado.

O sangue escorria vagarosamente pra valeta, enquanto gritavam desesperadamente o nome dela... Não! Preciso parar de pensar nisso.

Fechei os olhos tentando escurecer todo o meu sofrimento e as imagens que me invadiam.

Eu não queria ter feito aquilo. Eu sequer imaginava uma cena daquelas na minha vida.

Quantas vezes já havia dirigido alcoolizado, e nunca sequer havia matado um cachorro que fosse.

Mas porque meu Deus aquela noite tinha que ser diferente? A menina atravessando fora da faixa pra pegar a bola que quicava no meio da rua.

O velocímetro marcando 80 km/h, numa ruazinha estreita da periferia da cidade.

O baque forte, o guincho dos pneus no asfalto rasgando a noite.

Meus reflexos lentos, me debatia entre o airbag. A cabeça confusa tentava entender a merda que havia feito.

Minutos foram transcorrendo, os quais quase não me recordo de nada.

Só me lembro de alguém tentando me tirar das ferragens a dor lancinante nas pernas.

A sirene da ambulância ressoando longe como num sonho.

Sangue, muito sangue, como num rastro macabro que levava a pobrezinha sob toneladas de ferro.

CONTINUA....

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